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Um mês de malabarismos de Temer para se manter no poder

Contrariando prognósticos, o presidente supera obstáculos e parece disposto a enfrentar a crise instaurada no país, após as delações da JBS virem à tona

 (Beto Barata/PR/Fotos Públicas)

(Beto Barata/PR/Fotos Públicas)

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AFP

Publicado em 14 de junho de 2017 às 15h29.

Última atualização em 14 de junho de 2017 às 15h33.

Muitos duvidavam de seus dotes acrobáticos, mas Michel Temer completará um mês fazendo malabarismos na corda bamba. O presidente vem superando vários obstáculos e parece disposto a enfrentar com firmeza o novo que se apresenta: uma denúncia formal por corrupção, que poderá afastá-lo do cargo.

Superada a prova de fogo do TSE na semana passada, Temer concentra suas energias agora no Congresso, seu principal aliado desde que assumiu o poder em 2016 depois do afastamento de Dilma Rousseff.

O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar ao STF nos próximos dias uma denúncia formal contra o chefe de Estado, investigado por corrupção, obstrução da justiça e organização criminosa.

Mas se o caso avançar no STF, a denúncia deverá ser validada por dois terços da Câmara de Deputados, uma possibilidade relativamente remota, já que, apesar de impopular, o presidente mantém uma maioria sólida no Congresso.

Sua blindagem que é reforçada pelo fato de que os escândalos de corrupção investigados pela "Lava Jato" também perseguem dezenas de políticos.

É uma situação de extrema tensão que, paradoxalmente, acaba por favorecer Temer.

"Estamos vendo como a base do governo está se organizando para tentar rejeitar a denúncia de forma rápida, de enterrar a proposta. Um dos fatores que dá força é a situação criminal do presidente, que é muito semelhante a de alguns parlamentes, que tendem a se solidarizar com ele", declarou à AFP o deputado Alessandro Molon (REDE-RJ)

Molon, um dos congressistas que apresentou um pedido de 'impeachment' contra Temer, assegura que o presidente busca sua vitória "de todas as formas" e desbloqueou nas últimas semanas vultuosos orçamentos destinados aos parlamentares.

Aritmética

Temer está lutando - até agora com sucesso - para sobreviver desde que, em 17 de maio, veio à tona a gravação de Joesley Batista, um dos donos da JBS, em que o empresário menciona o pagamento do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba, com a suposta anuência do presidente.

O presidente nomeou recentemente dois juízes para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um movimento que os analistas destacam como fundamental para a apertada vitória de (4-3) que evitou a cassação da chapa que compôs com Dilma Rousseff - e a perda de seu mandato - sob acusações de abuso de poder e financiamento ilegal de campanha.

Apesar de partidos menores terem abandonado rapidamente o governo, Temer conseguiu que seu principal aliado, o PSDB, se mantivesse ao seu lado.

A relativa proximidade das eleições de outubro de 2018 está nos cálculos dos partidos políticos, obrigados pelo sistema eleitoral a fazer estranhas alianças para governar. A perplexidade é ainda maior uma vez que até mesmo Aécio Neves, presidente afastado do PSDB, está na mira da Justiça.

"O governo tem instrumentos aritméticos para desacelerar o avanço desta crise, mas como ele tem pouquíssimo apoio social (...), a crise pode se estender de forma crônica", acredita Alon Feuerwerker, analista político da FSB Comunicação.

À espera das reformas

Enquanto se concentra em salvar a própria pele, Temer deixa em segundo plano sua bandeira de governo: as reformas para tirar o Brasil da pior recessão de sua história.

Isso tem custos aos quais o mercado está muito atento, apesar do tímido crescimento econômico do primeiro trimestre do ano, do qual Temer tenta tirar crédito.

O desgaste político do presidente poderá impedir que concretize a aprovação da reforma trabalhista e da Previdência, esperadas ansiosamente pelo mercado, mas que dividem o Congresso por sua impopularidade.

Além disso, o Planalto continua assombrado pelo fantasma de possíveis novas delações comprometedoras de detidos importantes, como o ex-assessor de Temer, Rodrigo Rocha Loures; de Lúcio Funaro, o operador financeiro de Eduardo Cunha; ou do próprio Cunha.

"A situação na qual nos encontramos, de uma resistência às reformas com as incertezas produzidas por [possíveis] delações premiadas é extremadamente grave", declarou o ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, ao jornal Valor.

Em um mês de crise, Temer parece "um pouco mais fraco, mas não o suficiente para cair", conclui Feuerwerker.

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