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Seis jornalistas foram agredidos em São Bernardo durante prisão de Lula

Sábado foi marcado por manifestações, mas também por agressões contra profissionais da imprensa

Manifestações a favor de Lula: neste sábado, jornalistas foram hostilizados (Ricardo Moraes/Reuters)

Manifestações a favor de Lula: neste sábado, jornalistas foram hostilizados (Ricardo Moraes/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de abril de 2018 às 20h31.

Última atualização em 7 de abril de 2018 às 21h41.

São Paulo - Pelo menos seis repórteres foram agredidos ou ameaçados neste sábado, 7, em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, de acordo com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Na sexta-feira, 6, outros três casos de agressão e hostilidade contra a imprensa foram registrados pela associação no local, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, estava desde a quinta-feira. O petista se entregou à PF às 18h41 deste sábado.

Às 15h36, a repórter da TV Band Joana Treptow levou um tapa na mão durante uma transmissão ao vivo. Pelo Twitter, a jornalista contou que foi ameaçada e hostilizada diversas vezes ao longo do dia. No início da noite, ela relatou que teve que deixar o local. "Fui obrigada a tal. Tentamos e conseguimos trabalhamos apesar dos pesares. Ficaríamos mais se não estivéssemos expostos e em perigo. Grupos de baderneiros. Grupos isolados, digo de novo", escreveu a repórter.

Cerca de uma hora depois, a repórter Gabriela Mayer, da rádio BandNews, foi cercada e levou um tapa na barriga. Segundo a Abraji, uma mulher tentou tirar o celular da jornalista à força.

Uma equipe da RedeTV também foi agredida e acossada enquanto fazia uma passagem para a cobertura sobre a prisão do ex-presidente. O repórter Igor Duarte, o cinegrafista Ricardo Luiz e o assistente Everaldo Guimalhães tiveram que interromper a reportagem ao serem xingados de "golpistas". Em seguida, os militantes atiraram copos, latas de cerveja e água contra os profissionais. A equipe conseguiu sair do local e ninguém se feriu.

O diretor do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro), delegado Albano David Fernandes, afirmou que os jornalistas agredidos pelos petistas devem procurar a Delegacia Seccional de São Bernardo do Campo, para que possam fazer o exame de corpo de delito a fim de constatar lesões e identificar os agressores. "É nosso dever investigar esse tipo de agressão e nós faremos", afirmou

Outros dois profissionais da imprensa reportaram hostilidades no fim da tarde. A rádio Jovem Pan reportou que o repórter Caio Rocha foi intimidado e impedido de continuar uma transmissão ao vivo por manifestantes. Bruna Barboza, da Bandeirantes, relatou ter sido cercada e xingada de "fascista", "elite branca" e "mídia golpista". "Difícil trabalhar com medo", publicou a jornalista no Twitter.

Pela manhã, o repórter Pedro Duran, da rádio CBN, foi hostilizado por militantes que atiraram garrafas d'água e grades na direção do jornalista. Ele foi protegido pelo deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) e pelos seguranças do parlamentar.

Em Congonhas, o repórter da Globo Roberto Kovalick foi hostilizado por manifestantes pró-Lula e precisou deixar o local. A informação é da Folha de S. Paulo.

Agressões a jornalistas Curitiba

Equipes de reportagem também foram hostilizadas em frente à Polícia Federal em Curitiba neste sábado. Os maiores alvos são as equipes de televisão, como Globo e SBT. Gritos de ordem contra a imprensa são feitos nos momentos em que os repórteres fazem passagens ao vivo ou gravam falas diante das câmeras. Não há informação sobre casos de agressão físicas.

Os grupos contrários e favoráveis a Lula estão em áreas separadas. A polícia pediu que as pessoas que protestam não usem caixas de som, embora os dois lados já tenham ligado equipamentos de som. O PT promete fazer uma "vigília permanente" na região. O partido tenta alugar um terreno próximo à PF para montar um acampamento.

Clima anti-imprensa

Repórteres do Estado que estavam no sindicato relataram que o clima na manifestação pró-Lula é muito pesado. Pela manhã, o ex-presidente desferiu ataques à imprensa durante seu discurso. Ele chegou a dizer que os veículos de comunicação e o Ministério Público "adiantaram a morte" da ex-primeira-dama Marisa Letícia.

"Um sonho de consumo deles é que eu não seja candidato. O outro é a foto da minha prisão. Imagino a tesão da Veja. Eles vão ter orgasmos múltiplos", disse.

As agressões a jornalistas têm sido recorrentes nas manifestações contra a prisão de Lula. Houve registros em São Bernardo e em Brasília. Um carro do Correio Braziliense foi apedrejado na capital federal e um fotógrafo do Estado foi atingido por ovos na cidade do ABC paulista na sexta.

Entidades criticam atos de violência contra jornalistas

Entidades de defesa à liberdade de imprensa repudiaram as agressões contra jornalistas. A Abraji voltou a manifestar preocupação e pediu que políticos e líderes de movimentos colaborem para garantir a integridade física dos profissionais de imprensa.

"A Abraji está atenta aos casos de agressão e intimidação de jornalistas, registrando-as e buscando informações. Com tal violência, perdemos todos. Fragiliza-se um dos pilares da democracia: a liberdade de expressão", comunicou a associação, em nota.

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) publicaram nota conjunta na sexta contra os ataques à imprensa na cobertura da prisão de Lula.

"Toda essa violência injustificável e covarde decorre da intolerância e da incapacidade de compreender a atividade jornalística, que é a de levar informação para os cidadãos. Além de atentar contra a integridade física dos jornalistas, os agressores atacam o direito da sociedade de ser livremente informada", comunicaram as entidades.

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