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"Temos de saber ouvir e ter humildade para melhorar", diz Doria

Prefeito de São Paulo fez um balanço de seu primeiro ano de gestão, cuja aprovação caiu 44% para 29% entre as pessoas que consideram ótima/boa

João Doria: prefeito enfrenta problemas de gestão, como queixas de zeladoria (Rovena Rosa/Agência Brasil)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de dezembro de 2017 às 10h55.

São Paulo - Em entrevista ao jornal O Estado para fazer um balanço de seu primeiro ano de gestão, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), buscou reforçar seu discurso de "gestor" e prometeu que cumprirá seu mandato até o fim.

Ele comentou os problemas da administração municipal, suas parcerias com a iniciativa privada e sua queda nas pesquisas de aprovação - "uma parte disso com justa razão". Como nos tempos de campanha, voltou a afirmar que a solução passa por "trabalho, trabalho e trabalho".

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O prefeito enfrenta problemas de gestão, como queixas de zeladoria. Em contrapartida, empenhou-se em tecer alianças para que pudesse ser indicado à Presidência ou, agora, ao governo de São Paulo.

Sobre se neste ano, o Doria político atuou mais do que o Doria gestor, o prefeito afirmou que "não. O Doria gestor atuou como cabe a mim ser gestor. Não sou político. Estou na política. O que fiz foi gestão. Foi essa gestão que impulsionou nosso nome nacionalmente. À medida que, durante um período, houve essa manifestação, ela não foi estimulada. Foi natural. Em relação à cidade, é importante deixar claro que iniciamos a gestão com um déficit de R$ 7,5 bilhões (informação negada pela gestão anterior, que diz ter deixado R$ 3 bilhões em caixa), e isso comprometeu muito todos os programas. Não digo que tenha sido por mal nem deliberado. Agora, em 2018, temos um orçamento elaborado, já aprovado pela Câmara Municipal, que vai nos permitir fazer investimentos. Não é que nossa vida vá mudar radicalmente, com recursos suficientes para tudo. Mas pelo menos aquilo que está previsto vai ser cumprido. E continuarei a ser gestor".

Doria dedicou muita energia para facilitar a entrada de empresas privadas no setor público, mas não conseguiu realizar licitações.

Se isso não foi possível, Dória destacou que "vamos colocar tudo isso em PPPs (as Parcerias Público-Privadas). Não tem sentido a Prefeitura gastar a fortuna que gasta para fazer varrição, quando ela pode fazer isso em regime de PPP. E que as empresas, na utilização desse lixo coletado da varrição, transformem isso em recursos para gerar energia e, por reciclagem, matéria-prima com valor real. Isso vai valer para a varrição, mas também para toda a coleta de lixo".

Na cidade, a coleta é uma concessão, ainda vigente. Sobre como vai tocar essa PPP e evitar contestação na Justiça, "segundo ele, as empresas ganharão mais em regime de PPP do que atualmente. Ninguém vai deixar de ganhar mais, se puder. É um princípio do setor privado".

Na campanha, Doria anunciou que as privatizações poderiam render R$ 7 bilhões; seu secretário de Desestatização fala em R$ 5 bilhões; e o Plano Plurianual de sua gestão, R$ 2,5 bi. Contudo, não há ainda projetos concretos.

"Temos várias vitórias na Câmara, com as aprovações (de desestatizações). Nós tivemos de seguir o rito correto, começando com debates públicos. E isso ocorreu com muito sucesso. Agora, em 2018, vamos colocar as modelagens em prática. Aí sim vamos gerar esse resultado. Continuo afirmando que a nossa expectativa é em torno de R$ 7,5 bilhões".

Questionado sobre os números serem diferentes, "o prefeito disse que "é uma expectativa de mercado. Prefiro ser realista otimista a ser realista pessimista. É essa a diferença. Vamos ter nesse programa grau de interesse. É o maior programa de privatização de uma metrópole já realizado no País".

A aprovação de Doria caiu ao longo do ano, segundo o Datafolha. De 44% para 29% entre as pessoas que consideram ótima/boa.

Sobre ao que credita essa queda e se os paulistanos têm razão, o prefeito afirmou que "primeiramente, queria dizer que nossa aprovação é de 61%, porque soma ótimo, bom e o regular. Isso é um princípio básico. É muito fácil você classificar o regular como desaprovação. Não é".

Mas os dados mostraram que caiu o porcentual dos que classificam como bom ou ótimo.

