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ESG e o papel dos operadores independentes no Nordeste brasileiro

Com as operadoras independentes, é possível ver investimento e trabalho duro para se obter ganhos de produção e melhorias de integridade

Adoção do SEG, colocando-se o “S” de social simbolicamente à frente e como imprescindível para os avanços nas demais áreas (Getty Images/Getty Images)

Adoção do SEG, colocando-se o “S” de social simbolicamente à frente e como imprescindível para os avanços nas demais áreas (Getty Images/Getty Images)

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Publicado em 29 de março de 2022 às 18h01.

Última atualização em 29 de março de 2022 às 18h19.

Por Marcelo Magalhães*

No ano de 2017, em uma reunião do Programa de Revitalização da Atividade de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural em Áreas Terrestres (Reate), em Brasília, com a presença de autoridades e de representantes da indústria, uma senhora se levantou em meio às discussões e exibiu uma foto de uma unidade de bombeio mecânico abandonada, rodeada de mato, e sem produzir, em um campo de petróleo na zona rural do sertão potiguar.

Sócia de uma empresa prestadora de serviço na área, o seu discurso de revolta, focado na urgência de uma solução para a questão dos campos maduros, ilustrou de forma muito transparente os impactos perversos da falta de investimento da então principal concessionária nos campos da bacia: perda de renda, empregos, negócios e perspectivas. A foto se tornou símbolo e um momento marcante do encontro.

Mais de quatro anos se passaram e pouco se avançou na efetiva transferência de operações para operadores independentes privados. A maioria das concessões de campos maduros terrestres incluídas no Programa de Desinvestimento da Petrobras ainda não teve a troca de concessionário e operador efetivada.

Quando isso finalmente ocorre, com as operadoras independentes que adquiriram estes campos, assumindo sua titularidade e operação, o que temos visto é muito investimento e trabalho duro para se obter ganhos de produção, melhorias de integridade. Só aí passa a ser possível mudar, de fato, a realidade ilustrada na foto.

Cabe lembrar que os campos maduros terrestres brasileiros se situam majoritariamente em municípios do interior do Nordeste. Estas regiões têm, em geral, a operação de campos de petróleo e gás como sua principal atividade econômica. São dezenas de municípios em pelo menos cinco estados do Nordeste com baixíssimos índices de desenvolvimento humano e infraestrutura precária.

E a indústria de combustíveis fósseis é cada vez mais demandada a ter uma atuação responsável nos aspectos ambiental, social e de governança, conhecidos no mercado pela sigla ESG. Isso é justo, inevitável e determina cada vez mais a capacidade de captar investimentos. Devemos, contudo, estar atentos às peculiaridades da região onde atuamos e do momento de transformação que vivemos. Isso leva a um debate sobre a adoção do SEG, colocando-se o “S” de social simbolicamente à frente e como imprescindível para os avanços nas demais áreas.

A PetroReconcavo tem se destacado como pioneira neste processo. Somos a companhia que mais assumiu ativos de produção em campos maduros. Em pouco mais de dois anos, mais do que dobramos a produção de óleo e gás do Polo Riacho da Forquilha, no estado do Rio Grande do Norte. Em dezembro de 2021, assumimos mais 21 concessões da Bacia do Recôncavo, onde resultados expressivos já começam a ser alcançados.

E, neste ano de 2022, estamos implementando o mais ambicioso plano de investimento de uma operadora independente do “onshore” brasileiro. Estão incluídas em nossa certificação de reservas, publicada recentemente, mais de 250 intervenções de “workover”, dezenas de perfurações de novos poços, com investimentos totais superiores a US$ 100 milhões apenas nestas atividades, visando o desenvolvimento dos campos por nós operados.

Estes novos investimentos geram impacto imediato na economia local, com forte aumentos nos impostos e royalties decorrentes da atividade, além de aumento de emprego e renda. Mais de 90% de nossa força de trabalho é constituída de potiguares e baianos.

Em nossa empresa temos noção de nossa responsabilidade em buscar avanços de SEG. Desde 2013 auxiliamos as comunidades no entorno de nossas operações no Ativo Bahia a se desenvolverem de forma sustentável, resgatando e valorizando sua cultura e identidade. Implementamos, em parceria com a AVSI-Brasil, o Programa Ciranda Recôncavo, promovendo desde valores de educação ambiental e segurança alimentar até incentivos para a prática de esportes para crianças e adolescentes.

Recentemente, no Ativo Potiguar, iniciamos uma parceria com esta mesma organização para o viabilizar o Programa Viva Sabiá, um programa de responsabilidade social e sustentabilidade com foco no acesso à água limpa, cuidados com o solo e empreendedorismo, que irá beneficiar cerca de 600 famílias no entorno de nossas operações.

Acreditamos que este modelo de inclusão já começa a fazer diferença, trabalhando com a consciência social e na busca pelo bem-estar dentro das comunidades rurais e visando despertar no indivíduo as suas possibilidades como cidadão.

Ao longo de 2021, também buscamos endereçar o tema “Transição Energética” no planejamento estratégico da companhia. O primeiro passo se dá através da realização do nosso inventário de emissões, que será a base de um diagnóstico e definição inicial de estratégias, a serem reportadas ao público em nosso primeiro relatório de sustentabilidade, a ser emitido até o final deste trimestre.

A migração de uma economia global baseada na queima de combustíveis fósseis para produção de combustíveis e energia, para um mundo que passe a usar cada vez mais fontes renováveis ou não poluentes é um processo. Necessário, quase que consensual, mas também longo, potencialmente inflacionário e que irá exigir de todos nós, líderes de empresas, autoridades, cidadãos e consumidores, escolhas, nem sempre fáceis.

Na prática ainda não dispomos de tecnologias e modelos de negócios seguros e escaláveis que permitam uma transição rápida e sem soluções, assegurando a entrega de energia de forma confiável, barata e ambientalmente adequada.

Tenho buscado me aprofundar sobre o tema de sustentabilidade e transição energética. Recentemente tive acesso a um discurso da então primeira-ministra indiana, Indira Gandhi, proferido em uma conferência da ONU na Suécia, em junho de 1972, denominada Global Conference on Human Environment (Unche). Naquele momento o tema mudança climática era ainda apenas uma questão acadêmica. Em sua fala emblemática, que marca até hoje o debate global sobre meio ambiente, Indira questionou:

“Are not poverty and need the greatest polluters”.

A mensagem traduzida como: “Quem pode se dar ao luxo de cuidar do meio ambiente quando não tem suas necessidades básicas atendidas” — se aplica muito bem para o interior do Nordeste brasileiro nos dias de hoje.

Nos sentimos parte da solução e sabemos o papel que desempenhamos, como uma empresa orientada por propósitos, para encontrar maneiras de resolver os problemas que os indivíduos e a sociedade enfrentam, entre eles a crise ambiental e a transição energética.

Já presenciamos, através do nosso crescente investimento, os primeiros impactos sociais. Teremos um período de muitos desafios pela frente, sejam eles estruturais, financeiros, regulatórios e comerciais, e precisamos de políticas públicas que incentivem e orientem a ação da sociedade e das empresas.

Como companhia temos muito a evoluir e consolidar políticas e incrementar investimentos. Porém, em comunidade e com a participação ativa da sociedade civil, acredito que será possível traçarmos novos e possíveis caminhos para o planeta. Vamos em frente.

*Marcelo Magalhães é CEO da PetroReconcavo

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