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Sem provas, Bolsonaro diz que DiCaprio doou para "tacar fogo na Amazônia'

Apesar de declaração, não há nenhuma comprovação de que organizações da sociedade civil estejam envolvidas na série de queimadas

DiCaprio e Bolsonaro: presidente disse que o ator está pagando para promover queimadas na Amazônia (Getty/Agência Brasil/Reprodução)

DiCaprio e Bolsonaro: presidente disse que o ator está pagando para promover queimadas na Amazônia (Getty/Agência Brasil/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de novembro de 2019 às 12h38.

Última atualização em 29 de novembro de 2019 às 16h01.

São Paulo - O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira (29) que o ator Leonardo DiCaprio está pagando para promover queimadas na Amazônia. "Agora, Leonardo Dicaprio é um cara legal, né? Dando dinheiro para tacar fogo na Amazônia", declarou o presidente a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.

Bolsonaro também ironizou suspeitas sobre envolvimento de ONGs em incêndios na região. "Quando eu falei que há suspeita de ONGs o que a imprensa fez comigo?", afirmou o presidente, se dirigindo a jornalistas presentes.

Em agosto deste ano, Bolsonaro disse que os incêndios que ocorriam na região amazônica poderiam ter origem criminosa e que ONGs de proteção ao meio ambiente poderiam estar envolvidas. Não há até agora, no entanto, nenhuma evidência concreta de envolvimento de organizações da sociedade civil em queimadas.

As declarações de Bolsonaro foram feitas após uma apoiadora afirmar: "Os índios em Altamira (PA) falam francês. Lá o fogo foi criminoso".

Sem apresentar provas, Bolsonaro já havia ligado o ator às queimadas na floresta durante transmissão nas redes sociais, na quinta-feira, 28. "Tira foto, manda para ONG, a ONG divulga, entra em contato com o Leonardo DiCaprio e ele doa US$ 500 mil para essa ONG. Leonardo DiCaprio, você está colaborando com as queimadas na Amazônia", afirmou.

O caso dos brigadistas

As falas de Bolsonaro fazem referência à operação da Polícia Civil que prendeu na quarta-feira (26) quatro pessoas ligadas a ONGs que desenvolvem atividades em Alter do Chão, em Santarém, no Pará. Eles foram soltos na quinta-feira (28).

A acusação é que eles teriam ateado fogo intencionalmente na floresta amazônica, mas organizações ambientais e da sociedade civil veem uma tentativa de pressão do governo sobre grupos ambientalistas.

Uma conversa que envolve um diretor de uma ONG é considerada pela polícia como principal elemento que liga ambientalistas e brigadistas a incêndios.

Nenhum elemento ligado a perícia, testemunhas ou imagens conclusivas, no entanto, é apresentado no documento que embasa o pedido deferido pela Justiça, ao qual o Estado teve acesso.

Para a Polícia Civil, parte dos recursos doado pelo WWF a ONGs teria sida desviada. A WWF Brasil diz que não adquiriu nenhuma foto ou imagem da Brigada nem recebeu doação de DiCaprio.

Após a soltura dos brigadistas, o governador Pará, Helder Barbalho (MDB), anunciou a troca do delegado que cuida do caso. A presidência do inquérito, que estava a cargo da Polícia Civil de Santarém, agora terá o comando do diretor da Delegacia Especializada em Meio Ambiente, Waldir Freire.

O Ministério Público Federal do Pará afirmou que, até o momento, não há provas que apontem ligação dos membros da ONG aos incêndios ocorridos em setembro na região e as linhas de investigação envolvem a atuação de grileiros.

Aumento do desmatamento

Entre agosto de 2018 e julho deste ano, o desmatamento da Amazônia cresceu 29,5%, o maior índice em 11 anos. Os dados foram revelados na última semana pelo Prodes, um sistema de satélite que faz o monitoramento anual do desmatamento por corte raso na região, e foram divulgados nesta segunda-feira (18) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

O sistema indicou uma área de 9.762 quilômetros quadrados de área desmatada.

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