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Silvio, o garoto-propaganda certo (mas atrasado) para Temer

Participação de Temer na atração dominical dá guinada necessária para discurso pró-reforma da Previdência — mas ofensiva chega tarde, segundo analistas

SILVIO SANTOS E MICHEL TEMER: presidente participou de programa de auditório no SBT no último domingo / Divulgação (SBT/Divulgação)

Talita Abrantes

Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 13h15.

Última atualização em 1 de fevereiro de 2018 às 13h31.

São Paulo – Propaganda da marca de cosméticos Jequiti, oferecimento de dinheiro e a apresentação de um samba sugestivo: a participação do presidente Michel Temer (MDB) no programa do apresentador Silvio Santos no último domingo foi um campo fértil para as piadas da internet brasileira.

Apesar dos memes que circularam nas redes sociais, a investida parece ter sido a ação mais certeira do governo emedebista na estratégia de tornar a proposta da reforma da Previdência uma ideia mais palatável para os brasileiros.

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Dos esforços de Temer no último fim de semana, a entrevista no programa do Silvio Santos, no SBT, foi a que gerou mais repercussão nas redes sociais, segundo levantamento da consultoria de análise de dados Bites.

Até as 22h da última segunda-feira (29), o vídeo que mostrava a íntegra da participação do presidente no programa de auditório já contabilizava o equivalente a 1 ponto na medição de audiência do Ibope em São Paulo. Na manhã desta quinta-feira, o número superava as 400 mil visualizações. Na TV aberta, a atração marcou 11 e 12 pontos de audiência em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Até a tarde de ontem, o assunto já tinha agrupado cerca de 20 mil postagens na rede de microblogs Twitter. Desse total, 10% dos posts eram relacionados ao fato de que Temer ofereceu 50 reais ao dono do SBT.

O grande trunfo da aparição, segundo os analistas da Bites, foi a ajuda de Silvio Santos ao longo de toda entrevista para que tornar a mensagem de Temer mais clara e tangível para o grande público.

Nos cerca de 13 minutos de conversa, o dono do SBT interrompeu o presidente em mais de uma oportunidade para esclarecer, com exemplos mais práticos, o que o emedebista estava tentando dizer. Em outros momentos, o próprio apresentador dominou a entrevista.

“O governo não mudou o tom, mas encontrou uma plataforma eficiente para difundir o seu discurso e um perfil de entrevistador que contribuiu para transmitir na linguagem do povão” , diz Kaike Nanne, diretor-executivo da Bites.

Mas a ajuda do garoto-propaganda Silvio pode ter chegado tarde. Com as eleições à porta, fevereiro é a data limite determinada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), para votar o texto das mudanças no INSS. A tendência é que o deputado do DEM só coloque o texto na pauta quando houver certeza de vitória sob a pena de uma eventual derrota arrefecer a potencial influência do governo e seus aliados no pleito de outubro.

O problema: até agora, as projeções mais otimistas da base de Temer, segundo a consultoria americana Eurasia, dão conta de 275 votos pró-reforma -- número inferior aos 308 apoios necessários para aprovar o texto.

“O déficit de legitimidade do governo limita qualquer estratégia de comunicação pró-reforma. Esse é o pecado capital do atual governo”, lembra o cientista político Rafael Cortez, responsável pela análise política da consultoria Tendências.

Nesta quinta (1º), Maia negou que a baixa aprovação do presidente (cuja gestão é considerada ótima ou boa por apenas 6% da população, segundo o Datafolha)  interfira na tramitação da pauta. Mas, ontem, foi categórico ao afirmar que ainda não há amplo apoio da população para as mudanças e de que a tendência é de que esse seja um tema para o próximo presidente em 2019.

Segunda uma pesquisa do Ibope, encomendada pelo Planalto e obtida pelo jornal Folha de S. Paulo, apenas 14% dos brasileiros aprovam a reforma da Previdência e 87% dos que desaprovam admitem que não mudaram de opinião ao saber mais do tema.

“Esse assunto não está no dia a dia das pessoas. No último ano, foram apenas 43 mil buscas mensais sobre reforma da Previdência no Google, o que é nada”, afirma Manoel Fernandes, sócio da Bites.

Por outro lado, o assunto é dominado entre aqueles que são contrários à medida — em mais uma prova de que o governo pode estar perdendo a batalha da comunicação nesse assunto. Tanto que o post mais com mais interações sobre a reforma da Previdência no perfil do Palácio do Planalto no Facebook congrega quase 10 vezes mais reações negativas do que positivas de seus seguidores.

A imagem, postada no último dia 24, alfineta os seguidores da página a escolher como eles desejariam entrar para a história: “a geração que salvou a aposentadoria” ou “a geração que deixou o país quebrar”.

Por ora, ao que tudo indica, a primeira opção tende a virar assunto para o próximo morador do Palácio do Planalto eleito em outubro. Segundo cálculo da consultoria Eurasia, a chance de aprovação do texto neste ano é de apenas 30%.

 

 

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