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Últimos 30 dias: o que aconteceu e o que virá para Temer?

Com o Congresso relativamente estável, agora o desafio de Temer será melhorar sua imagem perante o eleitorado

O presidente em exercício, Michel Temer: com o Congresso estável, agora o desafio é melhorar imagem perante o eleitorado (Ueslei Marcelino/Reuters)

O presidente em exercício, Michel Temer: com o Congresso estável, agora o desafio é melhorar imagem perante o eleitorado (Ueslei Marcelino/Reuters)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 26 de julho de 2016 às 18h46.

Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 11h53.

São Paulo – Com votação do impeachment de Dilma Rousseff (PT) no Senado esperada para 25 a 27 de agosto, estamos agora nos últimos 30 dias de Michel Temer (PMDB) como presidente provisório.

Com a interinidade perto do fim, EXAME.com repete uma análise das expectativas para os dias de Temer no Palácio do Planalto. A versão de primeiros 30 dias foi feita em junho, medindo as possíveis dificuldades e cenários que o peemedebista enfrentaria.

Para analistas então consultados à época, a tendência era que Temer se confirmasse como presidente efetivo, o que deve de fato acontecer.

O grande trunfo do peemedebista, disseram, não foi por virtudes como estadista, mas a impressão pública e de mercado que a volta da petista causaria maior desgaste e agravamento da crise econômica.

De acordo com bastidores veiculados pelos principais jornais do país, há cerca de um mês do dia decisivo, o clima no PT é de conformismo com essa hipótese. Segundo a coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo, o líder do partido e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seguirá atacando Temer publicamente, mas aceitará uma proposta de diálogo.

De junho para cá, também, a escolha de integrantes para o governo está mais criteriosa e cuidadosa, visando a evitar desgastes com troca de ministros, como aconteceu no primeiro mês. Temer, que havia prometido um “ministério de notáveis”, foi obrigado a ceder à política de coalizão e lotear as pastas entre partidos aliados.

Na equipe, entraram nomes políticos de peso, mas também de indivíduos investigados pela Operação Lava Jato. Foram tornadas públicas denúncias que derrubaram Romero Jucá (PMDB-RR), do Ministério do Planejamento, e o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

Os postos continuam hoje chefiados por interinos. Como noticiado em EXAME.com, a escolha de um substituto para o Turismo, por exemplo, vem dando trabalho.

O favorito era o deputado Marx Beltrão (PMDB-AL), afilhado político de Renan Calheiros (PMDB-AL), perdeu força porque é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por falsidade ideológica.

O deputado é acusado de fraudar a quitação previdenciária da cidade de Coruripe, entre 2010 e 2011, quando era prefeito do município alagoano. Mesmo com o parlamentar negando as acusações, Temer foi pressionado a pensar duas vezes.

Ao menos, a nova postura fez Temer abafar a imagem de influenciável do início do mandato, quando ministros foram cogitados e descartados por declarações em entrevistas, outros foram desautorizados por Temer pelo que disseram.

No Congresso

A grande vitória de Temer até o momento foi a articulação para retomar controle do Congresso. Houve aproximação com o antigo desafeto e presidente do Senado, Renan Calheiros, junto com estreitamento de laços com o novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Enquanto sinaliza para Renan, dando cargo no alto escalão do governo para sua indicação, Temer conseguiu a colaboração de Maia para unificar a base aliada.

O governo interino se manteve oficialmente isento na disputa para não criar animosidades. Mas os mais de 200 deputados do “centrão” são grupo fundamental para aprovar medidas de ajuste fiscal que Temer pretende enviar ao Congresso.

Uma vitória do adversário de Maia, Rogério Rosso (PSC-DF), traria essa unidade quase automaticamente, imitando a influência — mas afastando a agenda negativa — que se tornou Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mas o trânsito de cinco mandatos como deputado de Maia esfriou uma possível revolta do grupo.

"Este é o sinal mais positivo de Temer no Planalto: dá sinais de que a governabilidade foi reinstaurada, que consegue fazer suas demandas terem resposta positiva” afirma Ricardo Ribeiro, consultor político da MCM Consultores. “O governo até hoje teve derrotas pontuais e pouco importantes”.

Para Ribeiro, é preciso agora garantir que o Congresso vote matérias importantes, num período que antecede eleições e o holofote pode estar focado em outros eventos. “A missão principal é aprovar a PEC do teto de gastos até o fim do ano e o prazo está curto”, diz.

Nas ruas

Com o Congresso relativamente estável, agora o desafio de Temer será melhorar sua imagem perante o eleitorado. Nas diversas pesquisas de opinião realizadas nos últimos meses, a tendência se repete para números de reticentes a ruins para o peemedebista.

De início, dois a cada três brasileiros prefere novas eleições a ter que arcar com a continuidade do governo Temer ou a volta de Dilma. O número é bastante próximo nas pesquisas CNT/MDA, Ipsos e Datafolha.

Em todas, também, a aprovação ao governo Temer é próxima ao resultado ruim da gestão Dilma. São 11,3%, 16% (antes da posse) e 14%, respectivamente em cada instituto de pesquisa. Para a CNI/Ibope, o índice é de 13%.

Outro agravante são os índices de comparação entre um governo e outro. Também na CNI/Ibope, 44% dos entrevistados disseram não sentir qualquer mudança entre um governo e outro.

O fato se explica porque Temer ainda depende de mudanças na economia para gerar aprovação popular. Isso dependerá de como tramitarão as reformas no Congresso, que tem agora cenário favorável, como já referido.

“Para ganhar poder político e aplicar reformas, tem que dar resposta em termos de governabilidade. É inevitável dar sinal de que é capaz de reverter o quadro econômico”, disse o consultor político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez a EXAME.com.

A pesquisa CNT/MDA de fevereiro de 2016 trouxe comparação entre aprovações dos últimos presidentes do Brasil, mostrando o quanto influencia um cenário econômico favorável na imagem de um presidente. A exemplo, foi uma vez debelada a crise econômica que o mandato de Dilma Rousseff amargou desaprovação geral da nação.

"Algo a se lembrar que o ambiente econômico pesa sobre o ambiente político, segurando a queda ou reforçando as pautas de aprovação", disse Marco Antonio Teixeira, professor do departamento de Gestão Pública da FGV de São Paulo, a EXAME.com à época.

"Se não tivéssemos tido o agravamento das questões econômicas, o discurso de impeachment seria muito enfraquecido", afirmou.

O mais aprovado nessa série histórica foi Lula. E o motivo foi o momento de alto crescimento pela qual o país passava em 2010, quando o PIB chegou a um crescimento de 7,5%.

Para Temer, uma demonstração real de que os indicadores econômicos mudaram pode ser o caminho para mudar o cenário negativo, convencer o Congresso a não abrir caminho para volta de Dilma e, por fim, preparar um sucessor de sua escolha.

* Atualizado às 18h45: Ao contrário do que indicou a reportagem, o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, permanece à frente da instituição desde que foi nomeado pelo presidente em exercício Michel Temer.

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