Trabalhadores protestaram contra o fechamento da unidade da Ford em Camaçari, na Bahia. (Eduardo Moody/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 12 de janeiro de 2021 às 12h52.
Cerca de 350 operários da fábrica da Ford em Taubaté (SP) participaram da assembleia convocada pelo Sindicato dos Metalúrgicos (Sindimetau) na manhã desta terça-feira (12). Eles decidiram manter vigílias nas portas da planta até que a montadora decida negociar com a entidade uma eventual reversão das demissões. A entidade também vai se reunir com o governo Doria para pedir pressão sobre a multinacional.
A Ford anunciou na segunda-feira o encerramento da produção de veículos no país. A empresa está presente no Brasil há 103 anos e mantinha três fábricas: em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE). A reestruturação dos negócios da multinacional na América do Sul deve resultar de imediato em 5.000 demissões, a maioria no Brasil.
Também na manhã desta terça-feira, trabalhadores protestaram contra o fechamento da unidade da Ford em Camaçari, na Bahia.
A decisão pegou de surpresa os trabalhadores, que ficaram sabendo do fato pela imprensa e por grupos de whatsapp, segundo o presidente do sindicato de Taubaté, Claudio Batista da Silva Júnior.
A planta, que fabricava motores e transmissões, tem 830 funcionários, mas já chegou a empregar diretamente 2.700 nos anos 2000. Cerca de 600 terceirizados prestam serviços à fábrica e a estimativa é que o fechamento da fábrica afete 10 mil pessoas.
Júnior e o prefeito de recém-empossado da cidade, José Saud (MDB), vão se reunir na tarde desta terça com a secretária de Desenvolvimento Econômico do governo Doria, Patrícia Ellen, para discutir como mitigar os efeitos da demissão em massa.
"O governo federal só desejou os pêsames aos trabalhadores, mas a Ford teve mais de
R$ 20 bilhões em subsídios ao longo da sua história. No último ano, foram R$ 335 milhões em financiamentos do BNDES, e agora fecha e vai manter na Argentina, isso não é possível", afirma Júnior.
Nos últimos dois anos, os empregados aceitaram acordos coletivos de redução de jornada e salários, congelamento de remunerações e do pagamento da PLR (participação nos lucros) para que a fábrica pudesse manter suas atividades, segundo operários.
"A Ford vem perdendo espaço no mercado há anos e a produção foi sendo afetado, mas não acreditávamos que fosse fechar a fábrica, que tem 53 anos aqui. O pessoal sempre teve a ideia de que era uma empresa família", diz Mário Santana, 33 anos, há 11 operário de linha de produção de motores.
Entre os operários, o clima é de pessimismo, especialmente entre os que têm mais tempo de casa.
Ricardo de Paula, 45 anos, trabalha há nove na área de usinagem da fábrica de motores. Pai de três filhos e técnico em elétrica, ele pretende comprar um carro com a rescisão para voltar a trabalhar como eletricista autônomo.
"Meu pai passou 35 anos aqui e eu vinha quando criança para cá. Tenho um filho de 24 anos e ele se pudesse teria entrado aqui também, o salário é bom, até R$ 6.500 e PLR de R$ 14.000 a depender do tempo de casa. Agora, vai ser quase impossível manter o padrão de vida, ainda mais na minha idade", afirma.
Jennifer Chiavegati, 25 anos, entrou na Ford aos 15 como jovem aprendiz. O irmão, de 32 anos, também é operário da fábrica e o pai trabalhou na montadora por 25 anos até se aposentar, em 2018. Ela diz não acreditar em reversão de demissões.
"Conheci meu namorado aqui, a maioria dos meus amigos também, além da minha família. Agora eu pretendo empreender porque não quero mais dedicar a minha vida a uma empresa. Quero trabalhar como engenheira civil autônoma e não estou tão preocupada, mas muita gente aqui perdeu o emprego prestes a se aposentar", conta.