“O acrônimo ESG surgiu no começo dos anos 2000 como forma de sistematizar e simplificar a comunicação sobre a conexão entre resultados de longo prazo e boas práticas ambientais, sociais e de governança” (pada smith/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 9 de janeiro de 2024 às 17h12.
Dada sua relevância financeira e cultural para o mundo, os acontecimentos nos EUA refletem em todo o planeta . Por isso, é comum que mercados em desenvolvimento, como o nosso, olhem para movimentos e debates da maior economia do mundo para tentar antecipar tendências que possam ser relevantes também localmente.
É o caso da inflacionada conversa sobre uso da sigla ESG e de suas ferramentas de análise e gestão de negócios, bem como das críticas e dúvidas sobre seu verdadeiro potencial como alavanca de criação de valor ou de gestão de riscos.
Já tratamos do tema em outros momentos, mas sempre vale lembrar que desde sua origem a agenda ESG se propõe exatamente a mitigar riscos que em primeiro momento seriam classificados como não financeiros, mas que podem impactar os negócios no médio ou longo prazo.
O acrônimo surgiu no começo dos anos 2000 como forma de sistematizar e simplificar a comunicação sobre a conexão entre resultados de longo prazo e boas práticas ambientais, sociais e de governança, descrita pelo famoso relatório Who Cares Wins, do Banco Mundial e Pacto Global das Nações Unidas.
Em outras palavras, práticas ESG bem estruturadas buscam trazer o futuro para o tempo presente. Desafio similar ao que se pretende fazer via Agenda 2030, com os objetivos de desenvolvimento sustentável. Claro que em uma ótica mais restrita, que se volta à organização e seu entorno (no primeiro caso) ao invés de todo o planeta (no caso dos ODS). Ainda assim, o Wall Street Journal reportou esta semana que empresas nos EUA têm evitado o uso da sigla ESG como forma de se proteger de críticas, que apresentam a agenda como uma distração, um empecilho para o real objetivo dos negócios – argumento contraditório com os fundamentos apresentados acima, mas que pode ser real a depender da qualidade da execução.
E este é, a meu ver, o ponto chave da discussão. O potencial de criação e proteção de valor que as práticas de sustentabilidade corporativa podem trazer está diretamente ligado ao cuidado em seu planejamento, conexão com a estratégia de negócio e diligência na execução.
Promessas e compromissos oportunistas e feitos sem a devida reflexão sobre capacidade de execução serão motivo de cobranças públicas. Investimento em ações e temas que não se relacionam com os principais impactos do negócio tendem a gerar dispersão e ineficiência. Estratégias de sustentabilidade desenvolvidas sem engajamento de stakeholders geram ruídos e obrigam refações. Métricas estabelecidas sem a devida reflexão sobre o resultado que se pretende medir podem direcionar comportamentos no sentido errado.
Por outro lado, quando abraçamos a complexidade dos sistemas em que as organizações estão inseridas e nos engajamos com partes interessadas para identificar as principais alavancas de impacto, riscos e oportunidades do negócio temos a chance de conectar profundamente a ideia de sustentabilidade com a empresa e seu entorno.
Essa é a premissa para criação de valor compartilhado no médio e longo prazos . As ferramentas de implementação podem receber diversos nomes e metodologias: ESG, sustentabilidade corporativa, negócios responsáveis, capitalismo consciente, etc.
Cada caminho tem suas vantagens, desvantagens e características próprias. Mas o valor da agenda se mantém, apesar do barulho contrário e das más interpretações.
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