Voepass passou por recuperação judicial e acumula denúncias trabalhistas
Dívida ativa mostra débito de R$ 26,1 milhões, a maior parte com o estado de São Paulo
Agência de notícias
Publicado em 12 de agosto de 2024 às 18h56.
Uma das mais antigas companhias aéreas em atuação no país, com 29 anos de operação, a história da Voepass , antiga Passaredo, é marcada por momentos de alta e baixa no capítulo das finanças. Suspensão de atividades por problemas de caixa, recuperação judicial, dívida ativa na União estão entre os problemas. Mas a companhia já chegou a ter períodos de grande expansão e incluir em sua frota 17 aeronaves da Embraer e dois Airbus A310, realizando inclusive viagens ao Caribe.
Uma consulta ao portal da dívida ativa da União mostra que a Voepass tem um débito de R$ 26,1 milhões, sendo R$ 24,8 milhões com o estado de São Paulo. A empresa é sediada em Ribeirão Preto, a 313 quilômetros da capital. Os outros R$ 1,2 milhão, são relativos a dívidas trabalhistas. O Ministério Público do Trabalho (MPT), em Ribeirão Preto, recebeu, de 1999 a 2024, um total de 160 denúncias trabalhistas contra a Voepass.
Recentemente, o MPT recebeu denúncias relativas a irregularidades na jornada de trabalho. Após o acidente, duas denúncias foram protocoladas contra a Voepass, indicando irregularidades nas condições e na jornada de trabalho.
Empresa de capital fechado, não há informações financeiras em seu site. Segundo o Anuário do Transporte Aéreo da Agência Nacional de Aviação ( Anac ), que traz a situação financeira das companhias aéreas do país, a Voepass registrou prejuízo de R$ 50,6 milhões em 2019. Trata-se do último dado disponível da empresa no documento da Anac. Procurada, a Voepass informou que é uma empresa familiar de capital fechado e, por isso, não comenta sua situação financeira.
A empresa foi criada em 1995 e seu fundador, José Luiz Felício, tinha uma companhia de transporte rodoviário, a Viação Passaredo, fundada em 1978. Felício decidiu entrar no setor de aviação regional criando a Passaredo Transportes Aéreos.
Com a implantação do Plano Real, em 1994, que buscava a estabilização da economia, a empresa expandiu sua frota com dois Airbus A310 e começou a fazer voos fretados para o Nordeste e Caribe, em 1995, numa associação com agências de turismo. Mas em 2002, alegando dificuldades financeiras, a Passaredo suspendeu suas atividades por dois anos. Voltou a voar em 2004 e retomou o crescimento, quando tinha pelo menos 17 jatos da Embraer operando em sua frota.
Em 2012, a Passaredo entrou com pedido de recuperação judicial, com dívida estimada em R$ 150 milhões. Demitiu mais de 200 funcionários, cumpriu seu plano com credores e conseguiu sair da recuperação judicial em 2017.
Naquele ano, um acordo foi fechado para que a Passaredo fosse vendida à Viação Itapemirim, que tinha como objetivo entrar na aviação. Mas por descumprimento de cláusulas contratuais, o negócio não avançou.
Em 2019, a Passaredo deu mais uma passo para se expandir e comprou a MAP Linhas Aéreas, criando a Voepass Linhas Aéreas . Em julho passado, a Voepass anunciou que retomaria, a partir de janeiro de 2025, destinos como Barreiras (BA), Brasília (DF), Uberlândia (MG) e Vitória da Conquista (BA) ampliando sua atuação.
Numa entrevista coletiva na última sexta-feira, logo após o acidente com um de seus ATRs, que deixou 62 pessoas mortas em Vinhedo, interior de São Paulo, o CEO da empresa, Eduardo Busch, lamentou as mortes e foi questionado sobre a situação financeira da empresa. Ele disse que a companhia estava em dos seus melhores momentos.
Atualmente, a Voepass tem uma frota composta por 15 aeronaves de modelos fabricados pela ATR, uma empresa franco-italiana. Entre eles, estão os modelos ATR 72-500, ATR 72-600 e ATR 42-500. A empresa também fechou um acordo de compartilhamento de voos com a Latam. Atende cerca de 40 destinos e ano passado transportou 500 mil passageiros, sendo a quarta maior empresa aérea do país, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). De acordo com a Anac, a companhia é a quarta maior do Brasil, com uma participação de 0,5% do mercado nacional.