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Sucesso financeiro da Copa depende de investimentos da iniciativa privada

Estudo mostra que a maioria do empresariado mundial não planeja ampliar os investimentos no Brasil por conta de megaeventos esportivos

Empresários precisam acordar para as oportunidades geradas pela realização da Copa (Flickr)

Empresários precisam acordar para as oportunidades geradas pela realização da Copa (Flickr)

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Da Redação

Publicado em 9 de novembro de 2011 às 06h00.

São Paulo – A falta de investimentos da iniciativa privada poderá ser o grande gargalo que comprometerá o sucesso financeiro de megaeventos esportivos no Brasil, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, revela o estudo “International Business Report 2011 (IBR)” da consultoria Grant Thornton Brasil.

Embora 78% dos 11 mil empresários consultados em 39 países estejam confiantes de que a economia brasileira irá crescer com a realização do Mundial de 2014, 68% deles afirmam que não pretendem elevar os investimentos em função da Copa.

“A falta de comprometimento da iniciativa privada poderá afetar as contas públicas brasileiras. Se os empresários não investirem nas áreas próximas aos estádios, onde serão realizados os jogos da Copa do Mundo, não haverá o desenvolvimento destas regiões, limitando os ganhos com a realização do evento”, alerta Madeleine Blankenstein, sócia da Grant Thornton Brasil.

Ela explica que, embora o setor de construção seja o mais beneficiado pelo evento (40%), seguido por turismo (30%) e por infraestrutura (18%), há outros segmentos que merecem a atenção dos empresários, inclusive as áreas de comércio e de serviços.

“A Grécia, em 2004, é um belo exemplo. Grande parte do dinheiro aplicado na realização das Olimpíadas de Atenas foi público, o que de certa forma colaborou para o endividamento do país, intensificando a situação que culminou na crise atual”, afirma Madeleine. “É evidente que as Olimpíadas não foram a percursora da crise, mas colaboraram para tal”, acrescenta.

Apenas em Atenas foram aplicados 11,6 bilhões de dólares na preparação do evento. Poucos países podem fazer como os Estados Unidos, que organizaram uma Copa do Mundo (em 1994) e duas Olimpíadas (em 1984 e 1996) sem um centavo de ajuda do próprio governo. Isso porque toda a infraestrutura estava pronta. Na Alemanha, o setor público (local ou federal) financiou apenas um terço dos 2 bilhões de dólares gastos nas obras nos estádios. O restante veio da iniciativa privada.

Divulgação

Madeleine Blankenstein é sócia da Grant Thornton Brasil

Madeleine: "A falta de visão do empresariado brasileiro é o grande problema da Copa"

O governo brasileiro enfatiza que os gastos públicos com a Copa do Mundo no país trará empregos, aumentará o fluxo turístico, promoverá a revitalização de áreas urbanas e garantirá investimentos de peso no país. Contudo, apenas 6% dos 11 mil entrevistados na pesquisa da Grant Thornton Brasil acreditam nisso.

“A falta de visão do empresariado brasileiro é o grande problema da Copa do Mundo. Mas ainda dá tempo de corrigir este erro. A iniciativa privada precisar acordar e ampliar sua visão de que o momento de investir é agora”, destaca Madeleine.


Ela destaca como exemplo o caso da língua inglesa. “Quantos estabelecimentos estão preparando seus funcionários para receber turistas internacionais? São poucos. Isso mostra despreparo de muitos donos de hotéis e restaurantes em se adequar às necessidades de se sediar um megaevento.”

A sócia da Grant Thornton Brasil enfatiza que Copa do Mundo não se restringe apenas a estádios, comércio e serviços, chamando a atenção dos empresários para investirem também em transporte público. Um exemplo é Curitiba. A capital paranaense contou com a ajuda da iniciativa privada para desenvolver um sistema de vias que hoje é exemplo para diversas cidades no mundo.

“A iniciativa privada ganha até hoje com o transporte em Curitiba. De olho nisso, então, por que os investidores não olham para o aeroporto internacional de São Paulo (Cumbica) e levam o metrô até ele? É nosso cartão de visita e atualmente está deixando a desejar em termos de infraestrutura”, sugere.

Madeleine afirma que “é muito difícil sensibilizar a iniciativa privada”, mas diz que uma das formas é o governo mostrar aos empresários as vantagens, não apenas de curto prazo, que os investidores podem ganhar com aplicações em megaeventos.

“Na medida em que se investe nos locais próximos da realização dos jogos, eles se desenvolvem e a economia na região se intensifica, o que pode trazer ganhos duradouros para o empresário que decide apostar, garantindo assim o sucesso da Copa do Mundo”, afirma Madeleine.

Empreendedorismo

O empresário Eike Batista concluiu em março de 2008, por 80 milhões de reais, a compra do Hotel Glória, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, administrado pela família Tapajós desde a década de 1920. O executivo, que já atua nos setores de mineração, petróleo, gás, energia e logística, consolidou assim sua entrada no ramo hoteleiro.

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Eike Batista é presidente do grupo EBX

Eike Batista: “O objetivo é fazer do Glória um dos melhores do mundo”

O objetivo de Eike na época era um só: apostar na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016. No ano passado, o empreendimento recebeu 146,5 milhões de reais para as obras de restauração.

O valor integra parte da linha de crédito de 1 bilhão de reais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinado à rede hoteleira do país, com o objetivo de preparar o setor para o Mundial de 2014.

O novo hotel, cujo nome será Gloria Palace, contará com investimento total na reforma de 200 milhões de reais, sem contar o valor de aquisição do prédio. A reinaguração está prevista para o final de 2013. Passada a realização dos eventos esportivos, o Rio de Janeiro contará com mais um hotel de alto luxo: um investimento exemplar feito pela iniciativa privada.

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