Pessoas usando máscaras em meio ao surto de coronavírus no Rio de Janeiro (Pilar Olivares/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 25 de abril de 2020 às 10h48.
Última atualização em 25 de abril de 2020 às 10h50.
Enquanto o novo coronavírus avança, inclusive em número de mortos, muitos cariocas parecem estar “afrouxando” por conta própria as regras de distanciamento social.
Nesta sexta-feira, em locais como o Largo do Machado se via uma grande circulação de pessoas e dezenas de ambulantes. Pelas taxas de isolamento contabilizadas pela empresa Cyberlabs, que usa inteligência artificial e imagens das câmeras do Centro de Operações da prefeitura (COR), há bairros da cidade que preocupam.
Em Botafogo, por exemplo, que já havia tido uma redução de 80% do movimento em relação ao período pré-pandemia, ontem a queda, até as 17h, foi de apenas 69%. Sinal amarelo também para Copacabana, onde a taxa foi de 76%, e lojas de serviços não essenciais, como o comércio de brinquedos, funcionavam normalmente.
"Há bairros que desde o início do isolamento exigem cuidado maior, como Botafogo e Copacabana, onde moram muitos idosos e há muitos casos de coronavírus", diz o engenheiro mecatrônico Felipe Vignoli, sócio-fundador da Cyberlabs, que repassa os dados ao COR para que a prefeitura desenhe estratégias para garantir o máximo de isolamento.
Segundo ele, Jacarepaguá , na Zona Oeste, também teve uma redução considerada baixa, de 74%. Já a Barra, bairro que concentra maior número de casos da doença (244 ocorrências), tinha uma taxa de 88%, considerada boa.
Até o fim da tarde, a média na cidade era 81%, mesmo percentual registrado na semana até ontem, e que pode ter sofrido um impacto positivo por causa de dois feriados — na terça-feira, de Tiradentes, e anteontem, de São Jorge .
"Um fator que impacta muito no isolamento é data festiva, como os feriados dessa semana, além de chuva, que faz com que as pessoas fiquem mais em casa", diz Vignoli.
O chefe-executivo do COR, Alexandre Caderman, diz temer que o isolamento social para quem pode ficar em casa diminua ainda mais nos próximos dias.
"O que a gente agora vai observar é se o uso obrigatório da máscara (em vigor desde quinta-feira) vai levar as pessoas a saírem mais de casa por se sentirem mais protegidas. O que não deve ocorrer; a orientação é continuar o isolamento", afirma Caderman.
O cuidado deve ser redobrado. Numa reunião do gabinete de crise do município na quarta-feira, o Instituto de Matemática da UFRJ, que tem feito projeções para a prefeitura, reviu os cálculos de infectados na cidade para as próximas semanas: a nova estimativa prevê que o Rio poderá ter 7.555 contaminados no dia 4 de maio, caso o índice de isolamento social seja mantido em torno de 70%.
Para quinta-feira, os matemáticos estimavam que os total de infectados chegaria a 4.089 — o número final foi bem próximo, atingindo 4.027 (margem de erro de 1,53%). Esses cálculos levaram o prefeito Marcelo Crivella a suspender, por dez dias, as feiras livres.
"As feiras têm uma aglomeração enorme. E o número de pessoas internadas na rede SUS nos últimos dias chegou a mais de mil pessoas", justificou Crivella.
Enquanto muitos cariocas têm saído às ruas, outros têm fiscalizado as aglomerações, que estão no primeiro lugar na lista de reclamações recebidas pelo canal 1746 da prefeitura, entre os dias 2 a 20 de abril. Antes, remoção de entulho era a principal queixa, de acordo com a Casa Civil.
O Disk Aglomeração já recebeu, entre o dia 12 deste mês até as 14h18 de ontem, 10.292 chamados, de 162 bairros. A maior parte foi em relação a praças, ruas, praias e áreas de lazer.
Em seguida vêm bares e restaurantes; residências ou condomínios; e lojas ou estabelecimentos comerciais. O bairro que acumulou mais queixas foi Campo Grande, depois Bangu, Realengo e Santa Cruz, também na Zona Oeste.