Roberto Alvim: (Youtube/TV Cultura/Reprodução)
João Pedro Caleiro
Publicado em 7 de novembro de 2019 às 17h21.
Última atualização em 7 de novembro de 2019 às 19h35.
São Paulo - O dramaturgo Roberto Alvim será o novo secretário da Cultura do governo Bolsonaro. A decisão foi publicada nesta quinta-feira (07) em edição extra do Diário Oficial da União.
Ele entra no lugar de José Paulo Soares Martins, secretário-adjunto da pasta e secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, que estava no cargo de forma interina há dois meses.
Também hoje a secretaria da Cultura foi transferida do Ministério da Cidadania, comandado por Osmar Terra, para o Ministério do Turismo, chefiado por Álvaro Antonio, indiciado pela Polícia Federal por envolvimento em candidaturas laranja no PSL.
Alvim e Terra têm relação conturbada. O governo vinha estudando uma forma de encaixar Alvim na Cultura, sem tumultuar a relação com Terra.
Roberto Rego Pinheiro, que usa Alvim como nome artístico, atuava como diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Fundação Nacional de Artes (Funarte).
Ele foi proprietário, entre 2006 e junho deste ano, do teatro Club Noir, na Rua Augusta, mantido em conjunto com sua esposa, a premiada atriz e diretora Juliana Galdino.
O apoio do casal à candidatura de Jair Bolsonaro desde o ano passado gerou incômodo em parte da classe artística, atacada pelo hoje presidente e majoritariamente identificada com ideais progressistas.
Em entrevistas, Alvim credita sua reorientação política à descoberta de um tumor no intestino em 2017 e conversão ao catolicismo, além de reclamar de uma suposta perseguição política da esquerda no direcionamento de verbas de fomento.
No final de setembro, Alvim escreveu em suas redes sociais que sentia "desprezo" por Fernanda Montenegro e a chamou de "mentirosa". O motivo foi uma capa da revista Quatro Cinco Um que trazia a atriz de 89 anos vestida de bruxa numa fogueira de livros.
"A 'intocável' Fernanda Montenegro faz uma foto pra capa de uma revista esquerdista vestida de bruxa", escreveu Alvim. "Na entrevista, vilipendia a religião da maioria do povo, através de falas carregadas de preconceito e ignorância. Essa foto é ecoada por quase toda a classe artística como sendo um retrato fiel de nosso tempo, em postagens que difamam violentamente o nosso presidente".
O secretário de Cultura anterior, Henrique Pires, deixou o cargo no dia 21 de agosto, mesmo dia em que o ministro Osmar Terra suspendeu um edital para selecionar séries com temática LGBT para emissoras públicas de televisão.
Em entrevista a EXAME, Pires afirmou que não iria “chancelar a censura” que vem ocorrendo em produções culturais. Já o Ministério da Cidadania afirmou que o cargo havia sido pedido pelo ministro por entender que Pires "não estava desempenhando as políticas propostas pela pasta”.
(Com Estadão Conteúdo)