Bússola

Um conteúdo Bússola

Em busca de maior inclusão, Cannes Lions reforça importância do propósito

Uma das marcas da edição foi um esforço ainda incipiente de ampliar as vozes da publicidade e desconstruir estereótipos criados pela indústria

Festival de Cannes: evento acontecerá presencialmente entre 17 a 28 de maio. (Photo by Marc Piasecki/WireImage/Getty Images)

Festival de Cannes: evento acontecerá presencialmente entre 17 a 28 de maio. (Photo by Marc Piasecki/WireImage/Getty Images)

B

Bússola

Publicado em 5 de julho de 2022 às 15h12.

No festival onde muito se discutiu sobre o metaverso e a Web 3.0, foram os problemas da vida real como a guerra na Ucrânia, a retomada no pós-pandemia, a emergência climática e a necessidade de maior inclusão e diversidade os protagonistas do Cannes Lions, o maior evento global de criatividade que terminou nesta sexta-feira 24, no sul da França. Após um intervalo de três anos desde a última edição presencial (as edições de 2020 e 2021 foram virtuais devido à pandemia de covid 19), seja nos conteúdos das palestras, seja nas premiações, o evento deixou clara a importância do propósito.

Uma das marcas desta edição foi exatamente um esforço inédito — e ainda incipiente — de ampliar as vozes (e as histórias) da indústria publicitária global levando aos palcos personagens e profissionais mais diversos em um trabalho intencional de mudar as narrativas e de desconstruir estereótipos que essa mesma indústria lapidou ao longo de décadas.

Convidados como os brasileiros Edu Lyra, CEO da ONG Gerando Falcões e Txai Suruí, líder indígena, que subiu ao palco duas vezes, uma delas com uma placa de protesto na qual se lia Salve a Amazônia; o ex-enxadrista e ativista político Gary Gasparov; a Nobel da Paz, Malala Yousafzai; e a atriz Lupita Nyong’o reforçaram a urgência da indústria publicitária planetária em levar em conta a agenda social e ambiental. “Cresci sendo infeliz com a cor da minha pele. Todos os anúncios publicitários que via quando criança e adolescente diziam que com a minha cor de pele eu não conseguiria nada porque era indesejável”, declarou Nyong’o, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “12 Anos de Escravidão” e atual embaixadora da marca de cosméticos Lâncome.

As premiações também evidenciaram a importância de as marcas aliarem negócios e propósitos. Na categoria dedicada à Mídia Impressa, o prêmio máximo teve como pano de fundo a defesa da democracia. No início do ano, o governo do Líbano chegou a colocar em dúvida a realização das eleições alegando falta de papel e tinta para a impressão das células. Como forma de protesto, o jornal Annahar Newspaper, pela primeira vez em mais de 80 anos, deixou de circular, doando o papel e a tinta que seriam usados na impressão daquele dia para a impressão das cédulas de votação e com isso garantiu as eleições no País.

Em Estratégia Criativa, o grande destaque ficou para o case da Decathlon da Bélgica, desenvolvido em uma prisão de segurança máxima onde foi criada a primeira equipe de eCycling para prisioneiros, que pedalaram com pessoas do mundo exterior, conectados por uma plataforma virtual de ciclismo, ampliando a mensagem de tornar o esporte acessível a todos.

Um dos grandes destaques no Cannes Lions foi a escolha da AB Inbev como Anunciante do Ano. Para o CMO global, Marcel Marcondes, o desempenho da companhia é consequência da capacidade em fazer apostas e assumir riscos. O resultado da busca genuína por propósito, detalhou o brasileiro, são trabalhos com foco em projetos e programas: “Noventa e cinco por cento dos trabalhos premiados da AB Inbev não são anúncios, são projetos que resolvem problemas reais”. Como exemplo, citou o case “O Futuro Patrocinador Oficial”, criado para a marca Budweiser, nos Estados Unidos, que conseguiu angariar seis marcas patrocinadoras para a Liga Nacional Feminina de Futebol e pressionar para que até 2023 as jogadoras ganhem o mesmo salário que os colegas homens.

Protestos

Para chamar a atenção sobre a importância da publicidade para movimentar o consumo e seu consequente impacto ambiental, o Greenpeace usou o Cannes Lions como palco para dois protestos ao longo do Festival. Num deles, ativistas utilizaram botes infláveis e, pelo mar, invadiram um evento do grupo WPP, o maior conglomerado mundial de publicidade, na orla, local utilizado pelas marcas participantes do Festival para ativações, encontros e festas.

E no segundo, os ativistas da organização, fantasiados do cachorro, usaram um guindaste e se posicionaram no alto do Palais des Festivals, local onde acontece o Cannes Lions, pelo lado de fora como forma de divulgar a campanha #BanFossilAds, que pede o fim da publicidade de empresas que utilizam combustíveis fósseis, como as fabricantes de veículos e companhias aéreas.

*Regina Augusto é diretora executiva do Cenp (Fórum de Autorregulação do Mercado Publicitário)

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Veja também

Diversidade e ESG: políticas precisam ir além da superfície

Como essa agência na Ucrânia usou tecnologia para combater a desinformação

Podcast A+: Mais diversidade e inclusão nas empresas - jornada urgente e necessária

Acompanhe tudo sobre:DiversidadeEmpresasInclusão digitalSustentabilidade

Mais de Bússola

Bússola & CIA: Drogaleste consolida expansão de sua rede

Marco Yamada: o papel da IA na revolução dos serviços de seguros

Gestão Sustentável: o meio do caminho e as luzes no fim do túnel

SHB aposta em espetáculo e realiza evento com campeões olímpicos e prêmio de R$ 635 mil