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Investir em seus pontos fortes pode ser o caminho para a felicidade

Aqueles que conseguem focar em seus pontos fortes na empresa têm seis vezes mais chance de se comprometer com seu próprio trabalho

Para cargos de liderança, o autoconhecimento é fundamental (Thinkstock/Jacob Wackerhausen/Reprodução)

Para cargos de liderança, o autoconhecimento é fundamental (Thinkstock/Jacob Wackerhausen/Reprodução)

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Publicado em 1 de agosto de 2022 às 19h00.

Última atualização em 1 de agosto de 2022 às 19h43.

Por Carolina Ottoboni*

Não lembro ao certo a idade que tínhamos quando minha irmã e eu começamos a nos presentear em nossos aniversários, mas lembro muito bem que desde sempre sua criatividade saltava aos olhos. Seus presentes eram criativos (determinado ano, ela gravou um CD com uma coletânea de músicas com meu nome, Carolina) e a originalidade dos cartões sempre me emocionava. Desde então, esse talento natural virou sua marca registrada na família. Muito se fala sobre talento. Todos nós temos talentos naturais, mas, na verdade, o que é isso? Comecei a pensar sobre o que havia em comum nas pessoas que sentem realização e satisfação, foi quando tive acesso ao livro Descubra seus pontos fortes 2.0, do Instituto Gallup, e nele encontrei a seguinte referência:

[...] estudos indicam que aqueles que contam com a oportunidade de se concentrar em seus pontos fortes todos os dias têm a probabilidade seis vezes maior de se comprometer com o próprio trabalho e três vezes maior de afirmar que, de modo geral, desfrutam de uma excelente qualidade de vida [...] E as pesquisas do Gallup demonstram como uma abordagem baseada em pontos fortes aumenta sua confiança, seu direcionamento, sua esperança e sua gentileza em relação a outras pessoas.

Achei sensacional e me identifiquei bastante com o estudo. Lembrei que a partir do momento em que investi no meu autoconhecimento, fiz boas escolhas profissionais que me levaram a encontrar projetos e empresas nos quais pude usar minhas habilidades e competências fortes para chegar na tal da realização.

Iniciei a vida profissional como advogada e, seis anos depois, fiz minha primeira transição de carreira: passei a recrutar advogados em uma consultoria de recrutamento e seleção especializada no mercado jurídico.

Esse movimento não foi planejado, pois, na época, eu ainda não tinha clareza de meus pontos fortes e sou eternamente grata pelas pessoas que cruzaram meu caminho. Foi em uma entrevista para uma vaga jurídica que a headhunter ampliou minha visão sobre mim mesma e me provocou a reflexão sobre uma possível mudança de carreira para atuar na própria consultoria, não mais como advogada, mas como headhunter. Meses depois, tornamo-nos pares.

Desde então, atuei em outra consultoria e fiz outras mudanças, como atuação no mercado financeiro e recrutamento de posições mais seniores, e o sentimento de satisfação permaneceu. Ao entender mais sobre a atividade e buscar me conhecer melhor com a ajuda de profissionais e ferramentas, tive a certeza de que tinha me encontrado, percebi que eu era boa em conectar pessoas e oportunidades, o que não é só preencher os requisitos técnicos da vaga, e sim fazer o match entre o perfil do profissional e a cultura da empresa.

Anos depois, surgiu um novo convite e percebi que meus pontos fortes seriam muito utilizados em uma startup, além de ser o ambiente perfeito para testar e desenvolver outras competências, pois nunca tinha participado da construção de algo do zero. Os últimos anos foram intensos como um furacão costuma ser, também houve desconstrução e ressignificação do que eu entendia como pontos fortes. Atualmente, apoio-me na abordagem deles para proporcionar um ambiente corporativo fértil para o desenvolvimento humano e me sinto privilegiada por participar da evolução de outras pessoas.

Uso aqui o meu exemplo, mas podemos aplicar essa abordagem para as empresas também. O talento pode nascer forte com a gente ou podemos cultivá-lo. Acredito no desenvolvimento humano e no autoconhecimento como o início da jornada. Podemos identificar, explorar e aprender mais sobre nossos pontos fortes para potencializá-los e usá-los como vantagem. Quando desempenhamos atividades que nos iluminam e desenvolvem ainda mais, há uma probabilidade muito grande de nos sentirmos realizados e satisfeitos.

Muitas pessoas passam a vida sem perceber suas características mais intensas e sem explorar seu potencial, o que pode levá-las a atuar em atividades que não geram satisfação. Quanto mais cedo refletirmos sobre nossos pontos fortes, mais certeiros poderemos ser em nossas escolhas, assim como minha irmã que, muito cedo, descobriu sua criatividade e, contando com apoio de outras pessoas para cultivar esse talento bruto, escolheu cursar Publicidade e Propaganda. Hoje, ela explora sua competência mais intensa em diversos campos da comunicação.

A jornada de autoconhecimento envolvida no processo para identificar nossos próprios talentos pode soar fácil ou mesmo prática, quando, na verdade, é, por vezes, até mesmo dolorida. Isso porque precisamos estar dispostos a ir fundo na nossa própria história e ouvir feedbacks que podem nos parecer frustrantes em um primeiro momento, mas são capazes de nos ajudar a corrigir as rotas de nossas escolhas.

Em uma empresa, por exemplo, receber consultorias externas que apontam falhas em processos e pontos de atenção para melhorias é desafiador. Mas é justamente por não fazer parte daquela cultura organizacional e ter um olhar exterior que se torna possível uma avaliação crítica e, realmente, construtiva.

Assim, a jornada do autoconhecimento é individual, mas não solitária. Envolve reflexão, escuta ativa, resiliência diante das frustrações, uma rede de gestores e líderes sensíveis ao tema e capazes de contribuir no desenvolvimento de competências profissionais dos liderados, disposição para se aprimorar e mesmo maturidade para reconhecer e aceitar que você não é excepcional em tudo, mas pode vir a ser em determinada atividade se investir tempo e energia à pratica e ao desenvolvimento dos seus maiores talentos.

Como profissionais em cargos de liderança, é fundamental nos aventurarmos em nossa própria jornada de autoconhecimento, começando de dentro para fora, para, então, conseguirmos melhorar o contexto em que lideramos . Só assim é possível formar novos líderes capazes de atender às demandas do mercado no que concerne as competências técnicas, mas igualmente importante nas competências humanas. Nossa responsabilidade é a de formar uma geração de novos líderes capazes de liderar em direção aos resultados duradouros que a empresa e os colaboradores precisam, sem esquecer a dimensão humana do trabalho no caminho. Espero estar nesse caminho, e você? Já descobriu seus pontos fortes ou ajudou alguém a perceber os dela?

*Carolina Ottoboni é CPO (Chief People Officer) da Vórtx

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