Temer diz que alguns ministros podem se afastar após delações
Presidente afirmou que é "constrangedor" ver o país envolvido na série de denúncias de corrupção das delações de executivos da Odebrecht
Reuters
Publicado em 17 de abril de 2017 às 09h23.
Última atualização em 17 de abril de 2017 às 10h49.
Brasília - O presidente Michel Temer admitiu nesta segunda-feira que é "constrangedor" ver o país envolvido na série de denúncias de corrupção das delações de executivos da Odebrecht e que alguns de seus ministros podem pedir demissão, mas reiterou que mantém a linha de corte de só afastar quem for denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
"É muito provável que alguns ministros fiquem desconfortáveis e acreditem que não podem continuar", disse Temer em entrevista por telefone à rádio Jovem Pan, acrescentando, no entanto, que não irá mudar sua linha de corte. "Não vou demitir ou exonerar porque alguém falou de outro. Quando houver provas robustas, pela hipótese da denúncia, daí começo a tomar providências".
Temer disse ainda ser "constrangedor" e "extremamente desagradável" ter sido citado nas delações da Odebrecht como tendo negociados recursos ilegais para o PMDB, por "se tratar de uma inverdade", mas assegurou que as delações não irão "prejudicar a governabilidade".
"É muito desagradável e extremamente constrangedor porque se trata de uma inverdade", disse o presidente.
Em uma das delações tornadas públicas na semana passada, um dos executivos da Odebrecht, Márcio Faria, afirmou ter tido uma reunião no escritório de Temer em São Paulo em 2010 onde se tratou do pagamento ao PMDB de propina de um contrato da Petrobras.
O presidente negou, primeiro em uma nota e depois em um vídeo distribuído nas redes sociais, ter participado da negociação, mas admitiu a reunião. O executivo da empreiteira disse que entregou aos procuradores um email mostrando que participaria da reunião no endereço do escritório de Temer.
Questionado na entrevista à rádio Jovem Pan se não achava preocupante o grau de corrupção revelado pelas delações da Lava Jato, o presidente concordou que era "estarrecedor, preocupante e muito desagradável", mas que as acusações não podem paralisar o país.
"Devo dizer que não pode prejudicar a governabilidade. A tendência é dizer que o governo vai parar, mas o governo não pode parar. Digo que não vamos parar", afirmou, lembrando que no domingo houve uma reunião no Palácio da Alvorada sobre reforma da Previdência e outras acontecerão esta semana, com a leitura do relatório na comissão especial na terça-feira.
Temer admitiu, mais uma vez, que a reforma que deve ser apresentada pela relator não será para durar 30 ou 40 anos, como o governo pretendia originalmente, mas disse que é necessário negociar com o Congresso e isso não significa um recuo.
"Autorizamos o relator a fazer ajustes socialmente adequados. Fomos adaptando a reforma da Previdência", disse Temer.
"Acordão"
Temer negou ainda as informações de que estaria negociando com os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso um acordo para tentar minimizar os efeitos da Lava Jato e "salvar a política". De acordo com o presidente, a única conversa que teve com os antecessores foi depois da morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia, em que Lula teria sugerido uma reforma política.
"Fazer um acordão para solucionar os problemas que hoje estão entregues ao Poder Judiciário é absolutamente inviável. Não participo e não promovo", afirmou, acrescentando que uma conversa entre os três só seria viável sobre a reforma política.
Temer disse ainda que também não concorda com uma nova constituinte, como está sendo proposto por alguns movimentos. Segundo o presidente, levaria-se muito tempo e causaria mais tumulto no país, a não ser que fosse feita apenas para tratar de uma reforma política e de uma reforma tributária, já que a reforma política terá que sair "inevitavelmente".
"Tenho temor de uma nova Constituinte. Uma nova constituinte causaria um tumulto em um momento que as instituições estão funcionando adequadamente", afirmou.