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Temer pediu "comissão" de R$ 20 milhões, diz Funaro

A "orientação" seria de que a quantia, proveniente de duas operações do Fundo de Investimento do FGTS, fosse encaminhada à sua campanha de 2014

Michel Temer: o depoimento de Funaro foi anexado ao relatório parcial do inquérito que investiga Temer por suposta prática de corrupção passiva (Ueslei Marcelino/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de junho de 2017 às 08h19.

Última atualização em 21 de junho de 2017 às 08h20.

Brasília e São Paulo - O corretor Lúcio Bolonha Funaro disse, em depoimento à Polícia Federal, que o presidente Michel Temer fez uma "orientação/pedido" para que uma "comissão" de R$ 20 milhões proveniente de duas operações do Fundo de Investimento do FGTS fosse encaminhada para a sua campanha presidencial de 2014 e, também, para a de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo, em 2012.

As operações no FGTS eram relacionadas às empresas LLX e BRVias e são investigadas na Operação Sépsis, na qual Funaro foi preso, em julho de 2016.

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O depoimento de Funaro, prestado no dia 14 deste mês, foi anexado ao relatório parcial do inquérito que investiga Temer por suposta prática de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa, enviado anteontem pela PF ao Supremo Tribunal Federal.

O corretor afirmou que ouviu do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que havia "conhecimento do presidente Michel Temer a respeito da propina sobre o contrato das plataformas entre a Petrobrás Internacional e o Grupo Odebrecht".

Em seu relato, o corretor citou ainda repasses para dois aliados de Temer, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e o ex-ministro Geddel Vieira Lima.

De acordo com Funaro, Geddel teria recebido cerca de R$ 20 milhões por "operações" na Caixa - o peemedebista foi vice-presidente de Pessoa Jurídica. Já Moreira Franco teria recebido comissões pela sua atuação à frente da vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias, em 2009.

"O declarante pagou comissão desta operação a Eduardo Cunha e a Moreira Franco, os pagamentos foram feitos em espécie, não se recordando dos valores neste momento", disse o corretor à PF.

'Vigor'

O relatório parcial, com 600 páginas, tornado público nessa terça-feira, 20, afirma que, pelos elementos reunidos na investigação, "são incólumes as evidências" da prática de corrupção passiva por parte de Temer e de seu ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures. O documento indica recebimento "com vigor" de "vantagem indevida".

A PF solicitou mais prazo para a conclusão do inquérito, que deverá servir de base para a possível denúncia a ser oferecida nos próximos dias pela Procuradoria-Geral da República.

No documento encaminhado ao Supremo, a PF argumenta que o próprio Temer confirmou em discurso público ter indicado seu ex-assessor como interlocutor para o empresário Joesley Batista, do Grupo J&F, dono da JBS. Loures foi flagrado, em ação controlada da PF, levando uma mala de R$ 500 mil entregue por um executivo da JBS.

No discurso, Temer disse: "Não há crime, meus amigos, em ouvir reclamações e me livrar do interlocutor, indicando outra pessoa para ouvir as suas lamúrias". Para a PF, a indicação foi confirmada no discurso.

"A premissa básica para o entendimento deste particular reside, justamente, no trecho do diálogo (...) em que, ao ser questionado por Batista sobre o canal de comunicação a ser adotado a partir de então - em substituição a Geddel - o Exmo. Sr. Presidente da República indicou, nitidamente, "Rodrigo", ou seja, Rodrigo Rocha Loures", diz o relatório sobre o áudio gravado por Joesley.

Para confirmar que Geddel era o antigo interlocutor de Temer, a PF ainda usou os depoimentos de Funaro e do diretor Jurídico do Grupo J&F, Francisco de Assis e Silva.

"Juízo jurídico"

Em Moscou, onde cumpre agenda oficial, Temer evitou comentários sobre o relatório parcial da PF que encontrou indícios de corrupção passiva envolvendo seu nome. "Vamos esperar. Isso é juízo jurídico, não é juízo político. E eu não faço juízo jurídico", disse.

O advogado de Temer, Antônio Claudio Mariz de Oliveira, disse que não iria responder ao relatório. "Um relatório sobre investigações deveria ser apenas um relato das mesmas investigações, e não uma peça acusatória.

Autoridade policial não acusa, investiga." Procurados, Geddel e Moreira não foram localizados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

*Colaboraram Andrei Netto e Carla Araújo

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