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Bolsonaro lança programas para ocupar áreas de adversários mirando 2022

Analista político da FSB Comunicação traz, em artigo especial para a Bússola, reflexão sobre lançamento do programa habitacional Casa Verde Amarela

Minha Casa Minha Vida: "Bolsonaro lançou seu programa habitacional pintado para a guerra" (Bússola/Reprodução)

Minha Casa Minha Vida: "Bolsonaro lançou seu programa habitacional pintado para a guerra" (Bússola/Reprodução)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 27 de agosto de 2020 às 06h56.

Última atualização em 27 de agosto de 2020 às 09h07.

O presidente Jair Bolsonaro lançou seu programa habitacional pintado para a guerra. Guerra eleitoral. Sob as cores nacionais, o Casa Verde Amarela foi catapultado pelo Palácio do Planalto em direção a 2022. É a nova versão do Minha Casa Minha Vida da era petista.

Algumas das principais batalhas da história tiveram seu fim quando a bandeira do adversário foi tomada em definitivo pela tropa vencedora, que substituía a flâmula derrotada e passava a hastear suas armas sobre o território dominado. Bolsonaro já avança sobre áreas petistas em sua campanha por mais quatro anos. O auxílio emergencial abriu um grande flanco nacional e permitiu ao governo federal estabelecer bases em regiões antes amplamente simpáticas ao lulismo, como o Nordeste.

O governo lançou seu plano habitacional com uma mão de tinta colorida, e elabora com dificuldades de orçamento o Renda Brasil, outra bandeira prestes a substituir o Bolsa Família, o programa que embalou a reeleição de Luiz Inácio em 2006. O presidente recusou a proposta inicial, quase a ilustrar um inusitado Robin Hood que retira dos pobres para dar aos miseráveis. Bolsonaro assumiu a defesa dos desvalidos, com ou sem bolsa.

Isso acontece porque o capitão sentiu o terreno aberto e, com instinto militar, está procurando ocupar toda área antes que tropas adversárias se reorganizem - apesar de não haver nenhum sinal até agora de comando central ou de ação coordenada da oposição.

O problema básico de ocupar país tão grande e pobre quanto o Brasil é aquele que toda grande ação militar exige desde seu nascedouro, como abastecer de suprimentos as tropas e viabilizar o domínio da área conquistada? Suprimentos custam dinheiro. No Podcast A+ desta semana discutiu-se os caminhos da política econômica, com esse dilema e outros mais.

Aumento de gastos

Só para se ter uma ideia, o gasto com o auxílio emergencial até o final deste ano, se ele for prorrogado até dezembro, pode significar o dispêndio de 10 anos do orçamento anual do bolsa família concentrados em nove meses de 2020. Explica isso, em parte, a popularidade do governo apesar da crise, além da pandemia, passando por sobre as polêmicas midiáticas e confrontos jornalísticos.

Mas eleitor é um bicho insaciável, está sempre olhando para frente e procurando saber o que virá a mais. Hoje, vêem o governo agindo para minimizar os efeitos da crise de forma satisfatória, atendendo a mais de metade dos lares do país com até R$ 1,2 mil. Se as próximas ações serão suficientes diante do quadro de poucos recursos, é o que se deve observar. E também como ficam os limites do teto de gastos. O ministro da Economia, Paulo Guedes, conta de bilhão em bilhão para acrescer valor ao Renda Brasil, tentando preservar o ajuste fiscal e não retirando do base pobre da pirâmide.

Fato é que o Brasil sairá de 2020 com sua dívida pública quase se equiparando ao total das riquezas geradas em um ano, o PIB. E procurando dinheiro para financiar os gastos sociais e a retomada da economia no longo prazo, com um mercado espreitando na trincheira dos juros mais altos quanto possível. Coisa para Prêmio Nobel nenhum resolver numa caminhada pela praia.

Sem planejamento adequado, grandes generais entraram em guerras e saíram derrotados. O inverno e o fogo derrotaram Napoleão na Rússia. Hitler sangrou em muitas frentes de batalha e deixou sem suprimentos flancos importantes como Stalingrado, o que permitiu a reação dos países aliados na frente oriental na Segunda Guerra Mundial.

A se observar, portanto, como o governo vai superar esse desafio. Bolsonaro e seus generais terão tempo até 2022. Só falta resolver a questão da escassez de recursos para dar solução à abundância de problemas.

*Analista Político da FSB

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