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A economia separa os dois antibolsonarismos

O que vai pesar mais na urna: o impulso para trocar o presidente ou para manter o trajeto econômico?

O antibolsonarismo está vivo na vontade de tirar Bolsonaro. Mas não tem coesão na economia (Ueslei Marcelino/Reuters)

O antibolsonarismo está vivo na vontade de tirar Bolsonaro. Mas não tem coesão na economia (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2021 às 09h15.

Última atualização em 21 de junho de 2021 às 09h38.

Por Alon Feuerwerker*

A correlação de forças na Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado da Covid-19 é um certo termômetro da movimentação política nesta antevéspera do processo eleitoral. Ali, refletindo o país, é visível a cristalização de um antibolsonarismo à moda de alguns “anti” das décadas passadas. Juntam-se visões antagônicas, mas unidas pelo propósito único de remover o governante. As diferenças? Ficam para depois.

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Há, entretanto, uma distinção, mesmo ainda sutil, na comparação com eventos históricos relevantes anteriores. Vamos lembrar os dois momentos recentes mais emblemáticos de hegemonia política, e emocional, do “anti”: a superação do regime militar pela Aliança Democrática de Tancredo Neves e a remoção do PT na deposição do governo Dilma Rousseff. Os dois episódios foram resultado de coalizões heterogêneas.

Mas bem menos que esta agora, potencial, contra Bolsonaro.

 Nos dois casos citados, acabou se solidificando um consenso razoável tanto na política quanto na economia. A Aliança de 1984/85 queria a redemocratização, mas também o desenvolvimentismo. E o antipetismo de 2015/16 desejava tirar Dilma, mas também vinha coeso em torno de avançar o que acabou entre nós ganhando o nome de “agenda liberal”. Que resiste bem, como mostram as votações para privatizar a Eletrobras.

 A situação tem algo de curioso. O antibolsonarismo está vivo na vontade de tirar Bolsonaro. Mas não tem coesão na economia. O antipetismo está vivo, entre outras coisas, no desejo de manter o rumo da política econômica aplicada pelo menos desde Michel Temer e continuada por Paulo Guedes. E aqui vem uma encrenca para quem busca o poder em 2022: o que vai pesar mais na urna: o impulso para trocar o presidente ou para manter o trajeto econômico?

Note-se que parece haver uma janela potencial para alternativas que proponham substituir Jair Bolsonaro, mas sem romper com a agenda liberal. Qual o problema, por enquanto? De novo, a capacidade de um candidato com esse perfil superar a barreira de entrada: a fidelidade de pelo menos um terço do eleitorado ao presidente e do mesmo tanto ao principal adversário no momento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 Por falar nele, sempre é possível especular com um deslocamento de Lula ao “centro” na política econômica. Esta semana ele disse que vai revogar o teto de gastos. Mas convém prudência. Será imprudente supor que Lula se aferrará a uma determinada linha econômica se ela trouxer risco para ele de derrota eleitoral. Especialmente se em meados do próximo ano a economia e o emprego estiverem em expansão.

Pesquisas temáticas costumam indicar que a maioria no Brasil quer mais Estado na economia, mas há um amplo consenso na elite contra políticas econômicas menos privatistas que a atual. Na teoria, o vencedor na urna precisará manter equilibrados e rodando esses dois pratinhos sobre as varetas. Ou então pode tentar ganhar a eleição dizendo uma coisa e depois fazer o contrário. Da última vez não deu muito certo.

* Alon Feuerwerker é analista político da FSB Comunicação

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