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Seca e fogo no Pantanal levam antas a matar sede com brigadistas

Maior mamífero terrestre da América do Sul, anta aceita água e comida dada por brigadista, o que é incomum entre animais silvestres

Onça-pintada no Pantanal: a floresta sofre com o recorde de incêndios em 2020 (Mauro Pimentel/AFP)

Onça-pintada no Pantanal: a floresta sofre com o recorde de incêndios em 2020 (Mauro Pimentel/AFP)

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GabrielJusto

Publicado em 4 de setembro de 2021 às 14h56.

Última atualização em 4 de setembro de 2021 às 14h56.

Um registro inédito e triste foi feito por brigadistas do Sesc Pantanal nesta sexta-feira. Antas aceitaram água direto na boca, o que é incomum para animais silvestres. Até o ano passado, o tanque onde elas estavam era uma referência para os animais, que matavam a sede ali. Este ano, o reservatório secou e só tem lama. Uma equipe de brigadista combatia um incêndio ao sul da reserva avistou os animais. Eles pararam e ofereceram para as antas 15 litros de água, que estavam em garrafas térmicas.

O brigadista Cleverson Mileski contou que oito antas estavam no local e não se afastaram com a aproximação. Segundo Mileski, os animais estavam debilitados, duas estavam deitadas e as demais afastadas.

Quando começamos a dar água para elas, as outras se aproximaram. Foi uma cena triste para nós que estamos aqui no dia a dia lutando contra o fogo, mas também é uma vitória poder ajudar, disse Mileski.

Depois de oferecer água, a equipe acionou um caminhão-pipa para levar mais água e frutas para auxiliar no restabelecimento das antas mais debilitadas. Também foi instalada uma câmera para acompanhamento dos animais, seguindo orientações do Grupo de Estudos em Vida Silvestre (Gevs).

O Sesc Pantanal fica em Barão de Melgaço, no Mato Grosso, e é a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do país. No último período de seca, boa parte da reserva foi atingida por queimadas.

Segundo a nota distribuída pelo Sesc, a coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab), do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), Patrícia Médici, ficou impressionada com o registro. Em 25 anos de trabalho com antas nunca vi nada parecido com isso. A indicação não é para resgate. A principal medida neste momento é prover água e alimentos, disse ela.

A bióloga Cristina Cuiabália, gerente de Pesquisa e Meio Ambiente do Sesc Pantanal, lembrou que os animais silvestres costumam se afastar dos humanos. Ela acredita que as antas aceitaram a água por estarem numa região distante dos rios Cuiabá e São Lourenço.

O Pantanal está no período de seca. Neste período a água costuma ficar restrita a rios e lagoas, onde os animais matam a sede e tomam banho. Nos últimos dois anos o Pantanal sofre com seca, altas temperaturas e baixa umidade do ar.

Cristina explica que a água está escassa nas regiões mais distantes dos rios e os animais têm de percorrer longas distâncias para encontrá-la.

A anta é o maior mamífero terrestre nativo da América do Sul e está ameaçada de extinção. Ela chega a pesar 300 quilos. É conhecida como a jardineira da floresta. Com suas fezes, dispersam sementes na terra e ajudam a recuperar a vegetação no Pantanal.

Os brigadistas do Sesc Pantanal abastecem os tanques de água da reserva semanalmente e ajudam nas operações de combate ao fogo no entorno da reserva, que tem 108 mil hectares - área equivalente a cidade do Rio de Janeiro. No ano passado, 93% da reserva foi atingida pelo fogo.

 

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