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Roraima se prepara para crise de refugiados venezuelanos

As autoridades não têm uma contagem precisa do número de pessoas que já entraram no território brasileiro, mas estimam que já passem dos 30 mil

Venezuela: venezuelanos que já atravessaram a fronteira se viram para ganhar a vida em Boa Vista, Pacaraima ou mesmo em Manaus (Marco Bello / Reuters)
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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2016 às 10h23.

Boa Vista e Pacaraima - O governo de Roraima vai criar um 'gabinete de emergência' para lidar com o fluxo de refugiados venezuelanos que atravessam a fronteira seca ao norte do Brasil buscando melhores condições de vida no País.

As autoridades não têm uma contagem precisa do número de pessoas que já entraram no território brasileiro em tais condições, mas estimam que já passem dos 30 mil.

A formação do gabinete especial contará com representantes de diversas secretarias de governo, além da coordenação do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil.

Segundo o comandante dos Bombeiros e da Defesa Civil, coronel Edvaldo Amaral, a medida é uma forma de intensificar a atividade estadual para tentar conter a crise.

Apesar disso, a governadora Suely Campos, que deve avaliar nesta quinta-feira, 13, o texto do decreto, pretende exigir maior envolvimento do governo federal na questão.

A reportagem procurou nesta quarta-feira, 12, os ministérios da Justiça e da Integração Nacional, mas não houve resposta.

Mas o novo esforço pode esbarrar em um problema mais local: o governo de Roraima atrasou os pagamentos de salário dos funcionários públicos e anunciou que pretende adotar medidas semelhantes às tomadas pelo Rio Grande do Sul, como o parcelamento do pagamento dos vencimentos dos servidores.

O secretário da Fazenda do Estado, Shiská Pereira, atribui o problema a uma redução no repasse do Fundo de Participação dos Estados (FPE), do governo federal.

Enquanto as propostas de solução não saem do papel, venezuelanos que já atravessaram a fronteira se viram para ganhar a vida em Boa Vista, Pacaraima - primeira cidade após a fronteira - ou mesmo em Manaus, para onde partem ônibus regularmente da Rodoviária Internacional, na capital de Roraima.

Nos semáforos, muitos jovens, alguns com bonés de times de beisebol da Venezuela ou camisas da seleção venezuelana de futebol, se oferecem para limpar para-brisas dos automóveis, vendem morangos, fazem malabarismo em troco de moedas ou simplesmente pedem esmola.

A Polícia Federal deportou cerca de 140 deles no início da semana. As operações são feitas regularmente, mas o fluxo é tão grande que, segundo o coronel Amaral, é "enxugar gelo".

Para chegar a Boa Vista ou avançar até Manaus, os venezuelanos precisam de um visto especial que é concedido em um posto de fronteira pouco antes de Pacaraima.

Na cidade fronteiriça, os venezuelanos que tentam juntar dinheiro para seguir viagem a Boa Vista ou Manaus dormem nas ruas e aceitam todo tipo de trabalho.

Dois deles disseram à reportagem que pretendem ir mais longe, até São Paulo, mesmo sem qualquer ideia de que tipo de trabalho conseguirão.

"A Venezuela piorou muito, muito. Tenho 29 anos e vi como era enquanto (Hugo) Chávez estava vivo e depois como foi piorando", afirmou um deles, que se identificou apenas como Javier.

No comércio local, é mais comum encontrar funcionários nascidos na Venezuela do que no Brasil. Os mais jovens ainda nem sequer falam português e pedem ajuda a outros, que já vieram há mais tempo, para atender aos clientes que não compreendem espanhol.

Em um dos muitos armazéns da cidade que vendem alimentos aos que atravessam a fronteira buscando produtos para revenda na Venezuela, cerca de 15 pessoas se aglomeram sob uma marquise improvisada.

Um deles, que se identificou apenas como Pedro, diz que estão à espera do amanhecer para trabalhar. O serviço é o de retirar os alimentos dos caminhões brasileiros e estocá-los no armazém.

Às vezes, no entanto, a demanda é tão grande que os produtos como arroz e açúcar são transferidos diretamente dos veículos para caminhões, vans e caminhonetes venezuelanas.

Dormindo em redes esticadas entre a parede do armazém e uma pilastra da marquise, os carregadores foram apelidados de "morcegos" pelos moradores de Pacaraima.

Nenhum deles quer revelar o quanto ganha com o trabalho, mas o pagamento não é suficiente para que deixem a cidade rumo a Boa Vista ou Manaus. "Se fosse, já teríamos ido, não?", afirma Pedro.

Prostituição

Além da exploração de mão de obra barata no comércio e outros setores, a crise venezuelana que tem expulsado as pessoas na direção do Brasil também empurrou muitas mulheres para a prostituição.

A Polícia Civil de Pacaraima não tem números exatos, mas um funcionário da delegacia local, que pediu para não ser identificado, confirmou que houve um aumento significativo da exploração sexual de venezuelanas na cidade.

Segundo ele, a maioria das mulheres atravessa a fronteira diariamente, levada por aliciadores no fim da tarde, voltando para a Venezuela de manhã.

Apesar da situação de crise, a criminalidade não teve um aumento tão grande na cidade, afirmou o mesmo policial.

Os episódios de violência, segundo o agente, geralmente ocorrem entre os próprios venezuelanos e são causados por rixas que já existiam antes de os refugiados cruzarem a fronteira para o Brasil.

