Repórter
Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 20h30.
Sob risco de perder o contrato de concessão de distribuição de energia elétrica em São Paulo, a Enel já teve seu contrato rompido em Goiás.
Após seis anos de operação no estado, a Enel deixou de atuar na distribuição de energia em Goiás em 2023.
A decisão foi resultado de um processo marcado por pressões políticas, insatisfação popular e investigações sobre a qualidade do fornecimento da energia.
A multinacional italiana havia assumido a concessão em 2017 ao comprar Celg-D em leilão realizado no ano anterior por R$ 2,1 bilhões.
A companhia, então, acumulou reclamações por falhas e demora no restabelecimento da energia.
Esse desgaste levou à abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de Goiás e a sucessivas cobranças do governo estadual.
Em 2022, foi iniciado o processo de caducidade da concessão - a suspensão do contrato. Como alternativa, a Aneel autorizou a venda da operação em Goiás para a Equatorial em 2023. O valor do acordo ficou em R$ 1,5 bilhão, além da nova empresa assumir uma dívida de R$ 5,7 bilhões.
A empresa mantém contratos de fornecimento de energia nos dois estados. No Ceará, atende a 4,38 milhões de clientes nos 184 municípios do estado. Já no Rio, a empresa atende a 3 milhões de unidades consumidoras em 66 municípios fluminenses.
Nos dois estados, segundo ranking divulgado pela Aneel sobre a continuidade do fornecimento de energia elétrica, o serviço prestado deixa a desejar. De 31 empresas pesquisadas pela agência federal em 2024, a Enel do Ceará ficou em 24º lugar. A unidade fluminense teve um desempenho ainda pior: ficou na 27ª posição. A Enel SP terminou o levantamento na 21ª colocação.

Na semana passada, um vendaval com rajadas de vento superiores a 90 km/h, associado a um ciclone extratropical, derrubou árvores e danificou redes elétricas, deixando mais de 2 milhões de imóveis sem luz em São Paulo. Alguns imóveis voltaram a ter energia somente após seis dias.
O blecaute teve início na terça, 9, mas se intensificou na quarta, 10, após a passagem de fortes ventos que atingiram a capital e a Grande São Paulo. Nesta terça, na área de concessão da Enel, 81 mil clientes estavam sem energia, segundo informações da própria companhia.
A falta de energia elétrica na cidade de São Paulo provocou perdas estimadas em R$ 1,54 bilhão no faturamento de comércio e serviços entre quarta e quinta-feira, segundo cálculo da FecomercioSP. O setor de serviços concentra a maior parte do impacto, com mais de R$ 1 bilhão em prejuízos, enquanto o comércio deixou de faturar cerca de R$ 511 milhões.
O levantamento considera a interrupção no fornecimento para 2,2 milhões de imóveis na quarta-feira e 1 milhão nesta quinta. Atualmente 450 mil pessoas seguem sem energia na capital paulista. A entidade alerta que os prejuízos podem ser ainda maiores, já que não foram contabilizadas perdas de estoque ou custos fixos mantidos sem receita.
“Estamos falando apenas do potencial de perdas”, afirmou Fábio Pina, assessor econômico da FecomercioSP. Ele lembra que, em outubro de 2024, situação semelhante gerou prejuízos próximos a R$ 2 bilhões.
A demora na normalização provocou forte reação política. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o prefeito da capital Ricardo Nunes (MDB) e o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira (PSD) se reuniram no Palácio dos Bandeirantes e anunciaram nesta terça-feira que iriam pedir para a Aneel o rompimento do contrato de concessão da Enel em São Paulo.
Silveira afirmou que pedirá a abertura de processo de caducidade da concessão, medida que pode retirar a empresa da operação antes do prazo previsto, em 2028. O governo federal, estadual e municipal justificaram a decisão pela “incapacidade da concessionária em garantir a continuidade e a qualidade do serviço”.