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Falta pouco: Museu da Língua Portuguesa reabre com mostra 'Língua Solta'

Reconstruído após incêndio que o destruiu em 2015, museu traz de volta a São Paulo experiências interativas e ambientes imersivos

Exposição "Língua Solta" que marca a reabertura do Museu da Língua Portuguesa (Ciete Silvério/Divulgação)

Exposição "Língua Solta" que marca a reabertura do Museu da Língua Portuguesa (Ciete Silvério/Divulgação)

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Publicado em 2 de julho de 2021 às 17h15.

Última atualização em 3 de julho de 2021 às 08h55.

Após ter sido destruído pelo fogo em dezembro de 2015, o Museu da Língua Portuguesa reabre em 31 de julho em grande estilo, depois de ficar fechado por cinco anos. No incêndio, morreu o bombeiro civil Ronaldo Pereira da Cruz, que trabalhava no museu como brigadista.

A exposição "Língua Solta", que marca o retorno do museu ao roteiro cultural de São Paulo, revela a língua portuguesa em seus amplos e diversos desdobramentos na arte e no cotidiano por meio de um conjunto de artefatos que ancoram seus significados no uso das palavras.

Ao todo são 180 peças, como objetos da arte popular e da arte contemporânea, apresentados de maneira diversificada, que estarão expostos no primeiro andar do museu até 31 de outubro. Logo no início, uma das pontas de entrada na sala exibe Eu preciso de palavras escritas, manto bordado por Arthur Bispo do Rosário. Na outra ponta, estão quatro estandartes de maracatu rural, trazidos de Pernambuco para a mostra.

Atrás dos estandartes, uma parede exibe a projeção de memes do coletivo Saquinho de Lixo e, na parede oposta, o mural Zé Carioca e amigos (Como almoçar de graça), de Rivane Neuenschwander, convida o público a escrever e a desenhar em giz o que lhe passar pela cabeça naquele momento, em uma parede transformada em base para histórias em quadrinhos.

Nos primeiros metros do percurso, portanto, os visitantes terão contato com o embaralhamento proposto pelos curadores, Fabiana Moraes e Moacir dos Anjos, que dá a tônica de toda a exposição, conectando a arte à política, à vida em sociedade, às práticas do cotidiano e às formas de protesto, de religião e de sobrevivência - sempre atravessados pela língua portuguesa.

Cartazes de rua, cordéis, brinquedos, revestimento de muros e rótulos de cachaça se misturam em todo o espaço às obras de Mira Schendel, Leonilson, Rosângela Rennó, Jac Leirner, Emmanuel Nassar, Elida Tessler e Jonathas de Andrade, dentre outros artistas contemporâneos.

"A língua é solta porque perturba os consensos que ancoram as relações de sociabilidade dominantes, tanto na vida privada quanto na pública. Incorporada em imagens e objetos diversos, ela sugere outros entendimentos possíveis do mundo. E tece, assim, uma política que é sua", diz Moacir dos Anjos. O projeto assume a língua como operador social que não somente reflete, como também reorganiza formas de vida.

A mostra abriga, de modo intuitivo e lúdico, algumas das estratégias criativas que, estruturando imagens e objetos os mais distintos, sugerem e desdobram o poder que a língua tem de emancipar. “A gente entende que a língua é um espaço de disputa de poder e vai se refletir em questões várias do Brasil – de raça, de classe, de gênero e de geografias”, afirma Fabiana Moraes.

Os curadores destacam a obra de Maria de Lourdes, caruaruense, evangélica, que vende livros artesanais datilografados por ela mesma, a menos de R$ 1,00. Maria circula com um crachá com seu nome e a profissão autodeclarada de escritora pelas ruas da cidade, pouco preocupada com as estruturas culturais e mercadológicas que costumam chancelar quem pode ou não dizer-se escritor – numa forma involuntária de quase-protesto.

"Língua Solta" teve pré-lançamento no início de maio, durante a Semana Internacional da Língua Portuguesa. Entre os dias 4 a 7 daquele mês, um total de 160 pessoas conferiram a mostra em primeira mão, mediante emissão antecipada de ingressos pela internet. Entre maio e junho, a exposição recebeu a visita de escolas e instituições sociais da vizinhança do museu, com agendamento prévio.

Reconstrução

Instalado na histórica Estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa foi um dos primeiros museus totalmente dedicados a um idioma no mundo. Promove um mergulho na história e na diversidade do idioma por meio de experiências interativas, conteúdo audiovisual e ambientes imersivos.

Em sua renovada exposição de longa duração, que ocupa o segundo e terceiro andares do edifício, o museu vai apresentar experiências inéditas, como “Falares”, que traz os diferentes sotaques e expressões do Brasil; e “Nós da Língua Portuguesa”, que aborda a diversidade cultural da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). E serão mantidas as principais experiências que marcaram os quase dez anos de funcionamento do museu antes do incêndio.

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