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Lata velha pode ser novidade em 2022

Coluna semanal do analista Márcio de Freitas comenta os temas mais debatidos entre os poderes em Brasília

Luciano Huck (Sandra Blaser/WEF/Flickr)

Luciano Huck (Sandra Blaser/WEF/Flickr)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 30 de setembro de 2020 às 17h18.

Última atualização em 30 de setembro de 2020 às 17h24.

O apresentador Luciano Huck palestrou para um grupo heterogêneo de políticos veteranos, ex-parlamentares e empresários. “Eu estou aqui”, disse ele, na semana passada, sobre sua disposição em ser candidato presidencial em 2022. A frase e seu autor são menos importantes hoje do que quem se dispôs a ouvi-la.

Na plateia estavam personagens que já andaram pelo Congresso Nacional dando nós em perdigotos de adversários. Foram ouvir, interpretar, tatear, predizer um futuro caminho político do Brasil. Hoje, são cartas de um baralho sem aposta nenhuma, e menos ainda o senso cartomante de adivinhação. Mas, como em política um bom blefe já venceu muitas eleições, é bom observar o movimento de pessoas discretas e silenciosas com longa história de participação em governos brasileiros.

Os matizes ideológicos são variados no grupo, de liberais e socialistas, mas dispensam rótulos. São mais de 100 pessoas que se falam por vezes em assembleias menores, e estão próximos o bastante para sinalizar uma reunião inusitada e impensável na história relativamente recente. Representam todas as regiões do país e ao menos 12 estados, com acesso a dirigentes partidários, capacidade de decisão e de influência. Alguns deles já se enfrentaram em campos opostos nos anos do regime militar. Vários estiveram nos comícios pelas Diretas, outros empurraram seus cabos eleitorais para apoiar Collor contra a onda vermelha de Lula em 1989. E assim foi por anos. Hoje, votam pela convivência na divergência.

Após décadas, a relação democrática os ensinou o valor do diálogo e da tolerância. Há neles uma soma de experiências distintas, muitas visões de mundo e capacidade de mobilização de diferentes setores sociais. Podem formular em alto nível, têm conhecimento dos caminhos legais e da rotina do poder para fazer a coisa andar.

Em sua vasta maioria são órfãos da elite aristocrática nacional alijada do poder há anos e feridos pela falência dos grandes partidos tradicionais pós-redemocratização. Quase todos são um tanto quanto analógicos. E muito distantes do fenômeno digital que representa o presidente Jair Bolsonaro, união de carisma popular com uso intenso de redes sociais e que, hoje, encabeça isolado o espectro de lideranças políticas no cenário brasileiro.

Na busca de um personagem capaz de representar uma alternativa, esse grupo idealizou a conversa com Huck, o personagem conectado com versão atualizada para encarnar um projeto de renovação política de substância centrista. Eles querem alguém que tenha identificação popular, carisma, articulação e boa comunicação. Seria Huck a face nova que revestiria a capacidade de formulação dos veteranos da política. Uma espécie de candidato de proveta, se a experiência for bem-sucedida.

Esse grupo pensa em criar uma confederação de partidos que se uniria para a disputa de 2022. Hoje não há, como no passado, grandes legendas hegemônicas como foram PMDB e PFL. Logo, a capacidade de dialogar sobre uma plataforma política é o desejo primeiro desse agrupamento, até para já garantir alguma governabilidade. Essa confederação seria o mecanismo para organizar essa frente, até porque há barreiras na próxima eleição nacional para coligações nas disputas pelas vagas proporcionais (deputados) e seria um motivo a mais para atrair as legendas.

Além disso, a confederação iria trazer gente já pronta para ocupar postos futuros em eventual ministério, claro, se Bolsonaro ou o destino não melar a cartada da turma. No grupo, há gente como o ex-Posto Ipiranga dos tucanos, Armínio Fraga, um dos melhores economistas do país e incentivador de debates sobre o país em think tanks para inovação.

No passado, Fernando Henrique construiu uma frente de partidos que hoje inexiste em tamanho e capacidade de articulação. Vários dos que estiveram naquela empreitada estão se mexendo novamente, depois de longa abstinência. Outros passaram pelo petismo, trazendo hoje um amargor de decepção com o lulismo.

Huck marcou um gol com essa turma ao mostrar afinidade com a área da educação, setor em que já atua como benemérito e patrocinador de iniciativas de ponta para melhorar o ensino no país. Mostrou disposição para ouvir. Outro ponto. Mostrou cultura. Três a zero. Faltou o senso prático de como fazer a coisa andar. A turma que estava ouvindo sabe como fazer isso. Na hora certa, podem botar as cartas na mesa.

O apresentador global é a esperança de se repaginarem dessas "latas velhas" da política que querem rodar mais alguns quilômetros na história do país.

*Analista Político da FSB

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