Torquato não confirma continuidade de Daiello no comando da PF
Durante sua primeira entrevista coletiva, o ministro da Justiça disse que iniciará conversas com o diretor-geral da Polícia Federal para tomar uma decisão
Reuters
Publicado em 31 de maio de 2017 às 18h42.
Última atualização em 31 de maio de 2017 às 19h45.
Brasília - Em sua primeira fala depois de tomar posse como ministro da Justiça e Segurança Pública, Torquato Jardim se recusou a confirmar a manutenção do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, no cargo, deu um prazo de três meses para avaliar a situação do departamento, mas afirmou que a operação Lava Jato é um "programa de Estado" e está "blindada".
As especulações de que Daiello poderia finalmente ser substituído - um movimento que o governo do presidente Michel Temer ensaiou diversas vezes mas não levou adiante - ressurgiram depois da indicação de Torquato para o ministério.
No cargo desde 2011, Daiello se manteve à frente da PF principalmente porque qualquer ameaça de mudança é tratada como um ataque à operação Lava Jato.
Questionado diretamente mais de uma vez sobre trocas na PF, o novo ministro se recusou a responder. Afirmou que irá conversar e conhecer o departamento antes de tomar uma decisão, e que trocas de delegado são questões técnicas que não podem ser influenciadas pela política.
"Não cabe essa resposta. Eu disse várias vezes, vamos conversar. Viajar juntos, conversar sobre a Policia Federal para que eu conheça o ambiente e a operacionalidade", disse. "O mundo não é maniqueísta, preto e branco, sim ou não. Exceto Fla x Flu."
A saída de Daiello foi avaliada quando o presidente Michel Temer assumiu o governo em maio do ano passado. Na época, um movimento de delegados pediu a permanência do diretor para preservar a operação, e o governo cedeu.
Mais tarde, pouco antes da saída de Alexandre de Moraes do ministério para assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal, os delegados foram ao governo pedir a saída de Daiello e chegaram a apresentar uma lista de nomes votados pelos delegados.
Dessa vez, o Palácio do Planalto considerou uma pressão indevida e rejeitou a mudança.
Apesar de não descartar a troca do diretor-geral da PF, o novo ministro fez questão de garantir que não haverá interferência na operação Lava Jato.
"Sempre disse que a Lava Jato está blindada. Seja quem for que estiver na PF, no Ministério Público ou na Justiça, a Lava Jato continuará", afirmou. "A Lava Jato é um programa de Estado, não é de governo, do Ministério Público ou do Judiciário. É da sociedade brasileira. Nenhum país do mundo revolve suas entranhas como o Brasil está fazendo."
TSE
Torquato Jardim respondeu também às afirmações de que estaria sendo levado para o Ministério da Justiça para tentar, como ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, interferir no resultado da votação da cassação da chapa Dilma-Temer.
Se tivesse esse prestígio, disse, teria aberto um escritório de advocacia.
"Se eu quisesse influenciar ou agir nas sombras não sairia da quase anonimidade da Transparência para o spotlight da Justiça", disse.
Torquato também não quis opinar sobre o inquérito aberto pelo STF contra Michel Temer, afirmando que ainda não o conhece. Segundo o ministro, ele irá se informar, mas não pretende falar sobre o caso.
Apesar de ter sido nomeado para um cargo que tem, além de Justiça, a segurança pública no nome, o novo ministro reconheceu que não tem experiência nessa área.
"Minha experiência com segurança pública foi de duas tias e eu próprio que fomos assaltados, em Brasília e no Rio de Janeiro", disse.
Torquato acrescentou que o ministério é "muito grande" e que ninguém assume a Justiça "sabendo tudo".
O novo ministro foi, segundo ele, "convocado" pelo presidente no último domingo para assumir a pasta da Justiça, no lugar do deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR).
O parlamentar foi avisado de que perderia o cargo por colegas deputados, que tiveram a incumbência de oferecer a ele ir para o Ministério da Transparência
Seria uma forma de tirar Serraglio da Justiça, onde sua atuação era avaliada como "fraca", mas manter o foro privilegiado do ex-assessor especial de Temer Rodrigo Rocha Loures, sob investigação por ter recebido propinas da JBS - supostamente em nome do presidente.
Suplente de deputado, Loures ocupava a vaga deixada por Serraglio.
A manobra não funcionou, Serraglio recusou a troca e saiu irritado com o governo. Foi lembrado no discurso de Temer quase no final, mas não estava no Planalto para ouvir. O deputado não foi à posse de seu sucessor.