Construa relações honestas e abertas, com o entendimento de que precisamos andar juntos, pois desejamos ir longe (Maskot/Getty Images)
Bússola
Publicado em 11 de janeiro de 2022 às 12h18.
Por Danilo Maeda*
A interconexão é um dos aspectos mais relevantes da sustentabilidade. Ela traz complexidade e torna a agenda mais difícil, mas também produz beleza e esperança. Temas ambientais, sociais e econômicos impactam uns aos outros em diversos níveis. Desta forma, se a busca por resolver problemas em uma frente desconsiderar essa interdependência, é possível que tais esforços produzam efeitos colaterais negativos.
A pandemia de covid-19 é um bom exemplo dessa complexidade. Fatores sociais, ambientais e econômicos são encontrados desde a origem do vírus até a (falta de) capacidade de diversos governos e culturas em responder ao maior desafio de nossa geração de forma coordenada e eficiente. Os impactos também se dão em diferentes esferas: mortes, sistemas de saúde sobrecarregados, sofrimento psicológico, redução do PIB global, crise financeira, cortes salariais e demissões, entre outros.
A nova onda de contágio provocada pela variante ômicron coloca novamente à prova a resiliência do tecido social. Convivemos com cansaço e flutuações de humor — entre um otimismo esperançoso de que o mundo sairá dessa melhor e uma descrença na nossa capacidade de reação. A complexidade do mundo real demanda um esforço consciente e a construção de parcerias.
Há um provérbio africano que diz “se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo”. Não consegui identificar a origem com maior precisão, mas a frase sábia remete a outro aspecto da agenda integrada da sustentabilidade. Não só os temas estão conectados, mas pessoas e organizações também somos interdependentes.
Na gestão, tal entendimento deve ser a base do engajamento de stakeholders, ao tomar decisões estratégicas considerando a percepção — e eventualmente espaço para participação direta — de todos os públicos que se relacionam com o negócio.
Há duas grandes vantagens em atuar desta maneira. A primeira é o mapeamento de riscos, que podem ser resolvidos antes de se tornarem problemas maiores. A segunda é a geração de valor adicional, a partir da percepção antecipada de demandas e necessidades não atendidas. Não à toa, pesquisas têm demonstrado que um trabalho bem feito de relações com partes interessadas está relacionado com melhores resultados financeiros no longo prazo.
Um exemplo prático é o das empresas que abraçam causas consideradas justas por seus stakeholders — com claros benefícios para quem responde à altura. Como temos dito por aqui, a sociedade espera que as empresas sejam parte da solução.
Dado o tamanho dos desafios atuais e futuros, é urgente que a cultura corporativa deixe de mirar os resultados de curto prazo e passe a atuar de forma efetiva nas temáticas que afetam a todos. Aqui, a transformação digital se correlaciona com a pauta do engajamento e da transparência: em um mundo hiperconectado, ações oportunistas são facilmente percebidas e penalizadas. Estamos na Era da Verdade.
As crises que vivemos — além da pandemia temos testemunhado com maior frequência os efeitos negativos das mudanças climáticas e de outras alterações provocadas por seres humanos na natureza — exacerbaram a necessidade de engajamento. Que nossas organizações saibam construir relações honestas e abertas, com o entendimento de que precisamos andar juntos, pois compartilhamos do mesmo planeta e desejamos ir longe; e não cair diante de catástrofes provocadas por nossa própria espécie.
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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