Diante das dúvidas do grupo, Meirelles reforçou o assédio aos partidos do 'Centrão' e também ao PR, chefiado por Valdemar Costa Neto (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de julho de 2018 às 17h27.
Última atualização em 18 de julho de 2018 às 17h28.
Brasília - O pré-candidato do MDB ao Palácio do Planalto, Henrique Meirelles, intensificou as negociações com o 'Centrão'. Até agora, o bloco formado por DEM, PP, PRB e Solidariedade está mais inclinado a apoiar o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, mas ainda negocia com o tucano Geraldo Alckmin. Diante das dúvidas do grupo, Meirelles reforçou o assédio aos partidos do 'Centrão' e também ao PR, chefiado por Valdemar Costa Neto.
"Vamos agarrar o homem", brincou ele, numa referência a Costa Neto, ao ser lembrado pela reportagem de que o PR está "solto", após o fracasso das negociações com o pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro. "Não vai ficar solto, não. Nós vamos atrás", emendou o ex-ministro da Fazenda.
O Centrão quer atrair o PR para uma aliança que, se tudo correr como o roteiro planejado pela maioria de seus integrantes, poderá ter o empresário Josué Alencar como vice na chapa liderada por Ciro. Josué é filho do vice-presidente José Alencar, morto em 2011.
A reportagem apurou que Meirelles conversou nesta quarta-feira, 18, com o presidente do PRB, Marcos Pereira, e ofereceu ao partido a vice para o empresário Flávio Rocha, dono da Riachuelo. Na última sexta-feira, Rocha desistiu de sua pré-candidatura ao Planalto. O PRB parece mais próximo de Alckmin, mas Rocha rechaçou a possibilidade de ser vice do ex-governador tucano ou de qualquer outro candidato. Alegou estar saindo do jogo político e retornando à vida empresarial.
Com 1% das intenções de voto na maioria das pesquisas, Meirelles fortaleceu a ofensiva sobre o PRB e outros partidos do 'Centrão', além do PTB de Roberto Jefferson, que promete apoiar Alckmin. Ainda nesta quarta, o ex-titular da Fazenda vai se encontrar com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP e defensor da aliança com Ciro Gomes.
Apesar dos esforços de Meirelles, uma dobradinha com o MDB não é considerada pelo 'Centrão'. Embora os partidos do bloco comandem ministérios importantes, como Saúde, Cidades, Agricultura e Educação, o diagnóstico ali é de que o ex-ministro não decola e, pior, o presidente Michel Temer será "tóxico" para quem ficar ao lado do MDB na campanha.
O Planalto ameaça tirar cargos de quem se unir a Ciro, que chamou Temer de "quadrilheiro" e "ladrão". A portas fechadas, porém, dirigentes do 'Centrão' afirmam que Temer está no fim do governo, precisa dos antigos aliados para aprovar projetos no Congresso.
O MDB fará convenção no dia 2 de agosto para oficializar a candidatura de Meirelles, em Brasília. Pelas contas do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha - também vice-presidente do MDB -, o ex-comandante da equipe econômica tem, hoje, o aval de 443 dos 629 convencionais.
Mesmo assim, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) lidera um movimento contra a candidatura de Meirelles. Em vídeo enviado aos delegados que participarão da convenção, Renan pede voto contra o ex-ministro e diz que o MDB não pode se transformar em uma "legenda de aluguel, movida pelo interesse do sistema financeiro".
Adversário de Temer, o senador prega que o partido não tenha chapa própria ao Planalto para que os Estados façam acertos regionais como bem entenderem. Em Alagoas, por exemplo, Renan está com o PT.
Após participar, nesta quarta, do Fórum de Mobilidade ANPTrilhos, que promove sabatina com presidenciáveis, Meirelles disse ter segurança de que será escolhido candidato do MDB na convenção. "Já temos vasta maioria dos votos", insistiu. Em seguida, deu uma estocada em Renan ao dizer que divergências com o senador servem para mostrar o "contraste de biografias".
Indagado sobre o fato de não ter fechado qualquer aliança até agora, o ex-ministro repetiu que não está isolado na campanha. "Mas eu não gosto de anunciar os partidos com quem estou conversando. Gosto de anunciar resultados", ressalvou.
No Fórum de Mobilidade, Meirelles defendeu a autonomia das agências reguladoras na fiscalização de obras para garantir o transporte sobre trilhos. "O governo deve deixar explícito que as agências não serão usadas simplesmente como arranjos políticos", afirmou ele, em discurso contrário à atual prática, que privilegia o loteamento dessas autarquias. Nos últimos tempos, por exemplo, o MDB não escondeu a disputa por assentos nas agências reguladoras.
Apesar de não querer entrar em confronto com seu próprio partido, Meirelles disse que as agências precisam seguir o exemplo da Caixa Econômica Federal. "Cargos têm que ser ocupados por pessoas com experiência profissional e qualificação adequada. Eu já fiz isso quando fui ministro da Fazenda, com o estatuto da Caixa", comentou o pré-candidato.
Questionado sobre reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta quarta, mostrando que a Receita, o Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vão fiscalizar suspeitas de uso de dinheiro em espécie para caixa 2 de campanha nas eleições, Meirelles disse que a medida faz parte de uma "trajetória esperada e necessária".
Ao ser perguntado por que a iniciativa não foi tomada antes, o ex-ministro afirmou que a Receita está "o tempo todo melhorando os seus procedimentos". Meirelles destacou que o secretário da Receita, Jorge Rachid, foi escolhido por ele para o cargo e mencionou convênios internacionais firmados quando foi ministro da Fazenda, de maio de 2016 a abril deste ano, para o combate à lavagem de dinheiro e evasão fiscal. "A expectativa é de que a Receita seja cada vez mais eficiente no seu trabalho arrecadatório", argumentou.