Mulheres têm o poder para decidir as eleições de 2026 (FG Trade/Getty Images)
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Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 15h00.
Por Elisa Dinelli*
As mulheres serão mais uma vez, por vontade própria ou não, a linha de frente na defesa da democracia em 2026, por meio do voto. Porém, para isso, é imprescindível a consciência de que a nossa vida tem que ser defendida ativamente.
Nosso bem estar e o de nossos filhos não são dados e não estão disponíveis livremente, pois, basta uma crise para que sejamos submetidas aos maiores horrores e às subtrações de nossos direitos. E sabemos muito bem que já vivemos inúmeras crises em um curto espaço de tempo no Brasil.
Sabemos também que, não importa em que lado político estejamos, as violências brutais pelas quais as mulheres brasileiras estão passando são cometidas por homens, movidos pelo machismo. Os mesmos homens que prometeram amar foram os que mataram, agrediram, queimaram e violentaram mulheres, apesar de terem jurado protegê-las.
Apenas nós, mulheres, podemos conquistar esses direitos. Confiando em nós mesmas. Votando em nós mesmas.
Nada acontece em um vácuo, tudo está conectado. Somos as primeiras a sermos vítimas de violências, mas também somos as primeiras a defender as soluções para os problemas que os brasileiros, mulheres e homens, estão passando.
Não há a intenção aqui de dizer que há uma relação causal entre sermos mais vulneráveis à violência e a ânsia que temos de defender maiores mudanças estruturais. Ainda assim, se nós, mulheres, vivemos em um mundo que não foi feito para que possamos escolher nosso próprio destino, querer construir um novo mundo torna-se não apenas legítimo, mas necessário.
A realidade como está não nos favorece. Por isso, seguimos na construção de uma outra, melhor. Seja na educação, na saúde, no combate à corrupção, na busca por soluções duradouras para o fim da violência, na infraestrutura das cidades e das residências ou nas políticas para as mulheres — especialmente quando mulheres negras ocupam posições de poder —, os resultados são mais eficientes e efetivos.
E com foco nos problemas reais do Brasil, não nas teorias conspiracionais e no pânico moral que não ajudam a vida real do povo, somos nós mulheres que encaramos de frente e que propomos as soluções.
Como já dito, este caminho não está dado. As mulheres precisaram e precisam lutar por direitos, pois eles não são cedidos livremente em um embrulho para presente. Para que as mulheres cheguem nos espaços de decisão e possam mudar a realidade, que já sabem que não as favorece e as violenta, é necessário um movimento robusto.
A cada quatro anos, nos acostumamos a ler e ouvir que “esta será a eleição mais importante desde a redemocratização”. Ouviremos novamente nas eleições 2026. Isto porque as crises políticas e do tecido social brasileiro continuam aí.
A democracia foi vilipendiada, e continuará sendo, se mudanças estruturais não forem feitas. Tudo continuará como está se as mesmas pessoas estiverem na mesma posição de poder.
Se o mesmo Congresso, que tentou se blindar de processos penais e criminais, em uma vergonhosa tentativa de se tornarem uma casta acima da lei brasileira; se estes mesmos políticos continuarem a ter o poder do orçamento secreto (e soturno) e de perdoarem golpistas, não há bem estar para a nossa geração e a próxima.
Não haverá prosperidade, não haverá a escolha do nosso próprio destino. E isto precisa ser a nossa maior preocupação para 2026. Os nossos sonhos e o nosso destino.
Se as mudanças estruturais estão nas mãos de quem hoje não se preocupa conosco, o poder de fazê-las precisa passar para outras mãos.
Sabemos, por tudo que vimos nas últimas décadas, que o Congresso é onde as mudanças que queremos precisam ser germinadas. Sabemos também que, infelizmente, é de lá que vieram as decisões mais ultrajantes contra a população e é o ramo da nossa democracia que mais ganhou poder nos últimos anos.
Assim, precisamos colocar lá quem de fato defende os interesses da população. Precisamos colocar mais mulheres na política comprometidas com essa mudança no Congresso.
A Elas no Poder está extremamente comprometida com essa mudança para melhor. Desde 2018, defendemos mais mulheres na política e sabemos o que está em jogo em 2026. Não basta votar em mulheres, é preciso votar em mulheres que defendam os nossos direitos.
Convidamos todas as mulheres a olharem para as candidatas ao Senado nos seus estados, para aquelas que de fato tenham propostas para os problemas reais do Brasil, para a legislação que nos defenda da violência que nos chocou em 2025, mas que já acompanhamos desde sempre, conosco e com nossas mães, filhas e amigas.
O feminicídio é a ponta do iceberg de uma estrutura que nos tira direitos todos os dias. Apenas nós, mulheres, podemos conquistar esses direitos. Confiando em nós mesmas. Votando em nós mesmas.
*Elisa Dinelli é bacharel em Relações Econômicas Internacionais e Diretora Executiva da Elas no Poder.