Itália: país foi o primeiro lugar da Europa a ter surto do coronavírus (Manuel Silvestri/Reuters)
Mariana Martucci
Publicado em 9 de novembro de 2020 às 15h38.
Última atualização em 11 de novembro de 2020 às 16h00.
O Brasil tem hoje uma média móvel diária de 332 mortes por covid-19. O índice, que vem caindo rapidamente (48% nas duas últimas semanas), representa apenas 1/3 do patamar de 1.000 mortes diárias registradas ao longo de quase três meses, do início de junho ao fim de agosto. A primeira onda de Covid-19 ainda não acabou por aqui, mas sua força vem diminuindo a passos largos.
Esse alento trazido pelas estatísticas não deve tirar do foco as medidas de prevenção, como distanciamento social, uso de máscara e álcool gel e maiores cuidados com os grupos de risco, como pessoas acima de 60 anos e portadores de comorbidades como diabetes, obesidade e hipertensão.
Isso porque há claros sinais de uma segunda onda na Europa, que, com a melhora dos números, havia relaxado e muito as medidas de prevenção. Em alguns países, o uso de máscara chegou a deixar de ser obrigatório.
Vale lembrar ainda que, em termos cronológicos, a Europa sempre esteve à frente nos estágios da pandemia. Por lá, o coronavírus começou a matar pouco mais de um mês antes do primeiro óbito ocorrido no Brasil, em 17 de março. Com isso, a primeira onda perdeu força lá primeiro, enquanto por aqui assistíamos à escalada da pandemia. Agora, enquanto desaceleramos, a Europa vê suas estatísticas piorarem drasticamente.
A França já tem hoje uma média móvel de quase 500 mortes diárias (489/dia). Na Espanha, são 422/dia. Na Itália, 367/dia. No Reino Unido, 332/dia. Todos em um patamar igual ou superior ao brasileiro. Hoje, só Estados Unidos (939/dia) e Índia (572/dia) têm médias móveis de 7 dias superiores às de alguns países europeus.
O recrudescimento da pandemia de Covid-19 no velho continente levou diversos países a retomarem medidas restritivas, incluindo lockdowns parciais e outras restrições de circulação na França, Inglaterra, Itália, Alemanha, Espanha, Irlanda, Grécia e Polônia. O que já vem, inclusive, provocando abalos na economia global.
Momentos distintos
No Brasil, o movimento vai justamente na direção oposta. Com a atual queda no número de casos e de mortes, o que temos visto são ruas cheias, pessoas em bares e restaurantes sem o devido distanciamento social, muita gente sem máscara e até aglomerações. Com a proximidade de dezembro, quando começa o período de férias, a tendência é que a circulação interestadual aumente, o que pode voltar a espalhar o vírus em maior velocidade.
Soma-se a isso um outro componente: nesta segunda onda de Covid-19 na Europa, a população está mais reticente em cumprir as medidas determinadas pelos governos. O que é natural, devido ao desgaste provocado pelo primeiro longo período de confinamento, mas que torna a situação ainda mais delicada do ponto de vista sanitário.
É de se esperar que a eventual necessidade de se adotar novamente medidas para restringir a circulação por aqui provavelmente também geraria muito atrito perante a opinião pública. Ainda mais em um país onde a polarização política influenciou diretamente o combate ao coronavírus. É cedo para dizer quando a segunda onda começará no Brasil. Mas é difícil imaginar que ela não dará as caras por aqui.
*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa
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