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Coronavírus no Brasil: janeiro registra o pior cenário dos últimos 6 meses

Diretor do Instituto FSB Pesquisa destaca que, com quase 30 mil mortes por Covid-19, janeiro só não foi pior do que os meses de junho e julho do ano passado

Coronavírus: histórias de quem abandonou o negacionismo (Amanda Perobelli/Reuters)

Coronavírus: histórias de quem abandonou o negacionismo (Amanda Perobelli/Reuters)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 1 de fevereiro de 2021 às 15h03.

A pandemia de coronavírus iniciou 2021 em forte aceleração. Ao longo do primeiro mês do ano, foram registradas em todo o país 29.555 mortes por covid-19. É o maior número mensal em seis meses. Desde o início da pandemia, janeiro só não foi pior do que os meses de junho e julho do ano passado, quando ocorreram, respectivamente, 30.280 e 32.881 óbitos.

(Bússola/Reprodução)

A média diária de mortes por Covid-19 também foi em janeiro a maior em seis meses. Entre 1º de janeiro e o último domingo, todos os dias em média 953 brasileiros perderam a luta contra o coronavírus. O número é 35% superior à média de 704 mortes/dia de dezembro e 123% superior às 427 mortes/dias registradas ao longo do mês de novembro.

Além do crescimento no número de óbitos, o volume de casos também está aumentando em ritmo acelerado. A média móvel de 7 dias está hoje ao redor de 52 mil novos casos por dia, 16% acima do patamar de 45 mil casos/dia atingido no auge da primeira onda, no final de julho.

(Bússola/Reprodução)

A alta no número de novos casos hoje projeta uma piora no número de mortes nas próximas semanas. Com isso, a tendência é que a média móvel diária de mortes, hoje em 1.060 óbitos por dia no período dos últimos sete dias, ultrapasse o recorde de 1.097 mortes/dia registrado em 25 de julho, no até então auge da pandemia no país. A média móvel atual é mais de três vezes superior à média mais baixa dos últimos meses (324 mortes/dia), registrada em 11 de novembro.

Carnaval e vacinação

Parte dessa aceleração da pandemia em janeiro no país é fruto das festas de fim de ano, quando muitas pessoas se reuniram para celebrar o Natal e o Ano Novo, e do período de férias, com maior circulação de pessoas em viagens, por exemplo. Aliado às novas variantes do vírus em circulação no país, esse fator fez aumentar o contágio no país, voltando a lotar hospitais e deixar infectados sem atendimento adequado (Amazonas e Roraima são os exemplos mais dolorosos desse fenômeno).

Daqui a 10 dias, teremos outro possível foco de contágio, com o feriado de carnaval. Apesar do cancelamento das festividades oficiais, não é exagero imaginar que haverá encontros e aglomerações nesse período, o que também funcionaria como elemento de aceleração da pandemia em muitas regiões brasileiras. Mas isso só os números de março dirão.

Outro elemento nessa equação é a vacinação contra a covid-19. Até o último domingo, foram aplicadas pouco mais de 2 milhões de doses em todo o país, o que equivale a menos de 1% da população. São 0,98 dose para cada grupo de 100 habitantes. Para se ter uma ideia, o Reino Unido já tem 14 doses por 100 habitantes e Estados Unidos, com uma população 1,5 vez maior do que a brasileira, 9 doses por 100 pessoas.

O problema é justamente este. A vacinação caminha a passos muito lentos no Brasil, mas o fato de o processo ter sido iniciado gera uma boa expectativa na população, e para muitos uma falsa sensação de que a situação está melhorando, quando, na verdade, isso só vai acontecer quando a vacinação estiver muito mais avançada.

Até lá, a população precisa entender que, infelizmente, a pandemia está cada vez mais forte no Brasil, com o contágio em aceleração. E que a vacinação ainda levará muito tempo para imunizar a maioria das pessoas e fazer com que o país retome a rotina com alguma normalidade.

Até lá, se já não é mais possível decretar um lockdown — seja por motivos políticos, seja pela questão econômica —, precisamos que todos tenham consciência de que é preciso seguir com as medidas de cuidado e com o distanciamento social. Só assim conseguiremos reduzir a força do estrago que a Covid-19 vem produzindo no Brasil.

*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa

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