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Iona Szkurnik: será que o diploma universitário é mesmo necessário?

Os diplomas têm perdido importância frente aos microcertificados e principalmente aos resultados apresentados por esses novos profissionais

É preciso mostrar soluções de desenvolvimento de habilidades rápidas e ágeis, navegando entre socioemocional e analítico (Chad Baker/Jason Reed/Ryan McVay/Thinkstock)

É preciso mostrar soluções de desenvolvimento de habilidades rápidas e ágeis, navegando entre socioemocional e analítico (Chad Baker/Jason Reed/Ryan McVay/Thinkstock)

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Publicado em 3 de dezembro de 2021 às 13h54.

Última atualização em 3 de dezembro de 2021 às 14h08.

Por Iona Szkurnik*

Para uns, trata-se do caminho lógico a seguir, o desfecho esperado após anos de investimento em escolas de elite. Mas, para outros, é um sonho conquistado à custa de sacrifícios, muitas vezes com endividamento e pouca valorização. Seja como for, ter um diploma universitário é encarado como a melhor ou até a única oportunidade de uma carreira bem-sucedida. Será que isso continua válido? E será que no futuro ainda vai ser assim?

Nas últimas décadas, é inquestionável a velocidade com que o mundo vem passando por transformações. Uma série de inovações mudaram, e continuam mudando, a forma como consumimos, nos relacionamos e trabalhamos. Como consequência, as habilidades que necessitamos dominar nos tempos atuais não são as mesmas do passado. Aquilo que costumávamos aprender — e da forma como costumávamos aprender — já não nos prepara para um mercado de trabalho em constante evolução. Isso é fato.

Não por acaso, vemos cada vez mais escolas investirem em tecnologia, reverem suas metodologias e adequarem seus currículos para dar protagonismo ao estudante e proporcionar uma formação mais completa. As edtechs também ganham cada vez mais relevância no mercado, por trazerem soluções capazes de engajar o maior número possível de alunos com um aprendizado conectado com as demandas do século 21, ou seja, a tão sonhada equação de acesso, qualidade, e relevância.

E as universidades? Por sua própria natureza, com estruturas rígidas e sujeitas a regulamentação, elas se movem com mais lentidão nesse cenário. Mudar o currículo de um curso de graduação é um processo demorado e que muitas vezes enfrenta resistências. Se no passado muitas já pecavam por focar excessivamente na teoria, abrindo pouco espaço para a prática, na atualidade essa característica fica ainda mais evidente. O resultado é que, em muitos casos, elas correm o risco de se tornarem obsoletas. Quem aqui lembra de aprender algo que nunca mais usou fora da sala de aula?

Mas não entenda mal: eu sei apreciar o valor de uma boa universidade. Minhas passagens por Stanford e pela Sorbonne me trouxeram aprendizados incalculáveis tanto de agilidade acadêmica e intelectual quanto social e profissional. No entanto, também entendo que são poucas as instituições capazes de oferecer vivências tão ricas como essas. Em muitos casos, o sonho de entrar numa faculdade logo se transforma em decepção. São muitos os jovens que enfrentam dificuldades para conectar o que aprendem com as demandas do mundo real. Além disso, o alto investimento de tempo e dinheiro exigido por um curso superior só deixa a equação mais desafiadora.

Muitos desistem — segundo o Censo da Educação Superior de 2019, apenas 40% dos alunos que iniciaram um curso de graduação em 2010 o tinham concluído em 2019. E mesmo o êxito dessa minoria não garante necessariamente uma boa colocação no mercado: são muitos os casos de profissionais com curso superior que acabam tendo que aceitar empregos em outras áreas para fazer frente aos gastos familiares (financiamento estudantil incluído). A culpa, claro, não é inteiramente da formação que recebem — as sucessivas crises econômicas e o chamado Custo Brasil também têm um papel importante nesse cenário.

O mais cruel, porém, é que ao mesmo tempo que profissionais com ensino superior penam para conseguir um emprego, muitas empresas sofrem para preencher vagas qualificadas, especialmente na área de tecnologia. Para fazer frente a essa realidade, a solução mais imediata são os cursos de curta ou média duração com foco específico na formação de algumas das carreiras, como é o caso dos programadores. São cada vez mais populares os cursos online de habilidades específicas, incluindo aqui os de soft skills, que são bastante procurados para o desenvolvimento contínuo de quem já está na força de trabalho e quer se atualizar, se destacar, e não ficar para trás da rápida transformação do mundo de hoje.

Assim, embora um título universitário ainda tenha valor — especialmente por alguma “universidade-grife” —, ele já não é mais visto como imprescindível por muitos recrutadores. Aqui no Vale do Silício, muitas das melhores empresas para se trabalhar mantêm as portas bem abertas para profissionais que nunca passaram pelas salas de uma faculdade.

No Brasil, esse movimento também começa a se fazer presente. Os diplomas têm perdido importância frente aos microcertificados e principalmente aos resultados apresentados por esses novos profissionais. Pouco a pouco, eles têm mostrado que o monopólio da formação para os trabalhos qualificados já não está mais com as universidades, e sim com as soluções de desenvolvimento de habilidades do profissional rápido e ágil, que navega tão bem entre o socioemocional quanto no analítico.

 

*Iona Szkurnik é fundadora da Education Journey, plataforma focada em desenvolver o ecossistema de inovação na educação, e cofundadora e membro do conselho da Brazil at Silicon Valley.

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.

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