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Crédito mais caro reforça papel das fintechs no crescimento da economia

Diferentemente de outras épocas, o empreendedor tem à disposição outros caminhos para encontrar recursos

Problema se torna grave sem o capital de giro a custos razoáveis (Bloomberg/Getty Images)

Problema se torna grave sem o capital de giro a custos razoáveis (Bloomberg/Getty Images)

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Publicado em 27 de setembro de 2022 às 15h26.

É um remédio amargo que, infelizmente, já é conhecido por grande parte dos empresários brasileiros. No primeiro sinal de instabilidade econômica e descontrole da inflação, o governo aumenta o percentual da Selic, considerada a taxa básica de juros. A medida freia o consumo e limita o aumento de preços, mas traz como efeito colateral a dificuldade de obter crédito.

Sem esse importante insumo, que é o capital operacional, as empresas não possuem verba para sustentarem suas operações e desenvolverem novos projetos, como bens, serviços ou até expansão. Cria-se a bola de neve, que passa por cima do crescimento econômico de todo mundo. Contudo, é possível evitar esse cenário com o apoio das fintechs, que podem oferecer uma ampla gama de investimentos e empréstimos bem mais eficientes e com condições mais vantajosas.

É uma necessidade cada vez mais latente, comum entre as pequenas empresas, mas que em cenário de juros altos já afeta também as médias grandes. Um levantamento da Fundação Getúlio Vargas com o Sebrae em 2021 mostra que um terço desses empresários (33%) considera que o grau de exigência para obter crédito nas instituições financeiras tradicionais é muito elevado.

Em momentos de aperto monetário, créditos de montantes maiores (comuns no universo das empresas médias e grandes) ficam ainda mais restritos, e o processo que já era burocrático se torna praticamente um IPO (o nível de morosidade e exigência de documentos é tão elevado que parece que o banco está fazendo uma transação de abertura de capital).

Não bastasse isso, o aumento na taxa de juros ao longo dos últimos meses atrapalhou ainda mais a concessão de recursos financeiros. Em julho, por exemplo, houve um recuo de 11,9% nessa demanda em relação ao mesmo mês de 2021, segundo o Indicador de Demanda das Empresas por Crédito, da Serasa Experian.

Os dados comprovam justamente o desafio encontrado pelas companhias no mercado nacional atualmente. Um crédito PJ na modalidade conta garantida, por exemplo, está com taxa média 50% maior do que há um ano atrás, enquanto a inflação é de aproximadamente 10%. Outro fator é que a Taxa Selic sobe continuamente desde março de 2021 para tentar controlar a inflação. Como resultado, as instituições financeiras também sobem os juros cobrados em suas modalidades de crédito e de financiamento. Em suma: ficou bem mais caro obter recursos financeiros no país.

Isso é um problema grave porque sem o capital de giro a custos razoáveis, as companhias precisam readequar suas estratégias. Algumas até podem utilizar recursos próprios, ainda que essa estratégia represente um risco à rentabilidade do negócio. A grande maioria, contudo, precisa abortar seus objetivos. Sem dinheiro disponível, as empresas não inovam, não investem em processos e nem expandem sua atuação.

Um outro estudo conduzido pela Fundação Getúlio Vargas mostra que, somente para as micro e pequenas empresas seriam necessários R$ 514 bilhões para atender toda a demanda de crédito – convenhamos, um número elevado demais mesmo em um cenário de bonança na realidade brasileira. Mas se não há quantidade de dinheiro disponível no mercado tradicional, é necessário que alternativas sejam exploradas.

A transformação digital, que já revolucionou o mercado financeiro, novamente surge como aliada nesse processo graças às fintechs. As startups que utilizam a tecnologia para resolver dores específicas das finanças e da economia como um todo também podem atuar na concessão de crédito para PMEs no Brasil. Nos últimos anos, diversas empresas do tipo surgiram para desburocratizar e agilizar essa demanda reprimida.

No caso, trata-se de uma ideia bem simples: conectar investidores, que já buscam massivamente sair dos investimentos bancários tradicionais nos últimos anos, a empresas que precisam de capital de giro. Entretanto, ao invés de contar com intermediários e uma pesada estrutura por trás, esse financiamento é feito de forma direta, com taxas menos abusivas, parcelas flexíveis e rentabilidade mais alta, fechando o circuito, de uma ponta a outra com o apoio de plataformas online.

Dessa forma, a empresa realiza pagamentos mensais, da mesma forma que faria em uma operação de crédito bancário, com a diferença que ao invés desse capital ir para os bancos eles vão direto para o bolso de investidores. Tudo feito digitalmente, em questão de pouco tempo e muitas vezes até com taxas melhores. Uma opção viável para quem historicamente sempre encontrou obstáculos na hora de solicitar crédito aos grandes bancos e investidores.

O crédito pode até estar mais caro, mas diferentemente de outras épocas, o empreendedor tem à disposição outros caminhos para encontrar os recursos financeiros necessários. Há duas décadas, restava apenas fazer as contas e contar com o humor do “bancão”. Hoje, basta olhar em volta para encontrar fintechs dispostas a fazer tudo funcionar melhor, e muitas crescendo com qualidade mesmo diante das mais diversas instabilidades.

*Gabriel Nascimento é CEO da Ulend, fintech de crédito privado

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