Bolsonaro: presidente é alvo de críticas por queimadas na Amazônia (Adriano Machado/Reuters)
Beatriz Correia
Publicado em 23 de agosto de 2019 às 18h09.
Última atualização em 23 de agosto de 2019 às 18h14.
São Paulo — Após a confirmação de que o presidente Jair Bolsonaro fará um pronunciamento, em redes de televisão e de rádio nesta sexta-feira (23), sobre os incêndios na Amazônia, usuários das redes sociais começaram a organizar um "panelaço" a ser feito durante a fala. As hashtags "panelaço" e "panelaçohoje" estão nos trending topics do Twitter nesta tarde.
O pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional vai ocorrer às 20h30, e a previsão é de que o presidente anuncie medidas sobre os incêndios na Amazônia, como o envio das Forças Armadas para a região, com o objetivo de controlar o fogo.
O movimento teve o apoio do cantor Marcelo D2. "Quem ele vai culpar pelos incêndios?", publicou o artista em referência à fala do presidente sobre ONGs serem as responsáveis pelo fogo nas florestas.
O Bozo vai falar hoje na tv ? Qual mentira vcs acham q ele vai contar ? Quem ele vai culpar pelos incêndios ? #panelaço
— Marcelo D2 (@Marcelodedois) August 23, 2019
Alguns internautas até sugeriram aplicativos para fazer o protesto sem danificar as próprias panelas.
Vou baixar o App e ligar na caixa de som! #panelaco #panelaço #panelacohoje https://t.co/4NWvIUcIUM
— Comunista Delirante🚩🚩🐾🐶🐱 (@justine_slv1) August 23, 2019
Chegou o dia do nosso #panelaco - Hoje pronunciamento oficial do presidente @jairbolsonaro as 20h30 em rede nacional de rádio e TV.
Vai ter #panelaço, vai ter #panelacohoje— Rodrigo Giraldi 🎨🖱🚩🇧🇷 (@rodrigofgiraldi) August 23, 2019
Os chamados "panelaços" surgiram na época do governo de Dilma Rousseff como uma forma de protesto. Era comum, durante os pronunciamentos da então presidente, principalmente na época que antecedeu o impeachment, os manifestantes baterem panelas quando Dilma aparecia na TV.
A prática não foi tão comum durante a gestão Temer. Mas, agora, o ato voltou a ser planejado nas redes sociais. O protesto ocorre após repercussão nacional e internacional das queimadas na região amazônica e do consequente posicionamento do governo sobre a questão.
As críticas ao governo Bolsonaro começaram após a divulgação pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de dados sobre as queimadas no país. De acordo com o órgão, entre janeiro e agosto de 2019, as queimadas aumentaram 83% em relação ao mesmo período do ano anterior. No total, foram 72.843 pontos de incêndio, o maior número registrado nos últimos 7 anos.
A pesquisa também alerta para dados do desmatamento, que apresentaram um avanço de 40% entre agosto e julho deste ano. O mês passado registrou o pior número de alertas de perda de floresta para um mês na série histórica, referentes a 2.254,9 km². No mesmo mês em 2018, o índice foi de 596,6 km², um aumento de 278%.
Após o posicionamento do governo, manifestações pelo país foram convocadas em favor da Amazônia. Atos em defesa da floresta são organizados em pelo menos 11 cidades para os próximos dias.
A situação ganhou destaque também na imprensa e de líderes internacionais. O presidente da França, Emmanuel Macron, disse na quinta-feira, 22, que as queimadas na Amazônia são uma “crise internacional” e “uma emergência”. Pediu, ainda, que o tema seja “prioridade” nas reuniões do G7, o grupo que reúne as sete maiores economias do mundo, que começam neste final de semana em solo francês.
Bolsonaro, porém, rebateu o presidente francês e criticou Macron ter usado uma imagem que não é dos atuais incêndios da Amazônia em sua postagem.
Our house is burning. Literally. The Amazon rain forest - the lungs which produces 20% of our planet’s oxygen - is on fire. It is an international crisis. Members of the G7 Summit, let's discuss this emergency first order in two days! #ActForTheAmazon pic.twitter.com/dogOJj9big
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) August 22, 2019
O jornal britânico The Guardian noticiou que Bolsonaro culpou ONG’s pelo aumento dos incêndios florestais na Amazônia, mas não trouxe dados para embasar sua afirmação. E o site da revista americana National Geographic relacionou o aumento do número de queimadas às crescentes taxas de desmatamento na região amazônica. “As chamas são tão grandes que a fumaça pode ser vista do espaço”, apontando também para possíveis mudanças climáticas causadas pelos incêndios.