Gestão Sustentável: estamos diante do pós-ESG?
Esta semana, Danilo Maeda fala sobre o principal objetivo das estratégias ESG e o futuro da sustentabilidade corporativa
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 9 de janeiro de 2024 às 17h12.
Dada sua relevância financeira e cultural para o mundo, os acontecimentos nos EUA refletem em todo o planeta. Por isso, é comum que mercados em desenvolvimento, como o nosso, olhem para movimentos e debates da maior economia do mundo para tentar antecipar tendências que possam ser relevantes também localmente.
É o caso da inflacionada conversa sobre uso da sigla ESG e de suas ferramentas de análise e gestão de negócios, bem como das críticas e dúvidas sobre seu verdadeiro potencial como alavanca de criação de valor ou de gestão de riscos.
Já tratamos do tema em outros momentos,mas sempre vale lembrar que desde sua origem a agenda ESG se propõe exatamente a mitigar riscos que em primeiro momento seriam classificados como não financeiros, mas que podem impactar os negócios no médio ou longo prazo.
O acrônimo surgiu no começo dos anos 2000 como forma desistematizar e simplificara comunicação sobre a conexão entre resultados de longo prazo e boas práticas ambientais, sociais e de governança, descrita pelo famoso relatório Who Cares Wins, do Banco Mundial e Pacto Global das Nações Unidas.
Em outras palavras, práticas ESG bem estruturadas buscamtrazer o futuro para o tempo presente.Desafio similar ao que se pretende fazer via Agenda 2030, com os objetivos de desenvolvimento sustentável. Claro que em uma ótica mais restrita, que se volta à organização e seu entorno (no primeiro caso) ao invés de todo o planeta (no caso dos ODS). Ainda assim, o Wall Street Journal reportou esta semana que empresas nos EUA têm evitado o uso da sigla ESG como forma de se proteger de críticas, que apresentam a agenda como uma distração, um empecilho para o real objetivo dos negócios – argumento contraditório com os fundamentos apresentados acima, mas que pode ser real a depender da qualidade da execução.
E este é, a meu ver, o ponto chave da discussão. O potencial de criação e proteção de valor que as práticas de sustentabilidade corporativa podem trazer está diretamente ligado ao cuidado em seu planejamento, conexão com a estratégia de negócio e diligência na execução.
Promessas e compromissos oportunistas e feitos sem a devida reflexão sobre capacidade de execução serão motivo de cobranças públicas. Investimento em ações e temas que não se relacionam com os principais impactos do negócio tendem a gerar dispersão e ineficiência. Estratégias de sustentabilidade desenvolvidas sem engajamento de stakeholders geram ruídos e obrigam refações. Métricas estabelecidas sem a devida reflexão sobre o resultado que se pretende medir podem direcionar comportamentos no sentido errado.
Por outro lado, quando abraçamos a complexidade dos sistemas em que as organizações estão inseridas e nos engajamos com partes interessadas para identificar as principais alavancas de impacto, riscos e oportunidades do negócio temos a chance de conectar profundamente a ideia de sustentabilidade com a empresa e seu entorno.
Essa é a premissa para criação de valor compartilhado no médio e longo prazos. As ferramentas de implementação podem receber diversos nomes e metodologias: ESG, sustentabilidade corporativa, negócios responsáveis, capitalismo consciente, etc.
Cada caminho tem suas vantagens, desvantagens e características próprias. Mas o valor da agenda se mantém, apesar do barulho contrário e das más interpretações.
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