Pessoa usa máscara de proteção no metrô Sumaré, em São Paulo. (Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 6 de maio de 2020 às 17h53.
Última atualização em 6 de maio de 2020 às 20h29.
Ainda é cedo para dizer quando vamos sair dessa, mas o cenário mais provável para o Brasil em meio à pandemia do novo coronavírus envolve uma recuperação longa, estável e sem pico claro, uma vez que as medidas de isolamento não serão totalmente implementadas, segundo estudo da Bain & Company divulgado com exclusividade pela EXAME.
A consultoria prevê o colapso do sistema de saúde em estados menores ou mais pobres, sobretudo do Norte e do Nordeste. E, nos demais, grande demanda por hospitais públicos com possíveis crises regionais isoladas.
Sobre as políticas que visam reduzir a propagação da covid-19, como fechamento de lojas, bares, escolas e a proibição de eventos, o estudo afirma que devem durar quatro meses, devido à falta de coordenação, apesar de melhorias terem sido percebidas desde o início nos estados.
A produção pode recomeçar antes disso, no entanto, segundo a Bain, se houver uma tendência positiva na evolução dos casos. Medidas do tipo foram tomadas por todo o mundo em diferentes graus. No Brasil, a redução de mobilidade ficou na faixa de 40%, enquanto que alguns países chegaram à faixa de -70%.
O Brasil segue tendência de contágio semelhante à dos Estados Unidos, revela o estudo, com cerca de 45% dos aproximadamente 145.000 casos da doença na América do Sul, uma das regiões menos impactadas do mundo.
Em comparação a diversos outros países, o Brasil ainda está em um estágio de crescimento mais acelerado da propagação da doença. A taxa de crescimento de novos casos nos últimos dias foi de 7,8% ante 3,3% dos Estados Unidos, 1,9% na Espanha, 1,2% na Itália e 0,9% na Alemanha.
Demais países da América do Sul, como Chile e Argentina, apresentam cenários melhores, aparentemente próximos ao platô da curva de contágio.
"O Brasil está caminhando em uma linha tênue: a evolução dos casos está potencialmente sob controle, mas não há muito espaço para manobras", diz o estudo.
Entender a situação atual do país é difícil, segundo a Bain, já que o volume de testes não é suficiente e há grande atraso de notificações de mortes, que demoram em média de dez a 15 dias.
Além disso, cerca de 75% dos casos de interção por Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) ainda estão sendo investigados.
A parcela considerável de trabalhadores informais e com baixos salários também dificulta a situação do país em meio à crise, segundo o estudo, já que podem não ter opção econômica e/ou social que permita seguir o isolamento.
Assim que a mobilidade voltar a ser flexibilizada pelo país, autoridades ainda precisam acompanhar as chances de haver novas ondas da doença, já que uma pequena parte da população estará imunizada, alerta o estudo.
"O tamanho e a gravidade de novos surtos dependerão da rápida identificação de casos e subsequente isolamento e outras medidas de controle para reduzir a chance de cadeias de transmissão posteriores", diz.
A Bain destaca que países que não perderam o controle na contenção da pandemia, como Hong Kong e Singapura, adotaram extensas políticas de mitigação como fechamento de locais, higiene, muitos testes para mensurar o número de casos, quarentena, restrições de viagens e fechamento de fronteira. "Para que as medidas sejam efetivas, elas precisam entrar em cena nos estágios primórdios de contaminação", diz o estudo.
Nas últimas semanas, muitos países, sobretudo da Europa, que estão em estágios mais avançados de contaminação quando comparados ao Brasil, conseguiram controlar a transmissão do vírus e estão começando a flexibilizar gradualmente as políticas de isolamento.
Os casos ativos de covid-19 na China diminuíram constantemente desde meados de fevereiro; no resto do mundo, novos casos ainda estão superando o número de recuperações. O total de infectados pela covid-19 em todo o mundo já ultrapassa os 3 milhões.
Os estados brasileiros estão em diferentes estágios de contaminação pela covid-19, destaca o estudo. São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará têm maior número de casos confirmados, mas, de maneira geral, todos estão perto do limite da capacidade de seu sistema de saúde.
Os entes já começaram a discutir uma flexibilização das medidas de isolamento e a reabertura da economia. São Paulo, atual epicentro da pandemia no Brasil, planeja flexibilização do isolamento a partir de 11 maio. O processo será escalonado, regionalizado e considerará o sistema de saúde e fatores econômicos.
Outros estados tomam medidas mais rigorosas para conter a doença. Na última semana, Maranhão, Ceará e Pará decretaram lockdown, o bloqueio total das atividades, como estratégia de combate ao avanço da pandemia.