Sem tempo de TV, Bolsonaro e Marina devem perder força, diz analista
Candidatos não vão ter tempo de televisão para se defender dos ataques que vão sofrer das candidaturas com mais tempo de televisão e mais estrutura
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de abril de 2018 às 16h53.
As candidaturas do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e da ex-ministra Marina Silva (Rede) à presidência da República nessas eleições , que lideram pesquisa de intenção de voto Datafolha em cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tendem a perder força durante a campanha, pois não vão ter tempo de televisão para se defender dos ataques que vão sofrer das candidaturas com mais tempo de televisão e mais estrutura partidária.
A avaliação é do cientista político Jairo Pimentel, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp), em entrevista ao Broadcast Político, após a divulgação de pesquisa feita pelo instituto Datafolha. "Todos aqueles que saem na frente nas pesquisas e têm menos tempo de TV, vão sofrer ataques de adversários diretos na luta por uma vaga no segundo turno", afirmou.
Para Pimentel, apesar do alto número de nomes que se apresentam como pré-candidatos, a tendência é que a eleição se concentre mais uma vez entre duas fortes candidaturas, uma mais à esquerda e outra mais à direita, que devem se enfrentar no segundo turno.
"O Brasil continua polarizado. A ausência de Lula não anula isso. A opinião pública busca simplificar o quadro eleitoral e a mente humana funciona de maneira mais dual. Sem Lula, os polos vão se organizar, em uma candidatura que represente os mais pobres e outra que represente os mais ricos. Continuará havendo a divisão entre 'vermelhos' e 'azuis'. A questão é saber quem vai encabeçar esses grupos", disse.
Nesse sentido, o candidato que mais tem chance de atrair o voto da esquerda é o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), acredita o cientista político, dada a capacidade limitada que Lula terá de transferir votos para outro candidato do PT, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ou o ex-governador da Bahia Jaques Wagner. "Deve haver uma migração do voto dos mais pobres ao Ciro Gomes, principalmente nas regiões Norte e Nordeste", espera.
Na direita, o cenário é mais incerto, afirma Pimentel, em razão do alto número de nomes que se apresentam nesse campo, como Bolsonaro, na extrema-direita, e, na centro-direita, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente Michel Temer e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, estes dois últimos do MDB. "Se não houver uma diminuição da fragmentação na direita, a tendência é que Bolsonaro vá ao segundo turno. Mas, se a centro-direita se unir em torno de uma candidatura, essa candidatura deve ir ao segundo turno", afirmou.
De qualquer forma, a pesquisa de intenção de voto divulgada hoje pelo Datafolha sinaliza que Bolsonaro parece ter chegado a um teto, uma vez que ele não se beneficiou do enfraquecimento de Lula. "Se Bolsonaro representa o oposto de Lula, na queda de Lula ele deveria se sobressair, mas não foi o que aconteceu", disse o cientista político. "Parece que ele não aproveitou bem esse momento da prisão de Lula".
Os cenários feitos para o segundo turno também reforçam essa percepção. Bolsonaro perde para Lula e Marina e empata com Ciro e Alckmin. Só ganha de Haddad ou Wagner. "Como o Bolsonaro é um candidato de um nicho específico, a extrema-direita, ele tem dificuldade para alcançar o eleitor de centro, ele acaba não conseguindo o voto do eleitor mediano", afirmou.
Ainda de acordo com Pimentel, os eleitores mais alinhados com o "campo azul" podem apostar no voto útil, à medida em que a data do primeiro turno se aproximar. "As pessoas podem perceber que a candidatura de Bolsonaro está mais desidratada e, com isso, migrar para um candidato que tenha mais chance de derrotar a esquerda no segundo turno", explicou.
Sobre a capacidade de Lula de transferir votos para outro candidato do PT, o cientista político afirma que isto vai depender da condição jurídica do ex-presidente. "Uma coisa é o Lula livre, fazendo passeata, subindo no palanque, debatendo temas contemporâneos. A candidatura ganha força. Outra coisa é ele preso, apenas gravando vídeos e com pouca cobertura da mídia. Há uma perda de força. Hoje a capacidade dele é média".