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Virada Cultural da era Doria sofre sua mudança mais radical

Logo depois de assumir o cargo no início do ano, o prefeito de São Paulo anunciou que levaria boa parte do evento para o Autódromo de Interlagos

Virada Cultural: a maior novidade é a retirada dos palcos maiores do centro (Virada Cultural de São Paulo/Divulgação)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de maio de 2017 às 08h32.

Última atualização em 9 de maio de 2017 às 10h09.

O prefeito João Doria e seu secretário de Cultura, André Sturm, receberam a imprensa na manhã desta segunda, 8, para anunciar as mudanças na Virada Cultural de 2017.

O encontro foi feito na sede da Prefeitura, no Viaduto do Chá, e teve ainda à mesa o responsável pela curadoria, o ator Hugo Possolo; o presidente da SPTuris, David Barioni; e o cônsul geral de Portugal, Paulo Lourenço Lopes.

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O anúncio era esperado com grande expectativa depois que Doria anunciou, logo depois de assumir o cargo, no início do ano, que levaria boa parte da Virada para o Autódromo de Interlagos, provocando reações negativas no meio cultural.

Doria não falou em recuo, mas a prática mostra que a operação Interlagos foi radicalmente modificada para a Virada de 2017, que será dias 20 e 21 próximos e contará com um orçamento de R$ 13 milhões contra os R$ 15 milhões de 2016.

Se a proposta era de levar para Interlagos atrações com maior potencial de atrair grandes concentrações, o espaço é apresentado agora como abrigo de uma programação "voltada para toda a família", como diz o prefeito. Não haverá atrações à noite, mas apenas pela manhã e tarde de domingo.

A maior novidade é a retirada dos palcos maiores do centro. As atrações se apresentarão em 30 tablados, mais informal e de elevação bem rente à rua. A disposição desses tablados irão sugerir rotas predeterminadas para serem seguidas, de show em show.

"Queremos evitar as zonas sombrias que havia em outras edições. A ideia é que as pessoas venham passear no centro, e não que procurem apenas os grandes shows", disse Sturm.

Outra novidade serão os chamados "cortejos cênicos". As atrações se apresentarão em deslocamento, lembrando blocos do carnaval. Muitos nomes da programação não condizem, no entanto, com o discurso de levar atrações de menor apelo midiático ao centro.

Cortejos que irão transitar por locais como Rua Xavier de Toledo e avenidas Ipiranga, São João e São Luis terão Falamansa, Banda É o Tchan, Beto Jamaica, Cumpadre Washington e Grupo Molejo.

Nos tablados, há também gente que pode surpreender os esforços da organização por atrair um público menos interessado no grande show e mais em "passear pela cidade".

Sobretudo em combinados reeditados de programação de Viradas passadas, a alta concentração será certa em espaços como o Boulevard São João, à meia-noite de sábado para domingo, com o Baile por Tim Maia Racional, ou o República, da soul music, onde se apresentarão Tony Tornado, Di Melo e Banda Black Rio.

O Largo do Arouche, que havia sofrido com reclamações de moradores, passou por uma mudança radical. O palco brega, um sucesso consagrado em viradas passadas, vira o tablado do jazz, com DJs e músicos intercalados, como Carlos Malta, DJ Nuts e a Nômade Orquestra.

As atrações maiores, que antes abriam e fechavam oficialmente a Virada em shows no Palco Julio Prestes, foram pulverizadas para outras regiões, de comunicação viária distante do centro de São Paulo.

Daniela Mercury abre a programação no Sambódromo do Anhembi, na região norte, às 18h de sábado. Fafá de Belém, Titãs e Banda Olodum também foram para lá.

A Chácara do Jockey, na região oeste, terá a abertura de Liniker e mais a paraense Dona Onete (à 1h30 de domingo) e Nando Reis (fechando, às 18h de domingo).

O Parque do Carmo, na zona leste, terá Fagner com o grupo de forró Bicho de Pé, Alcione e Diogo Nogueira. E a Praça do Campo Limpo, na sul, concentrará atrações como MV Bill, Mart'nália e grupo Fundo de Quintal.

A estratégia cria dificuldades de locomoção para quem quiser estar em alguns desses shows sem deixar de curtir o charme do centro.

O público não se divide em pessoas que querem ver seus ídolos e outras que preferem o charme da cidade. Até 2016, era possível fazer os dois.

A organização sustenta o discurso do "olhar com calma para a cidade" durante a noite da Virada, como diz Possolo. "As pessoas vão poder até mesmo andar sem o mapa", fala, referindo-se aos circuitos que poderão conduzir o público pelos palcos.

A questão aqui será saber se o público quer ver as atrações que estarão dispostas nesses roteiros ou se vai preferir montar os circuitos que bem entender.

O Teatro Municipal vai deixar de abrigar um dos pontos altos de Viradas passadas, as reedições de discos históricos, quando artistas tocavam álbuns relevantes de suas carreiras do início ao fim. Outras ideias de edições passadas permanecem.

O tablado dos tributos, no Boulevard São João, vai lembrar de Stevie Wonder (com o show já rodado de Curumin), Madonna (pela cantora Blubell) e Jackson do Pandeiro, por Silvério Pessoa.

Ao contrário de outras edições, quando a organização foi surpreendida por mortes próximas ao evento, como as de Cauby Peixoto e Inezita Barroso, não houve agilidade para incluir um tributo a Belchior.

Jerry Adriani, morto há duas semanas, será lembrado no Centro Cultural da Penha por um combo de atrações como Autoramas, Eduardo Araújo e Kiko Zambianchi.

Outros espaços retornam, como o Piano na Praça Dom José Gaspar, que terá Nelson Ayres, Amilton Godoy e Eduardo Dussek.

André Sturm diz que as mudanças na Virada foram decididas em acordo entre ele e o prefeito. "Queremos trazer as pessoas para conhecer o centro, mas que elas voltem. Entendemos que quem quer assistir a grandes shows vai fazer isso perto de suas casas." Doria afirma que a ideia com as mudanças foi a de retomar o espírito original da Virada, inspirada nas Noites Brancas de Paris, que não previa grandes aglomerações.

Possolo fala na intenção de se tirar o protagonismo colocado no artista nas últimas edições. Com a inclusão de mais artes cênicas na programação, como uma lona que será armada no Largo do Paissandu, ele acredita estar dando mais visibilidade ao "teatro, à dança e ao circo, que nem sempre tinham presença tão grande na Virada". "Não queremos o centro esvaziado, o que fizemos foi uma mudança qualitativa", diz André Sturm.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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