Bússola

Um conteúdo Bússola

Análise do Alon: Um olho na economia, outro no Congresso

Apontar culpados funciona durante algum tempo, mas, no limite, governos são eleitos para resolver problemas

A dúvida é se ou quando Lula enviará ao Congresso proposta acabando com a autonomia do BC (Arquivo/Agência Brasil)

A dúvida é se ou quando Lula enviará ao Congresso proposta acabando com a autonomia do BC (Arquivo/Agência Brasil)

Bússola
Bússola

Plataforma de conteúdo

Publicado em 6 de março de 2023 às 15h36.

A guerra das narrativas dá boa pista dos objetivos e táticas do governo neste 2023. Dada a premissa de que será um ano de baixo crescimento, mas de inflação algo resiliente, o Planalto já conseguiu alguma aderência à explicação de que a culpa será do Banco Central e de suas taxas de juros realmente estratosféricas.

A dúvida no momento são duas: 1) se ou quando o Executivo mandará seus votos demissíveis (Fazenda e Planejamento, dois dos três membros do Conselho Monetário Nacional; o outro é o BC) subirem a meta de inflação; e 2) se ou quando Luiz Inácio Lula da Silva enviará ao Congresso proposta acabando com a autonomia do BC.

Pois apontar culpados funciona durante algum tempo, mas, no limite, governos são eleitos para resolver problemas. Um problema, paradoxalmente, é medidas como as acima terem potencial para provocar deterioração de expectativas, e o resultado prático acabar neutralizando as intenções. É uma encruzilhada.

Uma vantagem de Lula: outra eleição presidencial, só daqui a quase quatro anos. Se tiver boa base congressual, pode perfeitamente atravessar um eventual vale de popularidade e esperar pela subida do morro. Em condições muito piores, Jair Bolsonaro viu a recuperação pós-pandemia turbinar seu desempenho em 2022.

Para atravessar, entretanto, Lula precisa manter sólida a base social que lhe deu um terceiro mandato e sustentar a disputa nos demais grupos. No momento, as pesquisas mostram os cerca de 40% que votaram nele no segundo turno felizes com o governo, e pelo menos metade do resto (quem votou em Bolsonaro ou não apertou nem 13 nem 22) lhe dando algum crédito.

No ambiente de profunda divisão política na sociedade, não chega a ser ruim. Mas está longe de repetir os cenários da louvação pós-posse em 2003 ou da consagração ao final do segundo mandato, em 2010. A sociedade hoje está em disputa. A direita está viva, nas duas vertentes. Apenas espera a oportunidade.

Pois as mesmas pesquisas mostram que dois em cada dez brasileiros concordam com as reivindicações dos manifestantes de 8 de janeiro, e, incrivelmente, um em cada dez concorda com os métodos utilizados por eles. Em caso de mudança no humor coletivo, é uma massa crítica disponível para alavancar movimentos.

De um lado, o governo trabalha para administrar esse humor e conta com a capacidade comunicacional do presidente. Mas o restrospecto recomenda que também tenha cuidado com o Congresso, onde sua base é mais fluida do que seria prudente. A pressão do momento é sobre o União Brasil.

O Planalto avalia que o custo-benefício de dar três ministérios à legenda não está sendo bom. A pressão serve para esquentar a chapa sob o partido, mas também para mandar um recado aos demais integrantes da base não propriamente programático-ideológica do governo.

Mas, se o sentimento der uma piorada, quem vai crescer na relação será o Parlamento, pois o estímulo a apoiar o governo é função de duas variáveis: há as vantagens materiais aos congressistas, mas se o eleitor estiver ressabiado o parlamentar acaba sentindo sua base eleitoral mais vulnerável à concorrência.

*Alon Feuerwerker é Analista Político da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedInTwitter | Facebook | Youtube

Veja também

https://exame.com/bussola/marcio-de-freitas-a-renovacao-politica-pela-vaidade/

https://exame.com/bussola/analise-do-alon-falta-combinar-com-os-americanos

https://exame.com/bussola/omarson-costa-na-febre-do-conteudo-profit-is-the-new-black/

Acompanhe tudo sobre:Bússola Análise do AlonPolítica

Mais de Bússola

Gerson Ferreira: o mercado de luxo dá certo no e-commerce? Veja o exemplo da Dior 

O que é Employee Experience e como ele proporciona vantagem competitiva para empresas em ascensão 

Transportadora digital aposta na segurança dos caminhoneiros para crescer sua base de motoristas

Victor Bicca Neto: contra a sede de impostos, há sede de solução