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Energia solar distribuída vai protagonizar a retomada verde do Brasil

CEO da Solfácil destaca as oportunidades para o país com essa matriz de geração de energia limpa

Energia Solar (Faye Sakura/The New York Times)

Energia Solar (Faye Sakura/The New York Times)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 11 de novembro de 2020 às 20h29.

Última atualização em 11 de novembro de 2020 às 20h41.

A capacidade de identificar e gerar oportunidades em meio às grandes crises é o que impulsiona países e mercados à recuperação. Nesse contexto, a energia solar se apresenta como uma das protagonistas nos rumos da recuperação brasileira, e a fonte solar distribuída tem potencial para alavancar a economia nessa retomada. O histórico recente do Brasil nos mostra isso: na crise de 2015 e 2016, o PIB do país foi de -3,5% ao ano, mas o setor solar fotovoltaico cresceu mais de 300% ao ano. Em 2020, estamos registrando crescimento de 90% em relação ao ano passado, mesmo com a pandemia.

Os números refletem esse movimento. Em setembro deste ano, o Brasil ultrapassou as 300.000 conexões de geração distribuída tipo solar fotovoltaica, de acordo com dados divulgados pela Aneel. Os consumidores residenciais são maioria e representam 72,5% do total, seguidos pelas empresas de comércio e serviços (17,7%) e outros perfis. A tecnologia solar fotovoltaica está presente em mais de 5.000 municípios e em todos os estados brasileiros, o que mostra que é preciso desbravar um caminho para desenvolver o mercado de energia solar no Brasil. É preciso unir investidores, integradores solares e clientes que desejam produzir sua própria energia por meio da fonte mais abundante e limpa que existe — o sol. E não precisamos ir muito longe para entender o potencial desse mercado.

Produzir a própria energia elétrica e economizar na conta de luz de forma sustentável já é uma realidade no Brasil graças ao financiamento para linhas de energia solar. Dentre vários benefícios, quem instala um sistema com painéis fotovoltaicos em sua própria residência valoriza seu imóvel e fica imune à inflação das tarifas energéticas — a economia gerada pelo sistema cresce a cada ano que passa. Com a instalação dos painéis fotovoltaicos, em vez de comprar energia da distribuidora de seu estado, o consumidor produz a própria energia, contribuindo para a economia da conta mensal, bem como no controle sobre o custo da energia que produz. Assim, elimina-se a inflação energética, porque parte da energia injetada na rede, que não é consumida, vira crédito. Estamos falando de uma matriz de geração de energia limpa, com impacto sustentável e social, já que contribui para a redução de despesas com energia para o consumidor final.

O cenário ainda é tímido diante do potencial do Brasil, que é um dos melhores países do planeta para energia solar distribuída. Primeiro, porque tem tarifa de energia cara e muita incidência de sol. Segundo, porque a mão de obra acessível torna o custo da energia solar competitivo para atrair e viabilizar investimentos. É um setor anticíclico, que tem triplicado em tamanho nos últimos anos. Em 2019, foram mais de 6 bilhões de reais aportados em sistemas energia solar em telhados pelo Brasil.

A Empresa de Pesquisa Energética divulgou recentemente um estudo em que coloca a fonte solar distribuída como promissora para alavancar investimentos no país, com estimativa de movimentar um montante da ordem de 70 bilhões de reais em dez anos, considerando aí que não se tenham grandes mudanças nas regras atuais de remuneração de energia gerada. A fonte solar distribuída representou aproximadamente 17% de toda a capacidade adicional instalada de geração de energia no Brasil em 2019, segundo a Aneel.

O grande gargalo é que a minoria dos brasileiros tem poupança para investir em um produto tão bom como os sistemas de energia solar. Isso se comprova porque os integradores têm alta demanda, mas baixa conversão em vendas. Além disso, de acordo com o Ibope, no Brasil, mais de 90% das pessoas querem produzir sua própria energia por meio de sistemas solares. No entanto, segundo dados da Anbima, somente 8% poupam dinheiro, o que limita a capacidade para investir nesse sistema. Por isso, o desafio que precisamos resolver é permitir que as pessoas que não têm recurso possam acessar a geração distribuída sem desembolso nenhum, em um modelo de financiamento que permita ao consumidor ter a liberdade de produzir sua própria energia, de forma sustentável do ponto de vista ambiental e financeiro.

O crédito solar é um crédito com propósito, que tem o reconhecimento do mercado de capitais e da sociedade. As projeções da EPE e os números recentes da Aneel confirmam a capacidade da energia solar de endereçar o crescimento do setor e do país, puxada pelo financiamento como protagonista. Com essa perspectiva é que o Brasil tem a oportunidade de se diferenciar porque conta com gente empreendedora, tecnologia e inovação para liderar essa retomada globalmente.

*Fábio Carrara é CEO e fundador da Solfácil, primeira fintech de energia solar do Brasil

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