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Opinião: Oi, uma história que vai muito além da Recuperação Judicial

Em artigo, Cristiane Barretto Sales, CFO da Oi, explica os pormenores da estratégia e das ações do financeiro no processos de recuperação e além

Oi Telefonia (Paulo Whitaker/Reuters)
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Publicado em 29 de outubro de 2024 às 07h00.

Última atualização em 29 de outubro de 2024 às 10h08.

Por Cristiane Barretto Sales, CFO da Oi

No mercado empresarial brasileiro, sempre que se fala da Oi vem à tona os desafios associados principalmente à recuperação judicial .Mas a história da Oi é, sem dúvida, exemplo de resiliência e transformação diante dos desafios financeiros e operacionais enfrentados pela companhia.

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A complexidade e magnitude desses processos nos levam a refletir sobre os mais diversos impactos na situação financeira da empresa. A aprovação do atual plano de recuperação foi um passo decisivo para seu reposicionamento e trouxe benefícios inéditos e fundamentais para sua continuidade, mas o projeto como um todo vai muito além disso.

As bases do planejamento da OI

Ao longo dos últimos anos,  deixamos claro que os desafios da Oi para alcançar a sustentabilidade e recuperação passam por quatro grandes pilares:

Individualmente, esses quatro fatores eram ambiciosos, e persegui-los simultaneamente era o desafio a que se propôs a administração da companhia para evitar sua inviabilidade.

O fato é que a Oi concluiu grande parte desses objetivos, mesmo diante de inúmeros efeitos causados por fatores externos e não controláveis, como atrasos em discussões e aprovações regulatórias, que trouxeram forte impacto no caixa.

Desenvolvimento na governança foi fator decisivo

Sob o aspecto de governança, avançamos em muitas frentes recentemente, desde a revisão da estrutura societária até uma forte disciplina financeira, dentro de um modelo de gestão de transparência com todo o time executivo para compartilhamento dos desafios, passando pela criação de um programa continuo de eficiência, que capturou benefícios nos custos gerenciáveis.

Estes conceitos nortearam nosso trabalho na liderança da diretoria de finanças e foram fundamentais para ajudar no processo de simplificação e busca de equilíbrio.

Se por um lado atacamos problemas estruturais,por outro nunca relegamos a segundo plano as obrigações com pessoal, fornecedores e tributos, buscando minimizar os impactos das ações de reestruturação, apesar do complexo ambiente de gestão do caixa.

Exemplo disso foi a necessária adequação do quadro de pessoal à nova realidade da Oi, com redução substancial no número de funcionários, incluindo as decorrentes das vendas de ativos.

Vale ressaltar que esse processo foi conduzido respeitando as negociações dos acordos coletivos anuais, resultando em uma importante adequação da realidade da empresa e, principalmente, revalorizando os profissionais.

Estrutura societária

Do ponto de vista da estrutura societária, implantamos uma agressiva simplificação, reduzindo, em três anos, em 54% o número de empresas, passando de 47, em 2021, para 22, em 2024. Uma redução que seria maior caso não incluísse empresas transitórias criadas para os processos de segregação previstos no plano.

Isso aliado a um envolvimento incessante em todos os processos de M&A e de negociação com credores, em meio a um ambiente de instabilidade e questionamentos de parceiros e clientes quanto à situação de continuidade da empresa, próprio a qualquer processo de recuperação.

Todo esse processo de transformação teve a primeira etapa iniciada em 2016, quando a Oi entrou em supervisão judicial com nível elevado de alavancagem acumulada ao longo dos anos, o que gerou alta probabilidade de insustentabilidade financeira.

O foco imediato foi a reestruturação da dívida e a proteção do caixa para evitar o colapso da empresa. Em dezembro de 2017, mais de um ano após o pedido de RJ, tendo ainda enfrentado uma desgastante disputa societária pelo controle da companhia, a aprovação do primeiro Plano de Recuperação Judicial marcou o início de uma nova fase.

Com um aumento de capital e a diluição da base acionária, a Oi consolidou sua posição como uma das principais true corporations do Brasil, abrindo caminho para a retomada dos investimentos mínimos para assegurar sua viabilidade futura.

Em um primeiro momento, a criação de um novo Conselho de Administração, majoritariamente independente foi um dos passos importantes e trouxe uma nova governança corporativa, alinhada com as melhores práticas de mercado.

Do ponto de vista estratégico, os investimentos realizados na infraestrutura de fibra óptica posicionaram a Oi como protagonista no mercado de conectividade e vieram a ser fonte da maior parte de suas receitas, substituindo o forte declínio das receitas  provenientes da telefonia fixa.

Vale destacar que a fase de transição de crédito, com a empresa ainda sob supervisão judicial no âmbito da RJ, tornou o acesso ao capital junto a bancos de varejo particularmente desafiador, para não dizer nulo. A percepção de risco elevou a necessidade de negociações com instituições financeiras especializadas e de operações de crédito estruturadas, essenciais para viabilizar os investimentos previstos.

Nesse cenário, em 2020, um aditamento ao plano de RJ foi aprovado, permitindo a continuidade do plano estratégico. Entre as principais ações estavam a separação estrutural dos ativos de infraestrutura de fibra, a venda de ativos, como a operação móvel, e a contratação de novas dívidas, todas quitadas nos anos seguintes com os recursos oriundos das vendas dos ativos, para assegurar a sustentabilidade financeira e consolidar o novo direcionamento comercial da empresa.

No entanto, os desafios financeiros e operacionais persistiram

Destaco entre os fatores de maior impacto o atraso na aprovação das vendas de ativos móveis e a infraestrutura de fibra, o litígio em torno do ajuste de preços da venda da UPI Móvel e a deterioração do cenário econômico, especialmente a desvalorização cambial, com impacto direto na execução do plano estratégico.

Esses fatores exigiram a readequação da estrutura de capital, levando a companhia ao pedido da sua segunda recuperação judicial, em março de 2023 e aprovada em abril de 2024 em Assembleia Geral de Credores, ainda em curso.

Esta aprovação se deu após um processo intenso de quase dois anos de negociação com credores, mas com resultados positivos de reestruturação dos passivos financeiros para níveis compatíveis com o potencial futuro da companhia, incluindo nova redução da dívida por meio da conversão em capital, haircut, melhores condições de pagamento, bem como a reestruturação dos contratos take or pay de longo prazo.

Estes últimos representaram um resultado inédito em processos de RJ conduzidos no Brasil. Como objetivos adicionais do plano estão previstos a venda da unidade de fibra além da continuidade da venda de imóveis.

Durante todo esse tempo, em que acompanhei essa evolução, trabalhamos com metas realistas e ao mesmo tempo desafiadoras, grande disciplina financeira e um cronograma de ações para resultados imediatos, mas sem perder de vista o médio prazo, levando em conta a importância do papel da Oi no setor de telecomunicações.

O que vemos agora é uma empresa que buscou e conseguiu conquistar alternativas para sua preservação e evolução, se tornando um caso emblemático no mercado brasileiro, ainda que restem desafios complexos pela frente.

Com efeito, o cenário macroeconômico segue desafiador, com altas taxas de juros domésticas e internacionais, além de uma desvalorização do real frente ao dólar.

Como já disse anteriormente, na Oi, nada é fácil

A dificuldade faz parte do jogo no mundo corporativo e a companhia continua, como sempre, imbuída de um forte espírito de preservação.

A meta é continuar trabalhando com transparência e comprometimento com a execução do plano, se preparando para novos desafios que venham a surgir, unindo esforços para superar as adversidades com seriedade, profissionalismo e, acima de tudo, integridade.

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