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60% das empresas ainda não têm estratégia de sustentabilidade

Webinar da Bússola debateu dados de estudo do Instituto FSB Pesquisa sobre adoção de boas práticas em sustentabilidade

Sustentabilidade é a base da legitimidade e da perenidade dos negócios (Marcin Jozwiak/Unsplash)

Sustentabilidade é a base da legitimidade e da perenidade dos negócios (Marcin Jozwiak/Unsplash)

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Publicado em 22 de outubro de 2021 às 17h25.

Os ativos ESG têm conquistado cada vez mais visibilidade no mercado em todo o mundo, mas qual é a adesão efetiva das empresas brasileiras a essa agenda? Está cada vez mais claro que não há progresso econômico sem inclusão social e respeito à natureza. Por isso, um bom negócio é aquele capaz de conciliar retorno financeiro e propósito. Essa foi uma das conclusões da live "Raio-X do ESG nas empresas brasileiras: desafios e oportunidades", realizada na última quarta-feira, 20.

No debate, foram apresentados os resultados de um estudo realizado pelo Instituto FSB Pesquisa para a Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB, que entrevistou mais de 400 CEOs e empresários que lideram organizações de grande e médio porte no país e avaliou o nível de maturidade das empresas brasileiras na gestão da sustentabilidade.

O webinar reuniu Danilo Maeda, Head da Beon, Marcelo Tokarski, sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência, e Sonia Consiglio Favaretto, especialista em Sustentabilidade e SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU. Para Tokarski, o estudo evidencia um espaço entre intenção e ação na pauta ESG. Apesar de quase 80% dos executivos afirmarem que questões sociais importantes estão presentes na estratégia de negócios, apenas 22% realizam gestão e acompanhamento dos seus temas ESG relevantes.

 

“De modo geral, o tema vem ganhando muito destaque, mas as empresas ainda possuem um grande caminho a percorrer para implementar de modo eficaz práticas socioambientais. O desafio identificado é, então, transformar o discurso em prática e fazer dessa agenda uma realidade concreta e abrangente do mundo corporativo nacional”, afirma Tokarski.

Avaliando a maturidade das organizações na gestão da sustentabilidade, “60% das empresas entrevistadas não possuem estratégia de sustentabilidade. Outros indicadores mostram que a adoção de determinadas boas práticas ainda é baixa, como: apenas 3% das empresas atrelam a remuneração dos seus executivos às metas socioambientais. E quando questionadas sobre o nível de importância atribuído internamente à agenda de desenvolvimento sustentável, apenas ⅓ dos empresários afirmam que é alto,” diz o especialista.

Para Danilo Maeda, Head da Beon, a pesquisa mostrou que as empresas em geral reconhecem a importância do assunto para os negócios, mas, apesar do interesse, a adesão às boas práticas ainda é limitada.

“Há um certo descompasso entre intenção e ação e outro entre ações dispersas e estratégia estruturada. Tenho visto muitas empresas que possuem iniciativas, mas não uma estratégia que integre essas práticas. O que falta no mercado é esse direcionamento”, declara Maeda.

Para o especialista, a agenda global, movida por investidores, consumidores, governos e sociedade civil em geral, deve impor que a conversa fique cada vez mais qualificada e mais ambiciosa.

Sonia Consiglio Favaretto, uma das maiores especialistas em sustentabilidade do país, reconhecida em 2016, pelo Pacto Global da ONU, como uma das dez pessoas do mundo que mais tem contribuído para o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, destaca dois grandes desafios para as empresas, que são: o conhecimento as pessoas precisam entender mais do assunto, os pilares, benefícios e estratégia. E a liderança, ou seja, os líderes precisam se aprofundar no tema para entender como incluir as empresas neste universo de maneira que faça sentido com o negócio. “De acordo com a pesquisa, apenas 31% das empresas estabelecem metas aos executivos. Esse é um ponto que devemos ter um olhar cuidadoso, pois sem metas não é possível gerenciar de forma estruturada o que se deve fazer. Se uma agenda é importante, é necessário valorizá-la - inclusive financeiramente. Outro ponto estrutural que me chamou atenção foi que apenas 29% das empresas possuem governança - não foi uma surpresa, mas é parte fundamental da transformação de uma empresa em questões ligadas a ESG”, afirma Sonia. A especialista ainda falou sobre o tema sob a perspectiva do impacto e da importância do conhecimento. “A disseminação de conhecimento traz resultados positivos. Isso é interessante porque a maior parte das empresas entrevistadas disseram ter ações, debates e treinamentos que ajudam as pessoas a conhecerem mais sobre a importância deste tema”, diz.

Os debatedores concordam que as exigências de boas práticas estão mais frequentes e o acompanhamento de desempenho em temas ESG também. Portanto, é importante considerar a qualidade da estratégia e a conexão entre sustentabilidade e negócio. Além de se antecipar a eventuais riscos ou demandas regulatórias, um investimento bem feito na gestão dos temas ESG tende a beneficiar o processo de geração de valor das marcas.

