Fernando Haddad e Lula (Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
Da Redação
Publicado em 28 de outubro de 2012 às 19h25.
Brasília - O resultado do segundo turno de São Paulo marcou mais uma vitória de um estreante em eleições escolhido a dedo por Luiz Inácio Lula da Silva e reafirmou a liderança do ex-presidente dentro do PT e no cenário político nacional.
Ao derrotar José Serra, Fernando Haddad repetiu o feito de Dilma Rousseff, que há dois anos venceu o mesmo candidato na disputa que definiu o sucessor de Lula na Presidência.
Desta vez, em que pese os vários fatores locais para a eleição do petista, a proeza pode ser considerada ainda maior.
Se no caso de Dilma, Lula carregou como presidente a então ministra por cerca de dois anos a inúmeros eventos e inaugurações de obras e a transformou na "mãe do PAC"(Programa de Aceleração do Crescimento), para torná-la conhecida dos eleitores, desta vez o ex-ministro da Educação partiu praticamente do zero no conhecimento do eleitorado paulistano.
E a situação foi mais delicada ainda por conta da recuperação de Lula do tratamento contra um câncer, que fez com que entrasse mais tarde do que gostaria na campanha de Haddad.
A vitória não só amplia o poder ilimitado de Lula dentro do PT, mas também chancela sua influência entre aliados, que chegaram a duvidar da continuidade da força política do ex-presidente depois da descoberta, há um ano, de um câncer que o afastou temporariamente das articulações políticas.
Ao escolher Haddad, que iniciou a campanha com menos de 5 por cento das intenções de voto, Lula enfrentou gigantes petistas em São Paulo, como a ex-prefeita Marta Suplicy e o ministro Aloizio Mercadante. Precisou ainda costurar apoios entre aliados, que desejavam lançar candidaturas próprias.
Com a saúde não totalmente recuperada, por causa dos efeitos colaterais do tratamento contra o câncer, Lula precisou abandonar a ideia de percorrer o país em campanha de aliados para focar em São Paulo. Além da capital, focou na região metropolitana, visitando poucas cidades em outros Estados.
DERROTAS E o esforço concentrado em São Paulo cobrou o seu preço. Porque se a vitória na capital paulista pode ser classificada como espetacular, Lula também colheu derrotas importantes nesta campanha. As mais sentidas por ele foram Recife, Fortaleza e Salvador.
Na capital pernambucana, Estado onde o ex-presidente nasceu, o PT foi arrasado. O senador e ex-ministro Humberto Cosa ficou em terceiro lugar na disputa, atrás do candidato do governador e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, e do PSDB.
Em Salvador, Lula se empenhou para impedir a vitória do herdeiro do carlismo, Antonio Carlos Magalhães Neto, e em Fortaleza entrou numa briga dura contra os aliados do PSB, Cid Gomes (governador) e Ciro Gomes (seu ex-ministro).
Mas como disse um ministro do governo à Reuters, o preço pago valeu a pena. "Não importa onde mais o PT ganha ou perde. Para Lula, o resultado dessas eleições sempre dependeu de São Paulo", disse à Reuters o ministro.
E em Campinas (SP) quase que a mágica do "dedaço" deu certo também. Lula ajudou a levar mais um estreante em eleições para o segundo turno, Márcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mas o fôlego não foi suficiente para vencer neste domingo.
O apoio do ex-presidente ajudou ainda na campanha em Osasco, onde Jorge Lapas (PT) se tornou candidato com a saída da corrida eleitoral de João Paulo Cunha --condenado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção no julgamento do chamado mensalão.
Para aliados, o feito de Lula nestas eleições foi ainda maior por se tratar de um momento em que o partido passa por uma tentativa de "desmonte moral", com o julgamento no STF.
RENOVAÇÃO E FUTURO O ex-presidente, segundo duas lideranças de partidos aliados, teve a capacidade de ver antecipadamente que o PT precisava de renovação e que a melhor aposta eleitoral para o partido seria apostar em nomes novos.
"De certa maneira, desde Dilma e agora com Haddad, Lula parece estar refundando o PT", disse um aliado.
O debate sobre a necessidade de renovação do PT já afeta as articulações internas do partido para 2014, em especial nomes de possíveis pré-candidatos ao governo de São Paulo.
"Mais uma vez, caberá a Lula escolher seu candidato ao governo, e é ele quem vai decidir se quer um nome conhecido ou se irá apostar novamente em um rosto novo", disse um ministro petista.