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Lucas Provenza: nos 50 anos da cremação no Brasil, o que ainda está no caminho da normalização?

Apesar das vantagens do método funerário, apenas 9% dos mortos no país são cremados. Confira o artigo de Lucas Provenza, CEO do Grupo Zelo

Funcionário realizando manutenção em columbário, espaço dedicado a urnas funerárias (Grupo Zelo/Divulgação)

Funcionário realizando manutenção em columbário, espaço dedicado a urnas funerárias (Grupo Zelo/Divulgação)

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Publicado em 4 de abril de 2024 às 07h00.

Última atualização em 4 de abril de 2024 às 10h19.

Por Lucas Provenza*

Os crematórios fazem parte da história recente do Brasil, sendo o primeiro construído em São Paulo, em 1974. De acordo com dados do Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), entre 8% a 9% dos mortos no país são cremados. Enquanto isso, em países como os Estados Unidos, essa taxa está próxima dos 40%. No Japão 98% dos falecidos são cremados. No ano passado, as cremações realizadas pelo Grupo Zelo no Brasil, representaram 26,4% do total de serviços cemiteriais da empresa.

O fato é que, mesmo após 50 anos de prática, o avanço ainda esbarra em diversos fatores como a burocracia, a desinformação sobre o tema, o tabu da morte e, até questões religiosas. 

Autorizando a cremação

De acordo com a Lei Federal nº 6.015, a cremação só pode acontecer mediante “declaração de vontade” registrada em cartório pelo indivíduo ou por meio de autorização de parente de primeiro grau juntamente com duas testemunhas. É preciso, ainda, que haja laudo de óbito assinado por dois médicos ou um médico legista. No caso de morte violenta, é necessária autorização judicial.

Questões de religião

No aspecto religioso, em um país onde 89% da população acredita em um poder superior, conforme pesquisa da Global Religion 2023, também se leva em consideração as diferentes visões que pautam as diretrizes em torno desse processo. 

  • Entre os católicos, por exemplo, a aceitação da cremação ocorreu em 1963. Mas, ainda hoje, a igreja mantém uma série de regras relacionadas à conservação das cinzas. A orientação é que não sejam guardadas em casa, ou divididas entre familiares e tampouco transformadas em objetos de comemoração. 
  • Já as igrejas evangélicas não proíbem, mas recomendam prioritariamente o sepultamento convencional, seguindo um direcionamento mais tradicional, alinhado ao Velho Testamento. 
  • Os espíritas aceitam bem a prática, desde que seja respeitado o prazo de 72 horas após a morte, para que corra o tempo do espírito se desvincular do corpo. 

Mas, mesmo diante de um cenário controverso e conservador, temos notado um importante crescimento na demanda pela prática nos últimos anos. Acredito que essa tendência esteja diretamente relacionada com a nova perspectiva sobre a morte herdada da pandemia e também pela democratização e avanço dos planos funerários no país, ampliando o acesso à esta prática. 

A opção da cremação nos planos funerários 

Em dezembro de 2023, por exemplo, o total de planos do Grupo Zelo contratados com a opção de cremação ultrapassou a marca de 39 mil. Um levantamento nacional feito com a nossa base de prestação de serviços, que hoje possui mais de 200 unidades espalhadas por 13 estados e no Distrito Federal, sendo sete crematórios, apontou um crescimento de 72,76% na demanda pela cremação, comparando os últimos trimestres de 2022 e de 2023. Temos notado essa mudança inclusive no perfil socioeconômico das famílias que optam por este serviço

Impressões modernas

Observo que, com mais informação e cultura de planejamento entre as famílias, vem caindo por terra o senso comum de que esta é uma despedida para poucos. Por muitos, anos criou-se em torno da cremação, o mito de que é uma opção mais cara em relação ao sepultamento tradicional, o que não é verdade. Um dos aspectos que torna o custo-benefício mais atraente, por exemplo, é o fato de não precisar de um jazigo, que demanda um investimento inicial e custos de manutenção periódica.

A possibilidade de eternizar as memórias dos entes queridos de diversas formas, personalizando ainda mais a despedida, também é vista por muitos como uma vantagem. Após o processo, as famílias podem escolher levar as urnas ou guardá-las em columbários, que são espaços específicos para este fim, presentes nos cemitérios ou memoriais velatórios.

Uma opção para animais de estimação

Seguindo a tendência de crescimento da prática no Brasil, os serviços de cremação pet também tiveram um aumento significativo entre os clientes do Grupo Zelo. Existem cemitérios e crematórios voltados exclusivamente para animais.

Seja dentro dos planos funerários ou de forma particular, os tutores podem optar até mesmo por realizar um velório e receber uma urna exclusiva do pet, para dar o destino desejado, preservando a memória daquele membro da família. Comparando o terceiro e quarto trimestre de 2023, no Grupo Zelo, a cremação de pets teve aumento de 60,2% na demanda.

Vejo como positiva e importante toda essa movimentação do mercado funerário e o crescimento nas demandas relacionadas ao setor nos últimos anos. O aumento nas cremações é mais um degrau que alcançamos nesta jornada. A pandemia desdobrou um novo cenário, que veio de encontro a consolidação do conceito de cuidado com a morte no Brasil. O que as famílias encontram hoje é um segmento mais bem estruturado, sem deixar de lado o atendimento humanizado.

*Lucas Provenza é CEO do Grupo Zelo.

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