Saneamento básico deixa de fora mais pobres, negros e jovens
Maioria dos brasileiros que ganha até 1,9 mil reais por mês não tem acesso a serviços de distribuição de água e tratamento de esgoto, segundo levantamento inédito
Carla Aranha
Publicado em 13 de julho de 2021 às 07h00.
Os brasileiros com menos acesso ao serviços de saneamento básico possuem um perfil homogêneo: em sua maioria, pertencem aos estratos mais pobres da sociedade, são negros, jovens e com baixo grau de instrução. É o que mostra um estudo inédito do Instituto Trata Brasil, realizado com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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O levantamento aponta que 60% dos brasileiros com renda de até 1,9 mil reais por mês não são atendidos pela coleta de esgoto e distribuição de água tratada. Nas faixas de renda com ganhos de até 2.863 reais, o drama é parecido: 50% não têm acesso ao saneamento básico.
"São locais em geral com uma pirâmide demográfica mais jovem e mais indíviduos negros ou pardos, com os quais o país tem uma dívida histórica", diz o economista Fernando Garcia de Freitas, pesquisador do Instituto Trata Brasil e autor do estudo.
De acordo com o levantamento, os índices de privação aos serviços de saneamento é maior entre a populações negra, parda e indígena. Cerca 32% dos negros não têm acesso a
abastecimento de água e 37% moram em locais que não contam com redes de esgoto. "É o retrato da desiguldade social do país", analisa Freitas.
A maioria dos dessastidos também é jovem: entre as pessoas com menos de 19 anos, um terço não é atendida por serviços de saneamento. Entre os menos instruídos, que não completaram o ensino fundamental, a situação é ainda pior: dois terços não são atendidos adequadamente pelos serviços de água e esgoto.
Pagamento
O estudo também mostra que 9,2 milhões não pagam a conta de água e esgoto. "Trata-se de um desafio para as operadoras", diz Freitas. Entre os brasileiros que arcam com os custos do serviço, a maioria (22,1 milhões) vivem na região Sudeste. Apenas 30% dos moradores do Amapá com acesso ao saneamento arca com as despesas do serviço, diante de 61,2% no Pará e 52,3% no Rio de Janeiro.
Entre 2008 e 2018, aumentou o número de pessoas que pagam a conta de água e esgoto. Nas áreas urbanas, a expansão foi de 2)% e, na zona rural, de 45,4%.
Na última década, a despesa das famílias com água e esgoto caiu. Passou de 68,86 reais, em média, em 2008, em valores corrigidos pela inflação, para 68,20 reais em 2018. "Isso mostra que os brasleiros continuaram pagando basicamente o mesmo valor pelo serviço", diz Freitas.
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