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São Paulo debate apoio a usuários de crack

Apesar de adotarem abordagens diferentes no atendimento a usuários de drogas, prefeitura e governo estadual esperam trabalhar juntos para enfrentar o crack


	Parentes de usuários de crack aguardam atendimento: o Programa Recomeço, do governo do estado, dispõe de 2,3 mil vagas em leitos hospitalares e comunidades terapêuticas
 (Marcelo Camargo/ABr)

Parentes de usuários de crack aguardam atendimento: o Programa Recomeço, do governo do estado, dispõe de 2,3 mil vagas em leitos hospitalares e comunidades terapêuticas (Marcelo Camargo/ABr)

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Da Redação

Publicado em 23 de janeiro de 2014 às 17h23.

São Paulo - Apesar de adotarem abordagens diferentes no atendimento a usuários de drogas, a prefeitura da capital paulista e o governo estadual esperam trabalhar juntos no enfrentamento à dependência do crack. O município investe em ações de redução de danos no Programa Braços Abertos, iniciado no último dia 14.

O estado investe na criação de leitos em hospitais e comunidades terapêuticas para possibilitar a internação dos usuários. A integração foi debatida hoje (23) em um seminário para agentes de saúde que trabalham nas ruas de São Paulo. Para os gestores, as ações são complementares.

“Não dá para fugir de dizer que a política de álcool e drogas no município é para redução de danos. Não significa que o município não precise de internação. Precisa, sim, mas deve ser curta”, avaliou a médica Myres Maria Cavalcante, coordenadora da área de Saúde Mental, Álcool e Drogas da Secretaria de Saúde do município.

Ela destaca que os protocolos médicos orientam que, quanto menos tempo o paciente ficar em hospital, melhor. “Isso vale para qualquer área, doenças físicas, como câncer, e para a mente”, reforçou.

A coordenadora da área na secretaria de Saúde do estado, Rosangela Elias, concorda que o trabalho conjunto é conflituoso. “A diferença conceitual está vinculada à forma do atendimento, à metodologia da atenção, mas o foco da gente é o cuidado com o indivíduo. Temos que nos preocupar em criar consensos”, apontou.

O Programa Recomeço, do governo do estado, dispõe de 2,3 mil vagas em leitos hospitalares e comunidades terapêuticas. De acordo com a secretaria, no ano passado, 84% das internações foram voluntárias, apenas uma foi compulsória e o restante involuntária, com a aprovação da família.

O programa da prefeitura acolhe dependentes químicos em hotéis da região central e oferece uma bolsa para que eles trabalhem no serviço de limpeza de ruas, calçadas e praças no centro da cidade.


Cada usuário recebe um salário mínimo e meio, que inclui os gastos com alimentação, hospedagem, além de R$ 15 por dia de trabalho. Os dependentes foram retirados da favela instalada na Alameda Dino Bueno, na região da Cracolândia.

O psicanalista Antônio Lancetti, que presta consultoria ao programa municipal, discorda do sistema de internação.

“Ela vem sendo tentada há muito tempo e não funciona. O que foi feito aqui [pela prefeitura] é outra coisa, foi uma intervenção no território. A via pública foi liberada com inclusão e não exclusão. Isso faz parte do tratamento”, disse. Ele destacou que, na ação da Alameda Dino Bueno, os próprios dependentes desmontaram as barracas e aderiram ao programa.

O coordenador do Programa Recomeço, psiquiatra Ronaldo Laranjeira, que é pesquisador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Droga, da Universidade Federal de São Paulo, avalia que os pacientes apresentam necessidade diferentes e, por isso, a internação é necessária.

“Não tenho vergonha de falar que este não é um programa de redução de danos. São formas distintas de intervenção que precisam entender e usar da melhor forma possível para cuidar das pessoas”, declarou.

Entre os agentes de saúde presentes, um questionamento recorrente foi a utilização dos programas como estratégia eleitoral e a possibilidade de que eles sejam interrompidos. Foi questionado também se as ações são feitas com vistas à Copa do Mundo, que ocorre em junho deste ano, com a abertura dos jogos em São Paulo.

“Não tem nada a ver com o calendário da Copa. Ela vai passar longe daqui. O trabalho vai além dos jogos. Vocês vão acompanhar”, prometeu Edson Ortega, assessor do governador Geraldo Alckmin. O secretário adjunto da secretaria de Saúde, Paulo de Tarso Puccini, garantiu que a ação municipal não será temporária.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que participou da abertura do encontro, destacou que o problema da dependência química não pode ser enfrentado de forma isolada.

“Ninguém vai conseguir combater a realidade com tentativas solitárias. Os três níveis de governo devem atuar juntos”, disse. Ele destacou que neste ano a capital paulista vai receber R$ 256 milhões a mais de recursos para “abrir mais Centros de Atenção Psicossocial, apoiar as iniciativas de internação do governo do estado e consultórios de rua”.

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