Na semana passada, dois homens foram mortos a facadas durante uma briga entre grupos de venezuelanos na cidade.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Boa Vista e Pacaraima - O governo de Roraima vai criar um 'gabinete de emergência' para lidar com o fluxo de refugiados venezuelanos que atravessam a fronteira seca ao norte do Brasil buscando melhores condições de vida no País.

As autoridades não têm uma contagem precisa do número de pessoas que já entraram no território brasileiro em tais condições, mas estimam que já passem dos 30 mil.

A formação do gabinete especial contará com representantes de diversas secretarias de governo, além da coordenação do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil.

Segundo o comandante dos Bombeiros e da Defesa Civil, coronel Edvaldo Amaral, a medida é uma forma de intensificar a atividade estadual para tentar conter a crise.

Apesar disso, a governadora Suely Campos, que deve avaliar nesta quinta-feira, 13, o texto do decreto, pretende exigir maior envolvimento do governo federal na questão.

A reportagem procurou nesta quarta-feira, 12, os ministérios da Justiça e da Integração Nacional, mas não houve resposta.

Mas o novo esforço pode esbarrar em um problema mais local: o governo de Roraima atrasou os pagamentos de salário dos funcionários públicos e anunciou que pretende adotar medidas semelhantes às tomadas pelo Rio Grande do Sul, como o parcelamento do pagamento dos vencimentos dos servidores.

O secretário da Fazenda do Estado, Shiská Pereira, atribui o problema a uma redução no repasse do Fundo de Participação dos Estados (FPE), do governo federal.

Enquanto as propostas de solução não saem do papel, venezuelanos que já atravessaram a fronteira se viram para ganhar a vida em Boa Vista, Pacaraima - primeira cidade após a fronteira - ou mesmo em Manaus, para onde partem ônibus regularmente da Rodoviária Internacional, na capital de Roraima.

Nos semáforos, muitos jovens, alguns com bonés de times de beisebol da Venezuela ou camisas da seleção venezuelana de futebol, se oferecem para limpar para-brisas dos automóveis, vendem morangos, fazem malabarismo em troco de moedas ou simplesmente pedem esmola.

A Polícia Federal deportou cerca de 140 deles no início da semana. As operações são feitas regularmente, mas o fluxo é tão grande que, segundo o coronel Amaral, é "enxugar gelo".

Para chegar a Boa Vista ou avançar até Manaus, os venezuelanos precisam de um visto especial que é concedido em um posto de fronteira pouco antes de Pacaraima.

Na cidade fronteiriça, os venezuelanos que tentam juntar dinheiro para seguir viagem a Boa Vista ou Manaus dormem nas ruas e aceitam todo tipo de trabalho.

Dois deles disseram à reportagem que pretendem ir mais longe, até São Paulo, mesmo sem qualquer ideia de que tipo de trabalho conseguirão.

"A Venezuela piorou muito, muito. Tenho 29 anos e vi como era enquanto (Hugo) Chávez estava vivo e depois como foi piorando", afirmou um deles, que se identificou apenas como Javier.

No comércio local, é mais comum encontrar funcionários nascidos na Venezuela do que no Brasil. Os mais jovens ainda nem sequer falam português e pedem ajuda a outros, que já vieram há mais tempo, para atender aos clientes que não compreendem espanhol.

Em um dos muitos armazéns da cidade que vendem alimentos aos que atravessam a fronteira buscando produtos para revenda na Venezuela, cerca de 15 pessoas se aglomeram sob uma marquise improvisada.

Um deles, que se identificou apenas como Pedro, diz que estão à espera do amanhecer para trabalhar. O serviço é o de retirar os alimentos dos caminhões brasileiros e estocá-los no armazém.

Às vezes, no entanto, a demanda é tão grande que os produtos como arroz e açúcar são transferidos diretamente dos veículos para caminhões, vans e caminhonetes venezuelanas.

Dormindo em redes esticadas entre a parede do armazém e uma pilastra da marquise, os carregadores foram apelidados de "morcegos" pelos moradores de Pacaraima.

Nenhum deles quer revelar o quanto ganha com o trabalho, mas o pagamento não é suficiente para que deixem a cidade rumo a Boa Vista ou Manaus. "Se fosse, já teríamos ido, não?", afirma Pedro.

Prostituição

Além da exploração de mão de obra barata no comércio e outros setores, a crise venezuelana que tem expulsado as pessoas na direção do Brasil também empurrou muitas mulheres para a prostituição.

A Polícia Civil de Pacaraima não tem números exatos, mas um funcionário da delegacia local, que pediu para não ser identificado, confirmou que houve um aumento significativo da exploração sexual de venezuelanas na cidade.

Segundo ele, a maioria das mulheres atravessa a fronteira diariamente, levada por aliciadores no fim da tarde, voltando para a Venezuela de manhã.

Apesar da situação de crise, a criminalidade não teve um aumento tão grande na cidade, afirmou o mesmo policial.

Os episódios de violência, segundo o agente, geralmente ocorrem entre os próprios venezuelanos e são causados por rixas que já existiam antes de os refugiados cruzarem a fronteira para o Brasil.

Na semana passada, dois homens foram mortos a facadas durante uma briga entre grupos de venezuelanos na cidade.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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