Brasil

Vitória de Dilma reforça permanência do PT por fator social

No poder desde 2003, partido confirmou em 2014 sua hegemonia, na eleição mais apertada e belicosa desde a redemocratização do país

Membros do MST comemoram o resultado das eleições presidenciais de 2014, que garantiu a vitória de Dilma Rousseff (PT) (Nacho Doce/Reuters)

Membros do MST comemoram o resultado das eleições presidenciais de 2014, que garantiu a vitória de Dilma Rousseff (PT) (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 26 de outubro de 2014 às 19h56.

Rio de Janeiro - Conhecida por sua personalidade forte e pelo perfil técnico, a presidente Dilma Rousseff (PT) foi reeleita neste domingo ao vencer o candidato Aécio Neves (PSDB) no segundo turno e continuará por mais quatro anos à frente do governo.

No poder desde 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu seu primeiro mandato, o PT confirmou em 2014 sua hegemonia, na eleição mais apertada e belicosa desde a redemocratização do país.

Com um perfil notadamente técnico e fama de "gerentona" irredutível, Dilma derrotou Aécio, líder tucano com fama de "galã", sobretudo graças ao capital social gerado pelos programas ampliados em seu mandato e iniciados no governo de seu antecessor, Luis Inácio Lula da Silva.

Apesar de Aécio ter aparecido à frente nas primeiras pesquisas de intenção de voto do segundo turno, colocando em dúvida a reeleição da primeira mulher presidente do país, Dilma mostrou que se tem algo que sabe fazer é se recuperar de um golpe e voltar à batalha.

Nascida em Minas Gerais e radicada no Rio Grande do Sul, duas vezes divorciada e avó de um menino, de sua única filha, Dilma descende de um imigrante búlgaro e de uma professora brasileira.

Na juventude, ela entrou na militância política e apoiou grupos clandestinos que combatiam a ditadura militar que governou o país entre 1964 e 1985, foi presa aos 19 anos e torturada durante os três anos que passou presa, acusada de "subversão".

Depois de solta, se estabeleceu no Rio Grande do Sul, onde se formou em economia e se filiou ao único partido permitido durante a ditadura.

Durante a redemocratização, participou, junto com seu então marido, dos esforços liderados por Leonel Brizola para recriar o Partido Trabalhista, banido na ditadura, o que deu origem ao PDT. Pelo partido ela ocupou vários cargos técnicos no governo do Rio Grande do Sul e em prefeituras gaúchas.

Ela deixou o PDT em 1998, depois de o partido romper a aliança com o PT na administração de Olívio Dutra na prefeitura de Porto Alegre, e se filiou ao Partido dos Trabalhadores.

Em 2002, foi convidada por Lula para assumir o ministério de Minas e Energia e depois do escândalo do mensalão a chefia da Casa Civil.

Naquela época, Dilma era uma desconhecida para a maioria dos eleitores brasileiros. Mesmo dentro do PT não houve consenso imediato sobre o nome escolhido por Lula. Isso pouco pareceu importar ao ex-presidente, de quem ela se tornou braço direito.

Sua candidatura foi anunciada em 2010 enquanto se recuperava de um câncer linfático, curado menos de um ano depois.

A forte personalidade, que algumas vezes flerta com os limites da dureza, a estigmatiza como uma pessoa sem carisma, exatamente o oposto da personalidade de Lula, mas o que não a impediu de convencer mais da metade dos 142,8 milhões de eleitores convocados hoje a votar.

Esta economista de 66 anos está mais à esquerda do espectro político e se destaca pelo compromisso com as medidas de redistribuição da renda que tiraram 30 milhões de pessoas da pobreza, o que deu a ela o apoio e a fidelidade das classes populares.

Quanto à política externa, a presidente reeleita se disse disposta a reforçar a posição brasileira no grupo dos países emergentes, no Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a promover uma aproximação entre os países do Mercosul e os da Aliança do Pacífico.

Já sua relação com os Estados Unidos parece estagnada após o escândalo de espionagem denunciado por Edward Snowden. Ela criticou o fato de suas comunicações e e-mails terem sido interceptados pelos serviços de inteligência norte-americanos.

O maior desafio que Dilma terá que enfrentar nos próximos quatro anos será a recuperação do ritmo de crescimento da economia do país, que terminará 2014 com um crescimento muito abaixo do previsto no começo do ano, e recuperar a confiança dos investidores internacionais, que preferiam o perfil mais liberal de Aécio.

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