Coronavírus no Brasil: pandemia volta a acelerar nas capitais
Diretor do Instituto FSB Pesquisa analisa as estatísticas de covid-19 no país e alerta para o crescimento de 64% da média móvel de óbitos nas capitais
Isabela Rovaroto
Publicado em 23 de novembro de 2020 às 14h08.
Última atualização em 23 de novembro de 2020 às 14h22.
O Brasil está se aproximando da barreira de 170.000 mortes por coronavírus . Oficialmente, o Ministério da Saúde contabilizou até este domingo 169.183 vítimas da doença no país. E o momento deve ser de preocupação, pois vários indicadores apontam para o recrudescimento da pandemia de covid-19 no país.
A média móvel de mortes está hoje em 484 por dia, um crescimento de 50% nos últimos dez dias. Há uma semana, a média móvel diária de novos casos gira em torno de 29.500, alta de 82% em duas semanas.
Atualmente, temos dez unidades da Federação com aceleração na média móvel de mortes: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Amapá e Roraima. Há nove estados em estabilidade e oito unidades da Federação em queda: Paraná, Distrito Federal, Mato Grosso, Acre, Rondônia, Tocantins, Alagoas e Sergipe.
Relaxamento e impactos
Mas o relaxamento das medidas de isolamento e distanciamento social começa a cobrar seu preço principalmente nos grandes centros urbanos. Quando olhamos para as 27 capitais brasileiras, há forte aceleração. A partir de dados do Ministério da Saúde, o Instituto FSB Pesquisa calculou a média móvel de óbitos nessas 27 cidades. O cálculo compara a atual média móvel com o mesmo indicador de 14 dias atrás e mostra aceleração em 12 capitais, sendo que em algumas a pandemia ganha muita força.
Na média das 27 capitais brasileiras, onde vivem 24% da população brasileira, a média móvel cresceu 64% nessa comparação. A recordista é Boa Vista, com alta 333%. Depois vêm Macapá (alta de 300%), Rio de Janeiro (132%), Goiânia (98%), São Paulo (94%), Belo Horizonte (89%), Porto Alegre (49%), Florianópolis (38%), Manaus (38%), Belém (17%), Cuiabá (13%) e João Pessoa (11%).
Outro indicador que chama a atenção em relação às capitais está em um estudo da Fiocruz. De acordo com este levantamento, dez capitais estão hoje com aumento dos casos de internações por síndrome respiratória aguda grave, as chamadas SRAG (os dados do levantamento vão até 14 de novembro). As SRAGs são qualquer doença respiratória, mas neste ano o coronavírus responde por 98% dos casos.
De acordo com a Fiocruz, estão em aceleração de casos de internação Rio Branco, Belo Horizonte, Florianópolis, João Pessoa, Natal, Brasília, São Luís, Vitória, Goiânia e Palmas. Dessas dez cidades com aumento de internações, só três estão com aceleração no número de mortes por covid-19. As demais sete já viram aumentar o nível de internações, mas ainda sem forte impacto nos óbitos.
Mas a lógica da pandemia é de primeiro crescer o volume de hospitalizações, para depois começar a ter um impacto mais significativo no número de mortes, o que projeta um crescimento futuro no total de vítimas diárias da pandemia nessas cidades.
Casos
Em alta no país como um todo, o número de novos casos de covid-19 também cresce forte nas 27 capitais. O aumento médio está hoje na casa de 71%, se comparada a média atual com a de 14 dias atrás. Das 27 capitais, 23 estão com aceleração no total de diagnósticos, o que também nos dá uma ideia do que pode vir por aí.
A mais alta taxa de crescimento é de São Paulo, onde o número médio diário de novos casos saltou 439% nas duas últimas semanas. Depois, com crescimento mais significativo, vêm Macapá (alta de 357%), Recife (226%), Curitiba (153%), Campo Grande (149%) e Fortaleza (146%). Atualmente, o número de casos nas capitais só não cresce em Boa Vista, Maceió, Teresina e Vitória.
Números são um espelho da realidade, e não adianta muito brigar com eles. E o que as estatísticas nos mostram é que a realidade da pandemia de coronavírus no Brasil está longe de melhorar. Pelo contrário, o mais provável até é que as notícias continuem a piorar nas próximas semanas.
Como é praticamente impossível voltar a um isolamento social mais radical, o melhor caminho é seguir à risca as regras de distanciamento social e demais cuidados. Só assim conseguiremos evitar que as notícias sejam ainda piores do que hoje já são.
*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa
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