Brasil

Suspeito do Caso Sanansa pediu R$ 650 mil a Bumlai

Dinheiro seria usado para fugir do Ministério Público Federal e da polícia

PF prende pecuarista José Carlos Bumlai (Rodolfo Buhrer/ Reuters)

PF prende pecuarista José Carlos Bumlai (Rodolfo Buhrer/ Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2015 às 09h52.

São Paulo – A Polícia Federal apreendeu com a família do pecuarista José Carlos Bumlai um e-mail enviado por uma pessoa ainda não identificada solicitando R$ 650 mil para fugir do Ministério Público Federal e da polícia.

O autor solicitou a ajuda ao amigo do ex-presidente Lula denunciado criminalmente na segunda-feira, 14, pela força-tarefa da Operação Lava Jato, por temer ser alvo das investigações do Caso Sanasa — maior escândalo de corrupção da prefeitura de Campinas, no interior de São Paulo, envolvendo contratos da área de saneamento e pelo menos duas construtoras alvos da Lava Jato.

O autor do e-mail usou uma conta de um sobrinho e chama o pecuarista de "Zé Carlos". "Estou escrevendo á você em forma de carta simples pra não chamar a atenção de terceiros, temo estar sendo vigiado e monitorado pelo MP (Ministério Público) e pela Policia Civil de São Paulo, por esse motivo eu não telefonei nem tenho como tratar do restante do assunto pessoalmente", abre a mensagem.

"Por favor, providencie com máxima urgência possível, o montante de seiscentos e cinquenta mil reais, em dinheiro, a ser entregue em data, local e horário que eu vou informar posteriormente", pede o emissário. "Não posso tratar aqui de detalhes nem citar nomes evitando que haja maiores complicações á todos nós caso essa correspondência seja desviada, violada ou extraviada de seu destinatário final."

Bumlai — preso desde o dia 24 de novembro, em Curitiba, pela Operação Lava Jato — é suspeito de ser o elo entre a empreiteira Constran e o esquema de corrupção e fraudes em licitação na prefeitura de Campinas, que levou à condenação por 20 anos de prisão da ex-mulher do prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos (PDT), o Dr. Hélio, e o ex-vice-prefeito Demétrio Vilagra (PT), na semana passada.

Pelo menos dois contratos milionários da Constran — comprada em 2010, pela UTC — com a empresa municipal de saneamento de Campinas, a Sanasa, teriam envolvido a atuação de Bumlai com o pagamento de propinas que variavam de 5% a 7% — um esquema similar ao descoberto na Petrobras, a partir de 2014, pela Lava Jato.

No e-mail, anexado ao pedido de prisão do pecuarista, o autor informa que está em Osasco, na Grande São Paulo. "Onde o prefeito daqui que é do PT esta nos dando um apoio até que as coisas se acalmem em Campinas."

"Com a decretação de prisão preventiva da Sra. Rosely e do Sr. Demétrio as coisas podem piorarem pois o cerco esta se fechando e precisamos nos blindar antes que as coisas tomem dimensões incalculáveis e fujam ao nosso controle", completa.

A ex-primeira-dama, apontada como chefe da quadrilha, e o ex-vice-prefeito do PT foram condenados pela Justiça, em Campinas. Em 2011, eles chegaram a serem presos preventivamente a pedido da Promotoria.

"Bumlai negou, ao ser ouvido, ter prestado qualquer tipo de assistência a qualquer investigado no Caso Sanasa, no qual apurasse pagamento de vantagem indevida em contratações no Município de Campinas. Nada obstante sua alegação, documento também apreendido em seu escritório em Campo Grande/MS revela que um dos investigados no caso, furtando-se de identificar-se, encontrava-se foragido e temendo estar sendo monitorado pelas autoridades locais, solicitou a José Carlos Bumlai, a quem se referia como 'meu amigo', o valor de R$ 650 mil em espécie para finalidade não identificada. A se depreender do contexto da mensagem, o valor destinar-se-ia para fins ilícitos."

Lula

Em outubro de 2011, o juiz do Caso Sanasa, Nelson Augusto Bernardes, da 3ª Vara Criminal em Campinas, indeferiu o pedido de prisão de Bumlai feito pelos promotores.

O nome de Bumlai foi mencionado também em interceptação telefônica de um diálogo entre um advogado e o delator do Caso Sanasa. Relatório do Gaeco destaca que, em 26 de abril, Aquino conversa com o advogado após reunião com um homem chamado de Ítalo Barione.

"De acordo com Luiz Aquino, Ítalo Barione estaria colhendo informações, a pedido do próprio José Carlos Bumlai, para viabilizar a formalização, junto ao Ministério Público, de delação premiada em favor dele", informa o documento. "Aquino relata que Bumlai teria intenção de proteger Lula."

Um resumo da conversa, nos autos da promotoria: "Aquino diz que Bumlai quer fazer acordo e 'o que ele puder fazer para proteger Lula, tudo bem'".

Para os promotores, "o teor do diálogo é totalmente pertinente". Eles falam das relações de Bumlai e Lula. "O empresário talvez tivesse a preocupação de não propiciar uma exposição negativa em razão da amizade de ambos."

A possibilidade de uma delação por parte do pecuarista para "proteger Lula" integrou o pedido de prisão dos promotores. Sua defesa negou, na época, a intenção, classificada de mentira.

Na decisão do juiz, em 2011, sobre o pedido de prisão de Bumlai, Bernardes apontou a necessidade de apurações mais aprofundadas sobre seu envolvimento.

Na terça-feira da semana passada, o juiz da 3ª Vara Criminal, em Campinas, condenou no processo do Casa Sanasa a ex-primeira-dama, o ex-vice-prefeito e outros réus, entre eles outro alvo da Lava Jato: ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini. Ele foi condenado a 8 anos de reclusão pelo crime de corrupção ativa.

Bernardes, juiz do Caso Sanasa, comunicou oficialmente o juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, em Curitiba, responsável pelos processos em primeira estância da Lava Jato.

Acompanhe tudo sobre:Luiz Inácio Lula da SilvaMinistério PúblicoOperação Lava JatoPartidos políticosPDTPersonalidadesPolícia FederalPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos TrabalhadoresUTC

Mais de Brasil

Ao vivo: Lula faz pronunciamento sobre balanço de 2024

Vai chover no Natal? Defesa Civil de SP cria alerta para o feriado; veja previsão

Acidente em MG: Motorista de carreta envolvida em tragédia se entrega após passar dois dias foragido

Quem é o pastor indígena que foi preso na fronteira com a Argentina