Sobre os riscos e oportunidades

Segundo Sonia Consiglio Favaretto, para que o compromisso com questões ambientais, sociais e de governança seja percebido como genuíno e não como ações artificiais, é necessário entender a essência do negócio para identificar o que é importante priorizar e seguir em uma agenda de ESG.

“Para que as empresas encontrem o caminho correto, é necessário se atentar ao objetivo do negócio e, aí sim, pensar em práticas e estratégias”, declara Favaretto.

Na visão dos debatedores, a sustentabilidade é a base da legitimidade e da perenidade dos negócios. O principal desafio atual é acelerar os processos. “A jornada de sustentabilidade tem um alvo móvel. Ou seja, conforme a gente avança, exige cada vez mais ações e posicionamentos das empresas”, afirma Danilo Maeda.

Para além dos resultados financeiros, o ESG tem impacto na reputação das empresas, na forma como ela é vista pelos seus stakeholders e como é percebida pela sociedade como um todo. E quando se pensa na construção e na preservação da reputação de uma marca, é fundamental que haja um trabalho estratégico de comunicação. Danilo afirma que “vivemos a era da verdade, um período marcado por hiperconectividade e demanda por transparência. Portanto o papel da comunicação neste contexto é analítico e de curadoria, que diz respeito ao contato e posicionamento consistente com diversos tipos de público. Temos novos desafios não só para as companhias, mas também para quem representa a linha de frente da estratégia e do posicionamento das marcas”.

Desafios impostos pela pandemia

A pandemia fez com que todos nós repensássemos o nosso papel na sociedade, a nossa contribuição para o outro e para o planeta. Os novos e complexos desafios impostos pelo coronavírus têm exigido respostas coletivas, que envolvem o setor público e a iniciativa privada para mobilizar toda a sociedade. A empatia, a solidariedade, o cuidado com o outro e com a natureza tornam-se ainda mais urgentes.

Para Marcelo Tokarski, o novo consumidor parece estar mais exigente e mais atento ao posicionamento das companhias, que além de mercadorias ou serviços, buscam também propósito. “O consumidor quer, mais do que nunca, se sentir seguro e representado. Estudos revelam que a pandemia intensificou este comportamento, o que faz com que as empresas busquem por soluções e novas preocupações com a segurança, impacto ambiental e representatividade em questões que estejam ligadas à vida das pessoas. O cliente do mundo pós-covid precisará se sentir incluído, compreendido e empaticamente atendido”, comenta.

O fato é que, embora a pandemia exija respostas e ações rápidas, ela fomentou inúmeras transformações e tendências, mas uma verdade permanece inabalável: o foco em pessoas precisa ser o norte da bússola de qualquer companhia verdadeiramente comprometida com o sucesso.

A importância da COP-26

A Conferência do Clima das Nações Unidas, que acontece daqui a poucos dias em Glasgow, na Escócia, apoiará o fortalecimento da agenda socioambiental nas empresas. Existe muita expectativa em relação aos planos de corte de emissões de gases do efeito estufa que serão apresentados pelos países, com o objetivo cumprir as diretrizes do Acordo de Paris, firmado em 2015, para combater o aquecimento global e mitigar os impactos das mudanças climáticas. Um aspecto estratégico que será definido nesta reunião do clima é o Manual de Regras do artigo sexto do Acordo de Paris, que estrutura o mercado de carbono. Tudo isso, claro, vai mudar a cara da economia global. E, além dos governos, as empresas terão de acelerar a adoção de novas tecnologias e práticas sustentáveis.

“Nunca falamos tanto sobre o mercado de baixo carbono. Existe, de fato, muita expectativa neste encontro e para que essa transição seja satisfatória, é necessário a ampliação do investimento na economia brasileira para setores de baixo carbono. Isso deve ocorrer por meio do engajamento de investidores alinhados com as metas de descarbonização propostas pelo Acordo de Paris”, diz Sonia Consiglio.

A economia de baixo carbono é a aposta do futuro tanto das empresas quanto dos governos comprometidos com o meio ambiente. A COP 26, terá grande relevância para o setor privado, pois, em médio e em longo prazo, a competitividade dos negócios será influenciada por suas decisões. Ademais, o conceito de ESG, torna-se cada vez mais decisivo para nortear investimentos e a decisão dos consumidores e delinear a reputação das empresas.

Também cabe atenção aos financiamentos, às recentes tecnologias e à adaptação às mudanças climáticas. “Essas oportunidades que chamamos de economia regenerativa estão disponíveis para qualquer organização. A chave é entender como o modelo de negócios irá se ajustar para entregar valor econômico, social e ambiental sem efeitos colaterais negativos”, declara Danilo.

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