"Estamos em 61%. O que tivemos foi o crescimento de 13% para 39% dos que desaprovam. Uma parte disso, classifico, com justa razão. Temos de melhorar, saber ouvir e ter discernimento e humildade para melhorar, sobretudo os programas de zeladoria urbana. As maiores críticas foram nesta área. Portanto, estamos respondendo. Fizemos uma mudança de secretário, melhoramos procedimentos, alteramos alguns prefeitos regionais, mantivemos um nível de controle melhor, conseguimos a liberação de asfalto, até com a utilização do fundo de multas. Então, esse é um recado importante. Temos de ter capacidade de ouvir. E lembrar que de 13% a 15% deste universo é ideológico. Pessoas que estão à esquerda e apoiam Lula e companhia e, evidentemente, eu me coloco frontalmente em um campo oposto".

Quanto qual nota dá para este primeiro ano de gestão, Dória disse que "eu não qualifico por notas. Nunca dei, nem no início nem durante nem no encerramento. O que temos de ter é a capacidade de trabalhar mais e melhor. A Prefeitura de São Paulo hoje é trabalho, trabalho e trabalho. Temos é de dar boas respostas, termos um grau de eficiência cada vez melhor e um nível de time, de equipe, muito bom. Os resultados, no seu todo, são bons resultados. Temos de melhorar? Temos".

Doria bateu na tecla de que era um gestor, não um político, e não lotearia as secretarias, as Prefeituras Regionais. Questionado se, na prática, foi isso o que aconteceu, ele rebateu: "não aconteceu...".

Um exemplo foi a saída do PRB de sua base no Legislativo após uma perda de cargos na administração municipal (em novembro).

Questionado como casou a política, a gestão e os partidos, Doria disse que "a Prefeitura é muito grande. São 126 mil funcionários. Nunca disse que proibiria a contratação de funcionários que pudessem estar vinculados a partidos. Mas nunca fizemos loteamento".

Contudo o serviço funerário foi para o PRB... "Não foi. Havia uma indicação. Tanto é que substituímos porque a pessoa anterior, uma senhora que nem me lembro o nome, não estava cumprindo bem a função. Foi substituída por outra pessoa, que infelizmente continuou cumprindo mal a função. Então, nós trocamos. Agora, tem outro nível de gestão. Queremos ter boas relações com a Câmara. Aliás, nosso diálogo com o PRB, sobretudo com a direção nacional, continua muito bom".

O jornal O Estado de S. Paulo publicou em novembro reportagem sobre a dificuldade de obter dados por meio da Lei de Acesso à Informação.

Sobre o que a Prefeitura está fazendo para melhorar, disse que "tivemos um profissional que teve um comportamento inadequado, querendo limitar o acesso às informações de um veículo de comunicação. Foi dispensado, porque aquela não é a posição da Prefeitura. O acesso tem de ser franqueado e livre. Obviamente que as demandas são muitas e não dá para atender instantaneamente. Mas criar dificuldades, barreiras ou impedimentos, não".

Sobre se vai ficar na Prefeitura no ano que vem, Doria afirmou: "sou prefeito e vou cumprir meu mandato até o fim. Meu mandato estabelece que eu devo cumprir até 2020, então vou cumprir meu mandato. Eu fui eleito para isso".

Questionado se desistiu de concorrer a outros cargos, Doria disse que "nunca anunciei (que concorreria). Você nunca me viu falar, anunciar, pode pesquisar".

Mas não negou. Nos 100 dias de governo, disse que dependeria do que o (governador Geraldo) Alckmin (PSDB), dissesse, sinalizasse.

Ele explicou que "tenho muita fidelidade ao governador e me lembro dessa pergunta e também do que respondi. Continuo sendo uma pessoa leal, vinculada ao governador Alckmin. Jantamos juntos no sábado. É uma pessoa por quem tenho estima, admiração, e fiz questão de reforçar isso na convenção nacional do PSDB, quando fiz um discurso pró-Alckmin, não apenas para ele assumir a presidência do PSDB, como de fato ele assumiu, como ser o candidato do PSDB à Presidência da República. Sigo aquilo que é importante para o PSDB e importante para o governador".

Sobre como vê a eventual candidatura de José Serra (PSDB) ao Estado, "não vejo nenhum problema ao Serra, ao Floriano Pesaro, ao Luiz Felipe D'Ávila, ao Cauê Macris, ao José Aníbal (todos do PSDB)... São cinco bons nomes. O PSDB tem essa vantagem. O partido tem muitos bons nomes para as eleições".

E sobre se coloca como um desses nomes, Doria disse que "não. Sou prefeito da cidade de São Paulo. Prefeito da cidade de São Paulo. Prefeito da cidade de São Paulo."

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