Após as eleições, o quadro econômico brasileiro aguarda recessão (Sirinarth Mekvorawuth / EyeEm/Getty Images)
Bússola
Publicado em 22 de novembro de 2022 às 18h30.
A questão não parece mais ser se haverá recessão econômica, mas quando ela chegará ao Brasil e como isso deve impactar a vida dos brasileiros. O aperto monetário já desenhava a situação que deve desencadear uma recessão global.
O cenário econômico mundial apresenta sinais instáveis há algum tempo. Economicamente dependente de países como Estados Unidos e China, o Brasil não sairá ileso. Euforias (ou decepções) eleitorais à parte, são as estatísticas de um lado e as projeções de outro que assumem caráter pouco animador.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central durante a 7ª reunião do ano, de manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%, não foi exatamente uma surpresa para quem acompanha nossas finanças.
Apesar de previsível, dadas as pressões inflacionárias ao redor do mundo e a desaceleração da atividade econômica global, o nível da Selic em dois dígitos desanima e assusta: a taxa atual é a maior desde 2016.
Com impacto direto na inflação, espera-se que a taxa de juros siga elevada para os consumidores, agravando a situação financeira no país e comprometendo o crescimento econômico brasileiro em 2023.
De acordo com a previsão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o crescimento previsto para o Brasil, de míseros 0,6%, representa um quinto da projeção de crescimento mundial (3%) este ano.
Para 2023, a entidade prevê um avanço de 1,2% para o país, pouco menos da metade da projeção mundial (2,8%). Antes, a OCDE previa que por aqui cresceríamos 2,1% no próximo ano.
E as notícias ruins ainda continuam. Enquanto no Brasil, especialistas indicam 25% de chance de recessão, nos Estados Unidos esse número sobe para pelo menos o dobro, em um período de 6 a 18 meses. Se isso se confirmar, o país deve sofrer um período de desaceleração mais forte, o que provocaria uma série de efeitos negativos, a começar pelo aperto de renda que tem como consequência o desemprego e a perda do poder de compra pela população.
Há chance de o Brasil não sofrer efeitos tão graves com a recessão se medidas do Banco Central conseguirem conter a inflação e outros números relacionados a emprego e renda. Para que isso aconteça, o governo precisa se empenhar para melhorar a situação da população, investindo na economia, com movimentos que apoiem as pequenas empresas e que sejam geradores de novos empregos. A conta é simples: se não há capital girando no mercado, as pessoas reduzem seus gastos e a economia sofre.
Volatilidade da economia aumenta a incerteza dos mercados
A desaceleração das economias avançadas pressiona os mercados com economias mais frágeis, caso do Brasil, que ainda sofre as consequências negativas da pandemia, reforçando a desigualdade social no país.
Aliada a isso, outras incertezas políticas mundiais, como a sequência do conflito entre Rússia e Ucrânia, ampliam os receios com a economia global, gerando volatilidade e aumentando a cautela do mercado financeiro.
É matemático: quando há recessão global, investidores tendem a buscar maior segurança nas aplicações, o que implica arriscar menos e tirar dinheiro de países como o Brasil. Aliás, há poucas opções para investir com segurança, atualmente, em quase todo lugar do mundo. Podemos esperar para ver: os próximos meses prometem ser turbulentos também para o mercado financeiro.
Como reação negativa imediata à vitória de Lula, as ações da Petrobrás tiveram queda acentuada, com perda de valor de mercado superior a R$ 34Bi, um dia após o resultado da eleição. Seguindo o mesmo curso, outra estatal listada na bolsa que também sofreu foi o Banco do Brasil, que viu seu valor de mercado tropeçar em mais de R$ 5Bi.
O ciclo atual de aperto monetário deve se agravar neste final de 2022 e se estender ao longo do próximo ano. Investidores mais otimistas esperam que o futuro ministro da economia aja rapidamente para estancar a sangria de indicadores que ameaçam agravar a crise.
Nesta fase de transição é intensa a pressão sobre o presidente eleito para definir a equipe econômica. Nomes mais aventados na primeira semana do processo foram o do ex-presidente do Banco Central de Lula, Henrique Meirelles, Fernando Haddad (preferido pelo PT) e até André Lara Resende, um dos artífices do Plano Real e que se incorporou ao time da transição na semana passada.
O pior da crise econômica ainda está por vir
O mundo está a caminho de uma nova crise mundial, pelo menos é o que indica as previsões mais realistas, baseadas no relatório recente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo o Fundo, 2023 será marcado por recessões, com um terço da economia global passando por dificuldades financeiras.
Projetando uma desaceleração da economia de 2,7% em 2023, o FMI prevê que a inflação deve atingir seu pico ainda em 2022 (8,8%) e ficar em torno de 6,5% no próximo ano. Com a crise mundial, o dólar deve ganhar forças, enfraquecendo as exportações e aumentando a dívida de países em desenvolvimento, como o Brasil, a um nível pesado. Tudo que é comprado em dólar se torna mais caro, influenciando diretamente a inflação.
O cenário mais temido pelos brasileiros é o da persistência dos juros altos para pressionar para cima o preço dos alimentos e reduzir a demanda por exportações, ameaçando empurrar milhões para a vulnerabilidade.
Lula e Bolsonaro sabiam disso e abordaram fortemente o tema da retomada econômica durante a campanha eleitoral com a intenção de angariar votos dos mais preocupados com as previsões.
A preocupação é legítima: a economia vai exigir cuidados. Resta descobrir agora o que o novo presidente eleito fará para puxar o crescimento econômico e não quebrar promessas. Dessa vez será difícil para Lula reverter o quadro espinhoso em que se encontra o país sem causar decepções.
*Marcelo de Sá é CFO do Grupo Petrópolis, fabricante das marcas de cerveja Itaipava, Petra, Black Princess, Cacildis, Crystal, Lokal e Weltenburger Kloster, do refrigerante it!, do energético TNT e da água mineral Petra
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