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Segurança não se resolve só militarmente, diz CICV sobre RJ

O diretor do CICV evitou comentar o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, do PSOL, na noite de quarta-feira

Cruz Vermelha: diretor da organização disse que qualquer iniciativa de segurança pública não pode ser abordada apenas pelo ponto de vista policial e militar (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Cruz Vermelha: diretor da organização disse que qualquer iniciativa de segurança pública não pode ser abordada apenas pelo ponto de vista policial e militar (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

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Reuters

Publicado em 15 de março de 2018 às 18h35.

São Paulo - O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) tem acompanhado a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro e defendido junto às autoridades a necessidade de respeito aos padrões internacionais de direitos humanos e de uso da força, disse à Reuters nesta quinta-feira o diretor regional do CICV para as Américas, Stephan Sakalian.

Sakalian afirmou que esteve nesta semana no Rio e se reuniu com o interventor federal na segurança fluminense, general Walter Braga Netto, para discutir a dinâmica da operação e assuntos humanitários.

"Durante a minha última visita ao Rio, há dois dias, por exemplo, eu tive a oportunidade de fazer uma visita ao general Braga Netto e discutir uma série de questões humanitárias, compreender melhor a dinâmica e garantir que qualquer coisa que vá acontecer seja feita de forma de que as autoridades no Brasil façam seu máximo para que os padrões internacionais de direitos humanos e uso da força sejam respeitados", disse Sakalian em entrevista à Reuters, durante o Fórum Econômico Mundial para a América Latina, realizado em São Paulo.

O diretor do CICV evitou comentar o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, do PSOL, na noite de quarta-feira, e afirmou que qualquer preocupação humanitária a ser detectada pelo CICV será levada diretamente às autoridades brasileiras.

Ele disse, ao mesmo tempo, que qualquer iniciativa de segurança pública não pode ser abordada apenas pelo ponto de vista policial e militar.

O Estado do Rio está sob intervenção federal na área de segurança pública desde o mês passado, devido a uma escalada da violência e a uma profunda crise financeira que afetou a capacidade de investimento nas forças policiais.

"A segurança pública não pode ser solucionada somente por policiais ou militares. Muito é colocado sobre os ombros deles para resolverem os problemas relacionados à segurança, mas a opinião do CICV é de que, se você quer ter uma política de segurança, no geral é muito importante considerar outros aspectos, especialmente prevenção. Precisamos associar outros serviços públicos", disse ele durante a entrevista, feita em inglês.

Em meio a um crescente debate sobre controle de armas no Brasil, incluindo a movimentação de políticos que buscam facilitar o acesso a armas de fogo, o diretor do CICV defendeu um controle mais restrito ao acesso a armamentos.

"Se armas puderem ser obtidas, devem ser somente sob aspectos internacionais muito específicos, precisa ser feito de forma que a venda e a distribuição dessas armas possam ser rastreadas e precisa ser feito de forma que essas armas não acabem em mãos erradas", afirmou.

Colômbia e Venezuela

Sakalian disse que o CICV, que atua em locais de conflito armado e onde há violência armada, tem ações em comunidades pobres da Venezuela, especialmente na capital Caracas, diante da crise socioeconômica que afeta o país em meio à falta de alimentos básicos e manifestações contrárias ao governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Segundo ele, a entidade também acompanha de perto a situação de imigrantes venezuelanos que têm fugido para Roraima e que, qualquer eventual ação do CICV neste caso, será feita junto com a Cruz Vermelha do Brasil e em "total coordenação com as autoridades brasileiras".

Sakalian classificou ainda o acordo de paz entre o governo da Colômbia e a antiga guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) --pelo qual o grupo se tornou um partido político chamado Força Alternativa Revolucionária do Comum-- "é algo que trouxe um pouco de luz no fim de um longo túnel", mas ressalvou que o país ainda vive problemas de conflitos armados e que a implementação do acordo tem de ser concluída.

"Não devemos esquecer que, apesar do acordo de paz que foi assinado com as Farc, ainda há uma série de conflitos internos em andamento em certas áreas da Colômbia, com outros grupos", disse Sakalian.

"O acordo de paz tem uma série de capítulos, e um que é uma preocupação particular do CICV é sobre a velocidade com que o Estado vai preencher o vácuo de poder após a retirada das Farc. E aí, é claro, quando falamos em retomar o controle de certas áreas da Colômbia, não estamos falando apenas do controle da segurança pela polícia ou pelos militares, estamos falando da oferta de serviços públicos", afirmou.

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